K A K A S H I - 8

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 Me xinguei durante todo o trajeto até a casa dela, errado, aquilo era um desastre eu não era assim. Por que eu não conseguia ter o controle da situação? Que feitiço era aquele que ela exercia sobre mim? Encarei seus olhos como dois espelhos, surpresa e pesar enchiam sua expressão. Kyra parecia desconfortável e inquieta, os sentimentos dela eram estranhos, porque ela estava agindo assim tão travada e hesitante? O que tinha acontecido antes que eu chegasse? Meu nariz identificou muitos cheiros ainda no cômodo, mas um se sobressaia além dos demais e se enroscava nela. O cheiro de Genma.

Todo o meu corpo se retesou, parece que tinha sido um erro muito grande. Ela franziu os lábios, o braço direito enfaixado.

- Desculpe se interrompi alguma coisa – comentei estreitando os olhos, tentando ver por cima do ombro dela se Genma ainda estava lá.

- Não interrompeu nada – ela disse abrindo passagem para que eu entrasse.

Alivio percorreu meu corpo e eu me recriminei, eu não tinha muitos direitos sobre ela. A caixinha com o colar parecia pesar uma tonelada no bolso da minha calça e eu me senti um idiota por ter comprado aquilo, por pensar em um gesto afetuoso daqueles sabendo que não iria dar em nada.

- Eu não agradeci você pelo que fez – comecei – não tinha necessidade de ter se atirado na frente daquela lâmina, mas obrigado mesmo assim.

- Percebe que você me criticou bem mais do que agradeceu? – ela riu com escárnio – Porque é tão difícil para você reconhecer o meu afeto?

Porque eu não sabia fazer isso, eu quis gritar, eu não sabia ser afetuoso, não sabia o que dizer para ela ou o que demonstrar para ela. Parecia que tudo era muito complicado e cheio de nuances. Fiquei quieto observando seus olhos, inerte e impotente, tentando resolver aquele enigma diante de mim. Eu sabia técnicas shinobi, sabia lutar, sabia criar estratégias em batalha, sabia comandar esquadrões e finalizar missões perfeitamente executadas. Meus índices de perdas eram quase zero. Então por que eu não conseguia exprimir aquelas palavras para ela?

- Feliz aniversario – falei bobamente e me inclinei para porta – Obrigado.

Kyra bloqueou o meu caminho a expressão feroz em seus olhos, ela parecia furiosa.

- Não, você não vai vir aqui no dia do meu aniversário e simplesmente agir distante e indiferente – ela falou – por que teve que vir aqui? Queria me machucar?

- Eu nunca tive intenção de lhe machucar – expliquei com calma.

- Tem um cara incrível que me ama, sabia disso? Um cara que quer me fazer feliz, que quer ficar do meu lado – ela rugiu encarando meus olhos.

- Então devia ficar com ele – falei aquelas palavras como se queimassem em minha língua, mesmo que não fosse a minha vontade, era a maldita verdade.

- Não posso – Kyra falou meio perdida, os olhos marejados.

Ela era pelo menos um palmo menor do que eu, mas naquele momento ela nunca parecera tão pequena e desamparada.

- Não posso ficar com ele porque meu coração idiota só quer você – ela completou e eu arfei surpreso – porque cada parte minha lhe pertence, porque eu só consigo pensar em você. E dói, Kakashi, dói ver você aqui diante de mim e saber que você não sente da mesma forma, dói estar no mesmo lugar que você, dói vê-lo tão perto e ao mesmo tempo tão distante.

Seus olhos cor de chocolate pareciam ainda maiores, as bochechas coradas e as lágrimas solitárias que escorriam por seu rosto. Toquei seu rosto, limpando suas bochechas, os olhos de Kyra se fecharam e eu me aproximei mais dela. Odiava saber que estava lhe causando dor. Baixei a máscara de pano e toquei seu nariz com o meu, a boca dela entreabriu como um reflexo e passei a língua por seus lábios. Ela arfou em minha boca e naquele instante ignorei completamente o mundo lá fora e as consequências daquele gesto.

A SOMBRA DO FOGO - SAGA DO FOGO LIVRO 01 [EDITADO]Onde histórias criam vida. Descubra agora