K Y R A - 30

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Aproximei-me do corpo desacordado do meu pai, a kunai que eu tinha deixado para servir de conexão estava fincada em seu coração, me ajoelhei diante dele acariciando seus cabelos negros. Os olhos dele se abriram, a respiração estava fraca e descompassada.

- Precisa de um médico com urgência – falei alarmada.

- Não há chance para mim – ele disse com dificuldade – filha, eu tenho muito orgulho de você – ele sorriu fracamente enquanto eu chorava.

- Papai, por favor, não me deixe – eu chorei como uma garotinha.

- Cuide da nossa família, meu amor e seja feliz – ele disse então seus olhos ficaram vazios, as íris sem cor e o peito estático.

Gritei, um choro desesperado e doloroso, abracei o copo do meu pai com força. Eu o amava tanto, ele era minha fortaleza e agora eu o tinha perdido. Os soluços machucavam minha garganta que parecia embolada e pesada, minhas mãos manchadas com o sangue dele enquanto a poça crescia encharcando minhas pernas ajoelhadas, meu peito e braços.

- Kyra – era um de meus Anbu – sei que é difícil, mas precisamos das suas ordens, não pode desmoronar.

Ele estava certo, é claro, me esforcei para ficar de pé, encarando os olhos vazios do meu pai uma última vez. Fechei suas pálpebras e depois puxei seu corpo para uma área mais protegida. O sangue do meu pai marcava minha pele inteira, a raiva era o meu combustível, era o que me mantinha de pé. O ódio inumano, a fúria quase bestial deixava minha visão vermelha. Abri as asas de Sina e me posicionei para fazer minha fúria se derramar na barreira ninjutsu que o patife do Orochimaru tinha criado. Encarei horrorizada ele invocar dois enormes caixões de madeira e deles saírem os cadáveres do primeiro e segundo Hokage.

Jutsu da reencarnação impura, o desgraçado tinha aprimorado algo totalmente proibido e tenebroso. Vovô me olhou um instante, então ativei o hiraishin marcado na pele dele e apareci ao seu lado. Arreganhando os dentes e me posicionando. Vovô tocou meu ombro.

- Kyra, essa é a minha batalha – ele disse com sua voz sábia – uma luta que já deveria ter acontecido a muito tempo, fechei meus olhos para as atrocidades dele e agora veja onde paramos. Preciso de você lá fora, protegendo a vila.

- Eu falhei vovô – falei encarando seus olhos com culpa - permiti que você fosse capturado. Encarei os restos do camarote abaixo dos meus pés, o corpo morto do meu pai, o homem que eu considerava imbatível e tão grande nunca esteve tão pequeno – falhei em salvar o que mais importava.

- Está errada, minha querida – vovô disse com sabedoria – eu não importo, as crianças a quem entregaremos a vila são importantes, elas são o verdadeiro legado que deve ser protegido. Vá, proteja a vila dos aliados de Orochimaru, que dele eu cuidarei.

Eu hesitei, não queria deixa-lo, eu não podia suportar perde-lo. A dor e a impotência me consumiam. Mas a firmeza em seus olhos me dizia que aquilo não era um pedido, era uma ordem do meu Hokage. Fiz uma reverência para ele e apertei sua mão. Reativei o hiraishin para aparecer ao lado de Genma na arena.

"Minha senhora, não comece a duvidar ou se culpar, estamos no meio de uma invasão. Existe uma razão para o seu avô ser o Hokage, não o trate como se ele já estivesse morto" A voz de Sina ecoou na minha mente. Ela tinha razão, eu precisava confiar no meu avô. O esquadrão Anbu assistia a batalha abaixo, tentando encontrar maneiras de invadir a barreira.

Olhei em volta, percebendo que os Jonins lutavam na arena, e Genma enfrentava Baki. Três jiboias gigantes invadiam a parte sul da aldeia, peguei o ponto de alcance de um dos corpos desacordados e dei as ordens de evacuação e controle. Mais seis ninjas se juntaram a Baki, Genma precisava da minha ajuda. Empunhei as adagas.

A SOMBRA DO FOGO - SAGA DO FOGO LIVRO 01 [EDITADO]Onde histórias criam vida. Descubra agora