9. Novo Dia

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Minha cabeça vagava do inconsciente ao consciente. Cenas da minha vida vagavam como um filme em um cinema. Algumas eu lembrava, outras nem sabia que existiam.

Não queria morrer. Lutei muito contra a vontade de cometer suicídio durante meu cárcere que não aceitava o fato depois de finalmente ter alcançado a liberdade.

Minha cabeça emergiu na realidade, fazendo-me acordar com um sobressalto. Meu corpo doeu por inteiro com o movimento, mas ajudou minha mente a voltar para os trilhos.

Ver tudo branco de novo quase me desesperou, mas percebi que uma janela deixava entrar uma brisa suave no lugar. Estava em um quarto de hospital.

Minha mão e perna estavam engessadas. Eu estava viva.

Deitei na cama e fiquei olhando para o teto.

Com certeza meus pais saberiam que eu estava ali. Tudo voltaria ao normal, mesmo minha vida nunca tendo sido normal.

Sentia falta do meu amigo colorido e silencioso. Ele me ajudou e eu matei um homem por ele. Talvez tenha matado dois homens, não importava, eles eram peões naquele jogo de tráfico. Peças descartáveis quando seus chefes não os queriam mais, assim como eu era descartável para os meus pais. Nem tiveram a disposição de colocarem uma recompensa maior por mim...

Lágrimas corriam pela face. Não sabia o motivo delas. Não sentia nenhuma emoção aparente.

Não queria mais ser jogada de lado como os peões. Quero ser notada. Não aguento mais a solidão.

Foi prazeroso ver a expressão de surpresa dos dois homens, o que matei e o que se jogou no chão. Eles perceberam que eu era mais que uma peão. Mais perigosa... Os raptores viram minha importância.

Eu era a rainha, precisava virar a rainha. Infelizmente, na vida, quem eram o rei e a rainha nesse jogo eram papai e mamãe. Pessoas quebradas em uma cidade devastada. Queria poder mudar esse futuro...

Eu poderia mudá-lo.

Virar a rainha que vai descartar as outras peças, as peças importantes. Descartar os reis e as rainhas quebradas. Concertar o jogo, consertar a cidade!

Naquele momento percebi o quanto amava meus pais. Eles tinham uma coisa que me pertencia, só precisava confirmar minha dedução.

Precisava voltar para casa.

Punchline - Derradeira OrigemOnde histórias criam vida. Descubra agora