K Y R A - 17

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Estava escuro, um cheiro pungente de enxofre, minha pele ardia e queimava. Ergui os olhos para tempestade de cinzas que caia do céu, queimando tudo ao meu redor, o céu era escuro e infindável, eu estava amarrada e amordaçada. O homem de preto com rosto oculto colocava agulhas em minha pele, embaixo das minhas unhas, meu corpo tremia, o suor e o sangue pegajosos criando uma crosta. Eu gritei, implorei por socorro, implorei por ajuda, por alguém. O homem ria se deliciando com minha dor, eu não conseguia vê-lo, porém conseguia sentir o hálito cadavérico quando ele se aproximava do meu pescoço.

Encarei o vazio à minha frente, a dor não parava, eu queria morrer. A morte seria um acalanto, um golpe de misericórdia. Meu estomago revirou e eu vomitei em mim mesma. Então o chicote desceu sobre minhas costas, uma, duas, três vezes, pontas de ferro no final arrancando pele e sangue. Ele riu alto descendo o chicote mais uma vez, meus músculos tremiam com tanta dor e eu esperei pelo desmaio, eu ansiei por ele. Eu tinha lido em alguns livros que as pessoas desmaiavam diante de dores muito intensas, chorei como uma criancinha. Ele não tinha acabado, senti o arder e queimar em minhas feridas enquanto ele esfregava sal nelas.

O homem me deixou ali, pendurada. Grogue, suada e quase alucinando, me perguntei se teria acabado. Se finalmente eu estava morta ou o mais próximo disso. Então ele arrastou um corpo pequeno amarrado, um corpo de criança e meus olhos encararam os do meu irmão. Debati-me em vão tentando chegar até ele, enquanto o homem enfiava a espada longa em seu coração, o grito de Konohamaru ecoou em cada um dos meus ossos. Depois os olhos da minha mãe, enquanto ela também era morta pela lança sanguinária, eu gritava para correrem, para se salvarem, meu avô chorava sob o cadáver do meu pai e agulhas o espetavam até que apenas suas órbitas vazias me encarassem.

Então era Kakashi, o rosto espancado, o corpo retorcido de maneiras anatomicamente impossíveis, o homem o torturava com mais crueldade. Depois de ficar rouca de gritar, até que mais nenhum ruído conseguisse ser emitido, ele o matou. Eu me afogava naquele breu, caia na escuridão e em seguida tudo recomeçava do zero numa tortura sem fim, numa agonia paralisante. Eu não tinha controle sobre o meu corpo.

Eu estava no inferno, aquilo devia ser o inferno, eu estava morta.

Tudo parou de repente, o som, os gritos, a dor.

- Kyra? – Uma voz masculina, me chamava ao longe, parecia urgente e apressada.

Ignorei a principio, eu não queria seguir a voz, não se fosse me levar para aquela dor de novo, para aquele desespero sombrio.

- Kyra, acorde! – A voz parecia mais exigente e mais próxima agora.

Abri os olhos, a sensação era como se uma capa estivesse por cima das minhas pálpebras e eu tivesse que vencer a resistência, uma claridade forte me fez fechar os olhos novamente. E eu fiz uma negativa com a cabeça, não queria abrir os olhos de novo.

- Está tudo bem – a voz repetiu – fechei as janelas.

Tentei abrir os olhos de novo, eu estava numa cama de hospital, o teto claro e a decoração azul me dizia que eu estava no centro médico de Konoha. Olhei ao redor até registrar a presença do homem na ponta da cama, era o ninja de máscara laranja. Meu coração acelerou, pânico e desespero me tomaram, mas cada uma de minhas articulações parecia em brasa. Meus punhos e tornozelos estavam amarrados.

- Desculpa, não queria te assustar – ele ergueu as mãos na frente do corpo – Não vou te machucar.

- Me solta – pedi, minha cabeça latejava horrivelmente, minha boca estava travosa e rígida como se eu tivesse comido palha.

- Você desmaiou depois da batalha com os ninjas que atacaram a sua comitiva, a lâmina que cortou sua bochecha estava embebida de veneno. Faz quase três semanas que você está desacordada, gritando desesperada. Por isso amarraram você.

A SOMBRA DO FOGO - SAGA DO FOGO LIVRO 01 [EDITADO]Onde histórias criam vida. Descubra agora