1. Lugar Nenhum

96 3 1
                                    

Não lembro o dia que aconteceu, apenas sei que aconteceu.

Até aos meus nove anos, não sabia o nível do mal que assolava a cidade de Gotham, apenas sabia que era um lugar caótico. Também não sabia o segredo mais profundo que meus pais escondiam de mim. Talvez eles não escondiam, minha cabeça infantil só não queria ver a verdade.

Poucos dias depois de eu completar dez anos, a nossa casa foi inundada por agitações. Caixas saindo e entrando, homens esquisitos rondando de um lado para o outro. Não sabia quem eram aqueles homens, só sabia que trabalhavam para o meu pai.

Alguns dias depois do início da agitação, eu e meus pais fizemos as malas e saímos às pressas de casa. Não sabia o motivo, na época achava que iríamos passar férias juntos como eu sempre sonhei, hoje em dia percebo que estávamos em fuga.

Era dois carros, meu pai foi no primeiro, cheio de homens com armas. Fui com minha mãe no segundo, também enfurnado de homens armados. Questionei sobre o quê estava acontecendo. Mamãe falou que iríamos nos mudar porque nossa casa não era mais segura. Como toda boa criança, não questionei, apenas fui viagem a dentro brincando com um bonequinho de palhaço que tinha um compartimento secreto. Meu único presente de aniversário de dez anos.

Não demorou até nosso carro ser interceptado, não por policiais, e sim por bandidos, foi nesse dia que enxerguei a verdadeira face dos meus pais, a que eu recusava ver.

Só lembro do carro capotando e o som de tiros. Tudo ficou escuro, e quando recobrei a consciência, estava em um quarto completamente cinza, do teto ao único móvel no lugar - uma cama de ferro com colchão. Não existia janelas, apenas um buraco de ventilação no teto e uma porta de ferro maciço com barras no topo, onde só dava para ver o teto branco do que seria um corredor e um facho de luz.

Eu não lembro direito do que fiz no primeiro dia de confinamento. Devo ter gritado e chorado, lembro apenas de ter surgido uma bandeja de comida no chão; ter devorado seu conteúdo e deitar no chão em posição fetal.

Odiava minha nova realidade, mas não culpo mais meus pais por ter sido raptada e colocada como recompensa enquanto acontecia uma guerra entre os mafiosos da cidade - na qual minha família era a líder. Se o mundo nunca tivesse fechado-se para mim, eu nunca teria ansiado tanto para querer enxergá-lo.

Punchline - Derradeira OrigemOnde histórias criam vida. Descubra agora