Capítulo 14 - Dueto de armas

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 O planador bateu com força contra o chão, quicando duas vezes antes de parar, foi necessário agarrar as bordas para não ser arremessada para fora. Estávamos em uma região montanhosa e abaixo havia vilarejos e campos onde o gado era criado. Loki desceu e eu o segui de perto. Ele retraiu o veículo no disco e o guardou no bolso.

— Onde...? — comecei a perguntar.

— Vanaheim — cortou, entendendo minha dúvida. Depois de tanto dizer que eu era dali finalmente conheceria o lugar. Loki olhou ao redor e começou a caminhar próximo ao paredão. Achou uma fresta na rocha e passou por ela. O esperei do lado de fora. Quase dez minutos depois ele colocou a cabeça para fora. — Passaremos o resto da noite aqui. Amanhã resolvo o que vamos fazer — decretou categórico, voltando para dentro. Suspirei cansada. Não era uma boa ideia discutir agora. O jeito seria aceitar permanecer naquele buraco.

Eu quase caí para trás quando passei pela fresta da parede. O interior definitivamente não era um buraco qualquer. As paredes eram feitas de mármore branco e liso, havia uma grande cama a um canto sem nenhuma coberta, uma lareira que ele tentava acender e uma enorme pilha de livros cheirando a mofo no fundo. Olhei visivelmente surpresa. Ele sabia que aquele lugar estava ali. Aquilo tudo era dele.

Assim que fez o milagre de acender a lareira com uma madeira terrivelmente úmida, levantou, tirou a cota de couro e a capa pendurando-as em um cabideiro, apoiou a lança na parede e se sentou ao lado da entrada vigiando a montanha. Ergueu os olhos para mim e fez um gesto com a mão indicando que eu poderia ficar à vontade. Passei por ele e me sentei na beirada da cama. Ficamos em silêncio por uma meia hora. Ele dobrou um dos joelhos e tinha o cotovelo apoiado sobre ele, a mão fechada em punho apoiando a boca.

— Você vai me ajudar? — perguntei, enfim. Não havia outra maneira de abordar o assunto e ele não parecia ser muito favorável a rodeios. Loki inclinou a cabeça para trás, a apoiando na parede e me olhando seriamente. Por fim sorriu de um jeito debochado.

— Achei que estivéssemos quites. — Percebi que eu adorava a maneira como ele alongava as sílabas das palavras. Mas agora, quites? Pelo quê?

— Foi você quem me colocou naquela confusão toda! — acusei, direta. O sorriso dele não esmaeceu.

— A sua raça tem tendência a esquecer as coisas, mas achei que você ainda fosse muito nova para isso. Que eu me lembre, salvei sua pele. Não coloquei você em problema nenhum — rebateu inclinando a cabeça num falso tom de inocência.

— Bom... foi — concordei, derrotada. – Mas eu também te ajudei. Você seria executado se não percebeu — lembrei-o, perdendo a paciência. Eu tinha vindo até ali para quê? Loki riu baixo com escárnio.

— Achei que tivesse feito isso como retribuição por eu ter te tirado do meio daquela floresta — redarguiu sem se alterar. — Sabe, como se esperaria de uma pessoa honesta.

— Bom, então talvez eu não seja tão honesta — argumentei sem me importar. — Até porque você me tirou da floresta devido a sua grande personalidade altruísta, não foi? — Ele riu novamente, dessa vez com algum divertimento. Minha raiva o divertia e isso me irritava ainda mais. Um ciclo vicioso. — Eles acham que estou com você — contei, afinal. O príncipe levantou parecendo calmo, caminhou lentamente, as mãos para trás, o corpo suavemente inclinado na minha direção.

— Eles acham o quê? Que você se voluntariou para me ajudar em alguma coisa? Que eu precisaria de uma humana imunda? — atirava as palavras em mim como se fossem facas. — Acharam que eu, de todas as criaturas no universo, escolheria uma humana, você, como aliada? — disparou bruto, saboreando minha expressão de desgosto pelo discurso dele.

God of Mischief  | LokiOnde histórias criam vida. Descubra agora