19. Encontro

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Ele veio atrás da isca.

O gás subiu três andares do prédio, entretanto, como era imune, Coringa chegou até a cobertura pela escada dos funcionários.

- Eu sabia que existia ratos no meu esconderijo.

Não me viro para olhá-lo. A paisagem lá em baixo chama mais atenção.

- E você caiu na minha ratoeira.

Ele dá uma risada. Escuto seus passos pararem bem atrás de mim.

- Que criança bagunceira você é. A polícia está desesperada lá em baixo.

- Você nunca se divertiu na infância?

- Não sei, não lembro de nada da minha infância, ha ha.

Coringa anda até a borda do prédio e olha para baixo com um sorriso psicólogo de orelha à orelha.

- Devo admitir que foi um trabalho bem feito, então lha darei a chance de fazer eu mudar de ideia ou falar suas últimas palavras. Nessa cidade existe apenas um Palhaço do Crime.

Ele puxa uma arma de dentro do sobretudo e aponta - com o braço estendido - para a minha direção. Pude ver nitidamente a bala no cano, o que significava que ele estava mirando minha cabeça.

Não fico nervosa. Sabia exatamente que o Coringa era como uma bomba relógio. Eu tinha apenas duas escolhas, tantar desarmá-la ou deixar que exploda.

Eu queria que ela explodisse, entretanto, não em cima de mim.

- Não é lindo? - Aponto para as ruas. - Parece um rio lavando os prédios. Acha que apenas um rio pode mudar o mundo?

- Isso não era o que eu queria ouvir - seu sorriso vacila.

- Não, mas a partir do momento que você me deu a chance de mudar seu plano em me matar, significa que uma pequena parte do seu ser não quer realmente fazer isso.

Ele fica confuso e depois cai na gargalhada. Não consigo segurar e deixo um sorriso preencher meu rosto.

- O Batman tem o Robin, por qual motivo eu deveria ter um rato? Ha ha.

- Um simples rato conseguiu lavar quase a Europa inteira no passado.

Ele gargalha novamente.

- Gente útil está escassa hoje em dia. Vou estender seu prazo por causa disso, então prove para mim que merece carregar meu sorriso para o rosto das pessoas.

- Qual a garantia?

- Sua vida, ha ha ha.

- E o tempo?

- De quanto tempo precisa?

- Quatro anos.

Coringa ri tanto que deixa a arma vacilar.

- Você me mata de rir. Ha ha ha. Você é mais que um rato, é uma piada já pronta. Espero que não me decepcione no fim desses quatro anos.

E eu espero que ele não me decepcione por perder quatro anos.

Percebo que o ambiente fica escuro por um momento. Uma sombra se projeta no chão aos nossos pés.

- Ha ha, os problemas chegaram!

Olho para trás. Uma sombra negra tapava o sol que tocava o horizonte.

Faltava poucos metros para o Batman atingir o topo do prédio onde estávamos.

Coringa gargalha, ficando de braços abertos na borda do prédio, esperando a chegada do homem morcego. Corro para a porta dos funcionários e desço as escadas. O gás estava dissipando, mas ainda existia o suficiente para permitir que ninguém entrasse na área.

Saio do local pela porta dos fundos e levanto uma tampa velha de bueiro para fugir pelos esgotos.

O círculo estava fechado. Coringa me deu a chance de ajudá-lo com meus planos. Uma chance de mudar o mundo.

Agora eu precisaria ser cuidadosa. Precisava dele na palma da minha mão enquanto demonstrava o contrário. Uma cobra tentando morder outra cobra. Uma disputa de piadas.

Ele me consagrou no momento que me comparou com uma piada, porém, sou mais do que isso. Eu sou o fim de uma era; a moral de uma história; o punchline¹ de uma piada.

Punchline.

Gostei de lembrar da conotação da palavra. Talvez eu a guarde para um futuro próximo.






¹Punchline, no inglês, significa a última parte de uma história ou uma piada que explica o significado do que aconteceu anteriormente ou o torna engraçado.

Punchline - Derradeira OrigemOnde histórias criam vida. Descubra agora