13. Gás do Riso

32 3 0
                                    

A clínica ficava em uma região monótona da cidade. Quase como se estivesse "escondida" dos olhares alheios. O prédio era bem simples. A faxada com o nome do lugar mal chamava a atenção.

Quando entrei, uma mulher aguardava pacientemente na recepção.

- Bom dia, quero falar com o Doutor Prudence - me dirijo a recepcionista.

- Tem hora marcada?

- Não senhora. - Falo ao mesmo tempo que tiro um envelope do bolso. - Mas tenho um documento importante para entregá-lo.

Ela me analisa por um momento antes de responder.

- Qual sua idade?

- 13 anos.

- Não acha que é muito velha para brincar com coisas sérias?

- E eu devo mostrar a verdade apenas quando eu era mais nova? - mantive o semblante impassível enquanto colocava o envelope em cima do balcão - Não tenho pressa.

Vou até as cadeiras de espera e pego uma revista da uma mesa de centro. A mulher pensa por um momento antes de pegar o envelope.

- Qual o seu nome? - a recepcionista para na porta do consultório.

- Pode me chamar apenas de Alexis, o doutor vai saber que eu sou.

Três minutos depois, a recepcionista volta do consultório com a expressão mais medonha que eu já vi no rosto de uma pessoa.

- O doutor irá vê-la, senhorita Alexis. - ela fala com um tom cortante na voz.

O consultório era um espaço pequeno. Composto de uma mesa com três cadeiras e uma poltrona odontológica ao lado. As paredes estavam recheadas de prêmios e diplomas, além de apetrechos cirúrgicos e medicamentos.

Na mesa, sentado na terceira cadeira, um homem de jaleco branco me encarava friamente.

- Bom dia, doutor - sento na cadeira à sua frente.

- Que piada é essa!? - ele estende o meu envelope aberto.

O conteúdo da carta revelava uma cópia do documento de trasporte das drogas. O papel não citava nomes, mas o rosto do médico já entregava tudo.

- O senhor está assustado, significa que o conteúdo da carta lhe pertence.

- Você é mesma filha dele...

- Exatamente.

- Eu juro que tomei o cuidado para que isso não acontecesse e...!

- Eu não quero saber sobre as drogas, esse papel é apenas uma garantia - falo, interrompendo o médico.

- Garantia?

- Por que a clínica se chama Prudence? - me estico na cadeira para parecer mais confortável.

- É meu sobrenome... - ele estava assustado.

- Pelo que sei, o nome verdadeiro do senhor é Carlos Prince.

Uma gota de suor surge na testa do médico.

- Seus pai é louco por ter mandado a própria filha me interrogar.

- Não tenho nada a ver com ele, vim por conta própria - me inclino para frente - Quero que o senhor me mostre todos os compostos que já produziu.

- Isso é sério?

- Isso parece uma brincadeira? - dou dois tapinhas no envelope em cima da mesa.

Fico calada, esperando alguma reação enquanto ele pensava.

- Quando?

- Pode ser agora.

- Agora!?

- Eu não tenho nada para fazer e também percebi que sua sala de espera não vive lotada.

Ele bufa e pega uma chave na gaveta de sua mesa. Fazendo sinal para segui-lo, saímos de sua sala, se dirigindo a recepção.

- Marie, feche o consultório mais cedo, eu tenho... um imprevisto.

A mulher alterna o olhar entre o médico e eu, mas não faz objeções. Carlos troca seu jaleco por um sobretudo e me conduz até os fundos da clínica. Ele destranca uma porta pesada - vigiada por uma câmera - e adentra o lugar.

Era uma espécie de laboratório. Uma mesa comprida estava recheada de utensílios de manuseio químico. Nas várias prateleiras que existia, frascos com rótulos pareciam não ter fim, todos sendo recipientes adequados para compostos líquidos e gasosos.

- Você consegue, sozinho, fazer um carregamento de drogas inteiro?

- É minha especialidade - ele acende uma luz, revelando um corredor abarrotado de outros frascos.

- E não é perigoso ter isso tudo atrás da sua clínica?

- É justamente por ser óbvio de mais que as pessoas não suspeitam de nada.

Não precisei fazer pergunta nenhuma. Carlos parecia gostar de compartilhar seu conhecimento com outra pessoa. Ele falava enquanto passava pelas prateleiras e mostrava os frascos. Cada rótulo possuía o nome do composto e sua fórmula química, mas um frasco estranho chamou minha atenção.

- O que é aquele? - Aponto para um frasco em meio a outros, porém, diferentemente, seu rótulo não possuía nome, apenas um sorriso desenhado.

Lembrava muito o sorriso do meu antigo boneco de palhaço.

- Ah, esse - ele pega o frasco e me mostra - você sabe que antigamente os dentistas usavam gás do riso para aliviar as dores dos pacientes, com o surgimento dos anestésicos, esse gás ficou obsoleto, mas ele ainda tem alguma utilidade letal.

- E por que esse não tem nome e nem composição?

- Já ouviu falar do Coringa, o Principe Palhaço do Crime?

Quando era mais nova, eu me mantinha alheia aos crimes de Gotham. Depois de descobrir que os crimes estavam bem em baixo do meu nariz, me mantive a par de tudo de ruim sobre a cidade.

- Sei quem é, ele foi preso dois anos atrás no Asilo Arkham.

- Ele possui uma modificação do gás do riso e extremamente letal. Estou tentando recriar essa fórmula, mas ainda não obtive o efeito desejado.

O frasco era translúcido, não dando para distinguir direito o gás da embalagem, mas o recipiente parecia hipnotizar minha cabeça.

- Posso ficar com ele?

- O quê!? Está louca!? Não é o gás original mais ainda é uma coisa perigosa.

- Eu sei, quero ajudar, apesar de eu não ser uma médica formada, mas são coisas assim pela qual procurei o senhor.

O doutor me olha com espanto, segurando o frasco mais apertado na sua mão.

- Eu tenho uma garantia - sussurro para ele.

- Está bem! Tenha cuidado quando for manejar, vai precisar dos equipamentos certos - ele me entrega o recipiente.

- Não se preocupe.

Fico no laboratório até o anoitecer. Antes de ir, agradeço ao doutor Prudence pela companhia e falo que irei procurá-lo de novo caso eu precise de mais coisas.

Infelizmente eu não tinha um laboratório em casa, então teria que usar o do colégio por um tempo. Pena que a instituição não permitia alguns produtos químicos e nem equipamentos mais avançados, mas tudo isso eu poderia dar um jeito de conseguir.

Punchline - Derradeira OrigemOnde histórias criam vida. Descubra agora