17. A Realidade de Um Lunático

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Coringa para de andar e senta-se calmamente em cima da mesa.

- Doutor Prudence, eu nem me incomodo com o fato do senhor ter colocado a culpa em mim, o que realmente me incomoda é saber que um paspalho como você conseguiu recriar a minha fórmula.

- Na... não... fui... eu. - As palavras saem sem força na boca do médico.

- Desculpa, doutor, não escutei direito.

O palhaço ri enquanto usa o polegar para pressionar o corte na testa de Carlos. O homem solta um grito tão agonizante que quase pude sentir sua dor.

- Não foi... eu!!!

- O senhor trabalha sozinho, então, quem mais pode ter feito?

A boca de Carlos se meche, mas nenhum som sai dela.

- Sabe doutor, faz tempo que ando tentando mudar as coisas. Sabe o quanto é difícil se destacar nessa cidade? O quanto a corrupção assola o país? Eu venho tentando buscar minha identidade, uma identidade que pessoas como o Batman roubam dos outros. - Ele pula da mesa e se agacha perto do médico. - Porém, tudo começa com vocês, pessoas que se dizem honestas e acabam roubando a identidade dos outros. Tente mudar o mundo e é ele que acaba mudando você.

Carlos ficou ali, sem responder, olhando para um ponto distante.

Prestei toda atenção no discurso do Palhaço do Crime. Aquilo era realmente o que ele pensava ou apenas mais um fragmento de uma mente doentia?

Devo admitir. Fiquei tocada. Não era por isso que eu estava lutando? O motivo de eu ter aceitado minha realidade. Uma chance de ver as coisas mudando.

Até onde iria a realidade de um lunático? Talvez nem exista uma realidade, apenas acontecimentos e fatos.

- Senhor Prudence, você precisa de um médico, ha, ha, ha!

O corpo de Carlos escorrega para o lado, deixando sua cabeça meio inclinada. Seus olhos semimortos levantam-se demoradamente e conseguem encontrar os meus.

Fico estática, encarando. O rosto cansado do médico, uma vez que encontra o meu, muda sua fisionomia para uma máscara de horror.

- Ah... - Ele tenta levantar o braço mas acaba caindo no chão, seu rosto fica estático com a mesma expressão horrenda.

Estava morto. Seus olhos sem vida penetravam o meu ser mesmo depois da morte.

- Cruzes, parece que você viu um fantasma.

Coringa vira a cabeça lentamente na direção onde os olhos mortos do doutor estavam apontando.

Nervosa, saio do meu esconderijo e começo a correr. Percebo uma agitação nas minhas costas, entretanto não paro para olhar para trás. Pulo a janela, acertando o chão com força. Meu corpo dói, mas levanto mesmo assim e começo a correr.

Carlos Prince estava morto. Uma morte bem merecida, apesar do meu envolvimento. Queria poder escutar mais um monólogo do Príncipe Palhaço, porém com certeza eu serei a próxima do seu alvo. Ou não.

Uma coisa eu tinha de admitir. Precisava dele. Um psicopata impulsivo que tinha vários planos já prontos na cabeça. Eu poderia conseguir influência e equipamentos ao meu favor. Seria suicídio apresentar-me para ele. O próprio Coringa teria que vir até mim.

Tinha sobrado muitos tanques de gás do riso no meu estoque.

Papai ficaria triste em saber que seu fornecedor de drogas desapareceu.

Punchline - Derradeira OrigemOnde histórias criam vida. Descubra agora