Aquela manhã eu perdi a hora. Costumava estar de pé às sete para me arrumar e chegar no treino ali pelas nove horas. Treinava cerca de seis horas por dia, incluindo sábados e domingos. Não era fácil ser uma atleta de nível olímpico. E era ainda mais difícil quando seu patrocinador era o dono da Stark Industries. Ele não joga o dinheiro fora. Se eu não me mantiver à altura da exigência, estou fora dos projetos de filantropia. Em dois anos estarei competindo nas Olimpíadas do Brasil disputando o arco e flecha. Com o valor da minha bolsa eu havia comprado um arco composto simples e um conjunto com boas flechas. Eu treinava nas horas vagas no quarto extra que eu tinha no apartamento pago pela empresa.
Alguns, às vezes, pensam que sou infeliz dessa forma, quase sem tempo para saídas, baladas e coisas assim. Às vezes sinto falta da rotina de alguém de 21 anos, mas a maior parte do tempo eu vivo para o meu esporte e isso me completa. E no dia anterior eu havia treinado as seis horas de rotina, voltado para casa, alimentado meu gato, jantado uma porção de comida japonesa do restaurante em frente, assado quatro travessas de cupcakes, porque eu simplesmente adoro aqueles programas de decorações de bolos e essas coisas, então acabou se tornando um hobby. Depois me fechei no meu quarto de treino. Ali eu treinaria mais umas três ou quatro horas. Mas naquele dia o treinamento no centro tinha sido tão intenso que eu me lembro apenas de ter sentado na poltrona de couro que fica num canto e pegado no sono.
E naquela manhã eu perdi a hora. Muito, muito atrasada. Acordei com o som de algo que parecia uma bomba. Meus olhos percorreram o quarto procurando a fonte do barulho, passando pela cama encostada a um canto onde meu gato havia resolvido que moraria, pela escrivaninha onde haviam alguns livros, canetas, meu ipod, e meu computador ligado e tocando música... como eu havia dormido com a música naquele volume, não sei. E então meus olhos encontraram o relógio digital. Onze horas. Merda.
Antes que eu pudesse levantar da poltrona, outra explosão chacoalhou todo apartamento. Liguei a TV de 90" que ficava acoplada a parede. Presente do exagerado do Tony. E para meu susto a programação havia sido substituída por uma cena de filme. Nova York estava em chamas. Caos e destruição, prédios desabando, policiais correndo, civis correndo, prédios sendo evacuados. Os Avengers estavam no meio do caos, dizia a repórter, tentando chutar os invasores, mas sem muito sucesso. Mostraram cenas rápidas do Hulk colocando abaixo um enorme monstro voador, Tony usando sua armadura chutando coisas com aparência humanoide, Capitão América ajudando a resgatar crianças em meio ao caos. Eu desliguei a TV. Agarrei o celular e disse com a voz trêmula.
— Potts! — O celular me mostrou uma foto da Pepper sorridente com seus cabelos vermelhos e iniciou a discagem. Ela atendeu no primeiro toque.
— Liana! Liana! Seu celular vai direto na caixa de mensagens! Onde você está?! — disse completamente alarmada. Ela parecia em pânico e eu nem sequer tinha olhado para fora ainda.
— Em casa — respondi. Ela soltou uma exclamação baixa. Eu moro no centro. Estava bem no meio da confusão. — Mas está tudo bem comigo. Onde você está? Eu vi o Tony no meio de tudo...
— Estou em um abrigo da S.H.I.E.L.D. Estou bem. Precisamos tirar você daí! Eu vou mandar um helicóptero te buscar! Você sobe e fica no heliporto do pré..
— Peps... — a interrompi. A situação devia ser pior do que eu esperava. — Se você mandar um helicóptero ele vai ser abatido assim que entrar na cidade. E de qualquer forma eu não posso simplesmente ficar lá fora e esperar...
— Tem razão... — concordou, recuperando um pouco da racionalidade. — Mas eu preciso te tirar daí. — Ela estava desesperada.
Acho que esqueci de mencionar que a Pepper é o mais próximo de família que eu tenho. Somos até meio parecidas na verdade. Os mesmos cabelos ruivos, embora os meus sejam a prova viva de que eu odeio chapinhas, sendo ondulados. Olhos castanhos e pele branca coberta de sardas. A única diferença marcante é que Pepper tem corpo escultural enquanto eu sou magra como uma vareta e tão comprida quanto uma. Eu realmente acho ela linda. Mas talvez seja um pouco de influência do quanto eu gosto dela, já que somos meio parecidas ela não pode ser tão bonita assim. E se ela estava nervosa eu precisava acalmá-la. O noivo já estava no meio de tudo. Ela não precisava se preocupar comigo também.
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God of Mischief | Loki
FanfictionLiana estava se preparando para a competição da sua vida, aquela que definiria sua carreira na arquearia. Ela vivia para isso. Mas durante a batalha de Nova York se viu cara a cara com o deus da trapaça e teve seu apartamento destruído por Hulk. Dep...