A SOMBRA DO FOGO - SAGA DO FOGO LIVRO 01 [EDITADO]

K A K A S H I - 25

- Vai se casar mesmo? – Gai sorriu satisfeito bebericando o chá – quem diria.

Assenti, era estranho dizer aquilo em voz alta, falar que eu estava noivo. A lembrança da reação dela ao anel e ao pedido, tinha sido mais do que incrível. Eu havia passado as duas ultimas semanas discutindo comigo mesmo se estava pronto para dar aquele passo e mais do que isso se estava pronto para encarar um futuro. Toda a minha vida tinha se baseado em cumprir a demanda e manter a excelência, em me afundar em trabalho e treinar sempre mais duro para evoluir.

Meus passatempos eram solitários, eu era um homem solitário e de alguma forma tinha me habituado e aprendido a lidar com minha própria companhia. Agora eu não estava mais sozinho, depois de vinte anos eu podia encontrar alguém em casa me esperando para jantar, alguém que sentiria minha falta enquanto eu estava ausente, alguém que me amava com tanta intensidade que meu passado não a assustava. Os últimos meses ao lado dela foram transformadores, eu passara a falar e externar mais os meus sentimentos. Eu deixara claro para toda a vila que aquela garota era a minha garota.

- Está com medo? – Gai arqueou uma sobrancelha.

- Um pouco – confessei.

Eu não tinha medo de casar com ela, era o pavor de perdê-la que me sufocava, aquele sentimento angustiante de que ela poderia ser tirada de mim. Aquela sombra que eu tentava ignorar para não ficar bitolado. Kyra era uma ninja excepcional e eu sabia que derrota-la não era fácil, mas me deixava ansioso e preocupado quando ela mandada em missões fora da folha.

- Isso não significa que eu vou parar de desafiar você, entendeu? Ainda será meu rival, agora um rival casado, mas ainda rival – Gai anunciou.

- Eu não imaginaria um dia que você desistiria dessa ideia – repliquei.

- Bom, desafiá-lo é o que me mantem em forma – Gai sorriu – e me manter em forma é o combustível da juventude.

- Ah claro – limitei-me a comentar.

Asuma parou diante de nós, o semblante preocupado e apressado.

- Reunião com todos os Jonins, agora – Asuma disse e eu franzi o cenho.

- O que houve? – perguntei a meio caminho do prédio administrativo.

- Alguém morreu – Asuma disse.

O salão de reuniões estava cheio, todos os Jonins reunidos, burburinhos ecoavam pela sala. Caminhei até meu lugar habitual quando o Hokage se levantou de sua cadeira no centro, os conselheiros Homura e Koharu estavam ao lado dele.

- Alguns de vocês podem não ter sabido da noticia, o corpo de Hayate Gekko foi encontrado próximo ao castelo de Kikyo – O grande Hokage falou com pesar.

As vozes se ergueram chocadas e alteradas, cheios de perguntas, suspirei. A minha cabeça martelava com uma dor constante. Meus olhos cruzaram com os de Genma e percebi a expressão dolorida em seu rosto, acabara de perder o melhor amigo, varri o salão com os olhos procurando por Kyra, ela provavelmente iria querer conversar com o sensei, porém não a localizei em lugar nenhum. Anko estava inquieta ao meu lado, os lábios franzidos e o olhar feroz.

- Isso só pode ser coisa do Orochimaru – ela falou baixinho.

- Tão provável quanto possa parecer – comentei – mas não vamos tirar conclusões precipitadas. Nós achamos que Hayate estava no rastro de um espião da aldeia do som, chamado Kabuto. Não há duvida que Orochimaru esteja armando alguma, mas não sabemos com certeza...

- Pois eu acho que deveríamos cancelar as provas chunin e ir atrás do Orochimaru – Um Jonin chamado Raido cortou minha fala.

- Não é melhor não – O grande Hokage comentou – Orochimaru se revelou para Anko e mandou um aviso para não cancelar as provas. Vejam, estas provas uniram os ninjas de todas as nações aliadas.

- O que você acha que ele quer? – Homura indagou para o terceiro Hokage.

- Há duas coisas que sabemos sobre ele, que tem um permanente rancor contra a folha e que seu poder é grande, talvez grande o bastante para esmagar uma aldeia sozinho. Certamente grande o suficiente para que a aldeia prefira tê-lo do seu lado do que contra ela – O Hokage explicou.

- Impossível, nenhuma aldeia da aliança trairia outra e uniria forças com aquele demônio – Raido discutiu.

- Bom, o tratado da aliança é um acordo verbal como qualquer outro como descobrimos durante a última grande guerra ninja – argumentei.

- De qualquer modo até que possamos descobrir mais isso é tudo especulação – O Hokage finalizou.

- Despachamos caçadores Anbu a cada aldeia para coletar informações, seríamos tolos em agir apressadamente. Pode ser exatamente isso que o nosso inimigo almeja – Koharu acrescentou.

- Além disso, tenho plena confiança em cada um de vocês – O terceiro Hokage sorriu para nós – "quando" e "se" a hora chegar juntaremos as forças da aldeia da folha e lutaremos caso seja preciso.

Fomos dispensados e eu aproveitei para caminhar até o hospital, o alvo do Orochimaru não era apenas a folha, era o Sasuke. Eu o encontrei irritado na cama do hospital com todos os fios ligados ao corpo e para minha surpresa Kyra estava lá tentando fazê-lo comer.

- Bom vê-lo em seu humor habitual, Sasuke – comentei me aproximando de Kyra.

- Kyra, quer me fazer engolir essa papa terrível – ele reclamou.

- Precisa comer se quiser treinar – Ela brigou tentando força-lo a engolir a colher cheia que ela apontava para sua boca.

- Eu como, comida de verdade, com gosto...

Kyra enfiou a colher na boca dele quando o garoto começou a discutir, eu ri da expressão desesperada de Sasuke.

- Bom, eu vim para saber seu estado, devemos começar o seu treinamento o quanto antes – expliquei.

- Eu já me sinto melhor, podemos começar imediatamente – Sasuke respondeu.

- Não tão rápido, use o dia de hoje para recuperar um pouco mais as suas forças, o treinamento que faremos não vai ser fácil, eu vou precisar forçar os limites do seu corpo físico e mentalmente, vai me agradecer por deixa-lo descansar mais um dia – Expliquei.

Sasuke assentiu meio a contra gosto, mas pelo menos agora parecia mais inclinado a aceitar a papa branca que Kyra o fazia comer. Saquei o livrinho do bolso, lendo enquanto eles discutiam. Eu estava preocupado com a ameaça de Orochimaru sobre a vila e principalmente a forma como ele estava tão certo de que Sasuke o procuraria.

O menino parecia diferente de quando nos conhecemos, ele passara a se importar com seus companheiros de equipe, mesmo que de forma distante. Eu também me afeiçoei a ele, havia algo em Sasuke que fazia eu me lembrar de como eu era, sentia uma conexão mais forte com ele do que com Naruto ou Sakura.

- Pronto, acabou – Kyra sorriu para ele – não foi tão ruim assim, foi?

- Foi horrível – ele respondeu voltando a se deitar na cama.

- você é mesmo adorável – Kyra provocou com ironia colocando o prato na bancada.

Observei enquanto ela dava um beijo na testa dele, Sasuke corou suavemente e a encarou com carinho. Parece que ela tinha conquistado um pouco do coração rebelde dele. Ela caminhou até onde eu estava e me puxou para o corredor, a expressão séria no rosto.

- Soube de Hayate? – ela perguntou.

Assenti com pesar no olhar.

- Yugao que o encontrou – ela suspirou seus olhos marejados fitando os meus em seguida Kyra me abraçou apertado – não consigo nem imaginar a dor que ela sentiu, se fosse você... Eu...

- Eu estou aqui, estou bem – falei apertando seu corpo enquanto ela fungava – nada vai me acontecer.

- Não pode me prometer isso – ela argumentou me encarando.

Limpei as lágrimas de sua bochecha encostando a testa na dela.

- Você confia em mim? – Perguntei e ela balançou a cabeça em confirmação – então confie no que eu estou dizendo, nada vai me acontecer.

Kyra sorriu e beijou minha bochecha por cima da máscara.