K Y R A - 1

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As vozes dos Jonins ecoavam dentro do salão, eles estavam irritados porque Naruto estava prestes a se formar na academia. Revirei o olho para deixar muito claro o meu descontentamento com aqueles preconceituosos. Obvio que não eram todos que concordavam com aquilo, mas era irritante ouvi-los, minhas mãos tremiam e as adagas presas às minhas coxas praticamente gritavam para que eu as enfiasse no peito de cada um deles. Observei com ódio um Jonin do clã Saito se erguer diante do vovô e solicitar que prendessem Naruto, que ele podia perder o controle da raposa de nove caudas a qualquer momento e que ele era um perigo para a sociedade.

Irritação explodiu de mim, eu deveria ficar calada e apenas fazer a guarda do terceiro Hokage, mas aquilo era demais. Em um piscar dos olhos me arremessei contra o Jonin e ele caiu com meu peso, a lâmina a centímetros de sua garganta.

- Kyra – o terceiro Hokage rugiu – pare com isso imediatamente.

- Esse desgraçado está realmente sugerindo que prendamos uma criança de treze anos que passou a vida inteira sendo ignorado e xingado por algo que ele nem sabe que existe – berrei sem tirar os olhos de Saito que encarava minhas lâminas com temor – Aquele menino é a razão para todos vocês desgraçados preconceituosos estarem vivos, se a besta não fosse selada dentro dele nem vila mais existiria.

- Já basta, Kyra Sarutobi – O terceiro Hokage ordenou – solte-o imediatamente.

Encarei Saito mais uma vez ponderando rasgar sua garganta bem ali diante de todos, mas guardei as lâminas e sai de cima dele. Eu tinha perdido a razão e a paciência, e eu sabia que o vovô provavelmente me castigaria por aquilo, não por ter defendido Naruto, mas por ter recorrido à violência contra alguém de minha própria vila. Caminhei de volta ao meu posto, todos me olhavam, mas eu não ligava.

Genma sorriu de lado para mim, desconcentrada, cabeça-quente, irritadiça e impulsiva. Quase podia ouvir as reclamações do meu professor e o castigo que ele me faria pagar durante o treinamento por ter passado dos limites. Mas foi outro par de olhos que fizeram minha pele queimar, o olho negro normalmente entediado, a postura relaxada recostada na cadeira girando o pequeno livrinho laranja surrado nas mãos. Os cabelos acinzentados e a máscara de pano que ocultava seu rosto do nariz para baixo.

Kakashi me encarava com atenção, mas eu não conseguia decifrar sua expressão, se era reprovação ou algo mais. Ainda estava nervosa demais para pensar em qualquer coisa coerente. Vovô ergueu o chapéu de Hokage para mim e baixando a voz me dispensou.

- Vá esfriar a cabeça – ele ordenou.

Dei as costas com irritação e sai pela janela pulando os telhados, um após o outro, a cabeça cheia demais. Naruto era uma criança doce, hiperativa, risonha e criativa que teve o destino selado com o ataque da raposa de nove caudas treze anos atrás. A raposa é um espirito de chacra, uma fera com poder suficiente para destruir uma cidade inteira, impossível de matar, para conter seu poder esses espíritos eram selados em seres humanos e existiam em todas as vilas ninjas como armas bélicas. Porém, os habitantes da vila da folha tratavam Naruto como se ele fosse a própria raposa que iria mata-los a qualquer momento, destruir suas famílias e as vilas, esqueciam que aquele pobre menino não tinha escolhido ser o receptáculo de um monstro e que ele mesmo não era a maldita raposa.

Corri para o sul da vila na direção das florestas, eu estava cansada de sempre ter que brigar para defender uma criança, cansada daquela crueldade. Parei perto do rio negro, as margens cheias e molhei o rosto na água fria espantando o calor. Soltei o cabelo longo deixando que o vento esfriasse minha pele, sentei na grama observando as estrelas altas no céu.

A SOMBRA DO FOGO - SAGA DO FOGO LIVRO 01 [EDITADO]Onde histórias criam vida. Descubra agora