A SOMBRA DO FOGO - SAGA DO FOGO LIVRO 01 [EDITADO]

K Y R A - 19

O pesadelo veio igual a todos os outros, aterrorizante e vívido, cada uma das pessoas que eu amava sendo massacrada e torturada. O barulho do chicote reverberava em meus ossos e minha carne. Meu peito tremia e o choro era estrangulado quando fitei o teto do quarto, suor banhava minha pele assemelhando-se a sangue, acordei no meio da noite desesperada e enjoada. Corri para o banheiro colocando para fora o desconforto no meu estomago. Meus músculos tremiam enquanto eu vomitava. Kakashi correu para onde estava ajoelhada e prendeu meus cabelos, as mãos fazendo um carinho suave e constante nas minhas costas.

Quando parei de vomitar sentei no chão gelado do banheiro, as lágrimas em meus olhos. Então Kakashi pegou um copo de água me forçando a beber e me hidratar, seus braços se fecharam a minha volta e ele continuou fazendo um carinho suave em meus braços, sussurrando baixinho uma canção de ninar enquanto eu chorava.

- O veneno me fazia ter visões – comecei tomando fôlego – cenas terríveis em que eu assistia você e os outros serem mortos e machucados.

- Estamos todos bem agora, meu amor – ele sussurrou beijando minha testa – você está bem e segura.

Fiquei quieta ouvindo o coração dele bater no peito, sua pele quente espantando o frio aterrorizante de antes. A lua iluminava parcialmente o banheiro, mas as sombras não me assustavam, com ele ali, eu não tinha medo. Relaxei em seu colo e Kakashi me levou de volta para cama.

- Está com medo de dormir, não é? – ele perguntou preocupado.

- Um pouco – confessei.

Kakashi me colocou na cama e me puxou com firmeza para seu corpo, me envolvendo e mantendo o carinho em meus braços. Ele começou a contar sobre a missão no país das ondas, tentando me distrair do terror, ouvi atenta enquanto ele detalhava a implicância entre Tazuna e Naruto durante todo o caminho de ida. A história de como Gato havia feito o monopólio comercial da vila e como o sonho de Tazuna de construir a ponte era na realidade um marco de esperança para aquelas pessoas. Kakashi explicou o treinamento de controle de chacra que fez com os garotos e como suspeitávamos Sakura se saiu muito melhor, mas que vê-los se esforçarem em comunhão causou uma espécie de trégua entre Sasuke e Naruto.

Então ele explicou sobre Zabuza e o jovem Haku. Virei-me alarmada em sua direção.

- Você enfrentou um dos sete espadachins da névoa e só está me contando agora? – o encarei irritada.

- Não foi nada demais, estou vivo e bem, é o que importa – ele sorriu para mim.

Bufei chateada e ele riu alto terminando de contar sobre a batalha na ponte e como Naruto tinha mudado o coração de Zabuza pouco antes de sua morte.

- Ele tem esse dom incrível não é? – Comentei sorrindo – de fazer a gente querer ser melhor.

- Acho que sim – Kakashi deu de ombros – ele ainda é meio debilóide e precipitado, mas talvez essas sejam as suas marcas ninja.

Eu gargalhei com aquela sentença e fiquei quietinha nos braços dele, eu estava segura pensei comigo mesma, eu estava com Kakashi e nada poderia me atingir ali. Nada poderia me machucar se estivermos juntos, inspirei seu cheiro de sabão de coco e permiti meus músculos relaxarem. Fiquei contando as respirações dele até adormecer.

*

O céu estava em um tom de cinza que indicava uma tempestade chegando, caminhei até o centro administrativo, pronta para receber os relatórios da prova chunin. Três dias inteiros tinham se passado desde a alta do hospital. Os pesadelos pareciam menos assustadores agora e mesmo quando eu acordava de madrugada ainda tinha o calor de Kakashi me envolvendo e assegurando que estava tudo bem, o que tinha diminuído o pânico e a vontade de vomitar. Isso também contribuiu para que meu peso começasse a voltar ao normal e o aspecto doentio começasse a desaparecer.

A reunião com o vovô começaria em breve, Ibiki, Anko e Hayate deveriam se apresentar e os demais chunins que trabalhariam como fiscais. Saquei as plantas da vila e o nome de todos os ninjas que foram escalados para fazer a guarda durante a primeira prova. Os comunicados sobre o exame tinham sido emitidos e enviados as demais vilas ocultas.

- A primeira fase do exame será responsabilidade de Ibiki Morino – O terceiro Hokage apontou – deverá acontecer nas salas de aula da academia como o habitual.

- Ainda teremos que receber a relação de equipes de cada vila, mas eu tenho alguns nomes para indicar referente aos fiscais, nós sabemos como adolescentes podem ser rebeldes – suspirei entregando onze nomes ao Ibiki.

- Rebeldes são sempre os primeiros a desistir, Sarutobi, e eu vou garantir que esse ano a safra seja bem proveitosa – Ibiki comentou.

Encarei seu rosto cheio de cicatrizes, aquele homem tinha passado por tanta coisa, torturado e machucado. Ele era responsável pela divisão de tortura e informações da vila, ele era tão bom no que fazia que não precisava sequer recorrer a tortura física. Ibiki se aproximou um pouco mais de onde eu estava e baixou a voz.

- Como está se sentindo? – ele quis saber – soube do veneno.

- Está difícil dormir a noite inteira, mas estou tentando – sorri fracamente em sua direção.

- Chá de rosas acalma suas terminações nervosas e permitem que seu corpo consiga relaxar o suficiente para dormir, não a livra dos pesadelos, mas aos poucos seu consciente processa o trauma – Ele disse com sabedoria.

- Obrigada, Ibiki – sorri agradecida, ele mais do que qualquer outro parecia entender.

Ibiki entregou a prova ao vovô para ele avaliar e um sorriso esperto apareceu em seu rosto, imaginei o quão difícil aquelas questões estavam para forçar os moleques a conseguir as informações de todas as formas. Anko se adiantou explicando as regras estabelecidas na segunda fase do exame, a floresta da morte era uma das mais difíceis, treinamento de sobrevivência e sem nossa interferência costumava virar um campo de massacre. Equipes adversárias tendiam a aproveitar a escuridão da floresta para resolver suas diferenças. Para a segunda fase eu separei alguns Anbu para patrulhar o perímetro, eram mais treinados em se manter invisíveis e nenhum interferiria no exame.

- Estou mesmo ansiosa para ver o que temos de bom esse ano – Anko sorriu animada, a língua passeando entre os dentes.

Por ultimo foi Hayate, suas olheiras pareciam tão ruins quanto as minhas, e seu corpo todo tremeu com um acesso de tosse. Caminhei até onde ele estava.

- Precisa de alguma coisa? – perguntei preocupada.

- Não, estou bem agora, Kyra – ele sorriu.

A terceira etapa eram as batalhas individuais entre aqueles que sobrevivessem a segunda prova. Era a fase importante, onde estariam os senhores feudais, empresários e líder de famílias importantes no país do fogo e demais nações. Para a terceira prova meu sistema de posicionamento era mais rígido, postos espalhados ao longo da vila e novas estratégias de evacuação em caso de ataques. Visitas estrangeiras sempre nos deixavam tensos e alertas, não confiávamos nas outras vilas.

- Acho que isso é tudo, vou solicitar uma reunião com os Jonins sensei no final da tarde para saber quais dos genins são elegíveis para o exame – Vovô nos dispensou.