Capítulo 16 - Fogo e Gelo

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Quando chegamos, cambaleei desequilibrada como acontecia sempre. O frio me atingiu como um murro na boca do estômago. Devia fazer uns vinte graus negativos com facilidade e eu estava muito mal agasalhada. Chegamos a um penhasco feito de gelo puro, e a nevasca caindo me fazia deslizar para o lado. Heimdall estava nos mantendo em locais ermos. Olhei para Loki que tentava ver alguma coisa. Ele começou a avançar em direção à parede oposta do penhasco, distante cerca de trinta metros de onde estávamos. Tentei acompanhá-lo, mas meus coturnos deslizavam naquele chão. Chamei o nome dele gritando, tentando me sobrepor ao vento. Eu deslizava e quase caía a cada passo e o deus não me ouvia. Olhei para os meus pés cogitando arrancar as botas, mas imaginei minha pele colando ao gelo. Não seria legal. Pensei em ajoelhar e tentar engatinhar. Muita humilhação.

A mão dele surgiu diante do meu rosto estendida. Olhei dela para seus olhos, e ele gritou algo que fui incapaz de ouvir. Segurei-a e Loki me puxou para frente deslizando sobre o gelo, me parando ao lado dele.

Loki continuou naquele lento progresso, avançando alguns poucos passos e depois me puxando para frente. Ele não parecia cansado, mas por algum motivo eu sentia uma vontade enorme de dormir. Podia ser ali mesmo. Quando chegamos ao paredão eu conseguia avançar colocando as mãos dormentes nele e me puxando para frente. Ele avançava com tanta naturalidade que me causava inveja. Era como se fosse adaptado para aquele tipo de clima.

Loki se virou e me puxou pelo pulso para em seguida me empurrar pela cintura em um buraco na parede. Por um segundo achei que poderia ser uma das casas dele, com uma lareira quentinha me esperando, mas era apenas uma caverna sem nada. Ao menos protegeria do vento. Eu estava congelando. Minha respiração saía rascante e custosa em uma névoa que pairava a minha frente.

Ele entrou em seguida e sentou-se próximo a entrada, como sempre fazia. Fiquei em pé tremendo. Ali estava tão frio quanto do lado de fora e a ausência de vento não melhorava muito. O deus encostou a cabeça, protegida pelo elmo dourado, na parede de gelo e voltou os olhos para mim.

— Vai ficar em pé? — indagou em uma voz tão vazia quanto a caverna na muralha. Deslizei pela parede e sentei no chão. Abracei meus joelhos tentando fazer o corpo tremer menos.

— Você não tem uma casa aqui?

— Se eu tivesse, você acha que estaríamos no meio do gelo? — Eu não precisava responder. A questão é que eu estava realmente congelando. Tremia tanto que algum desavisado poderia achar que estava convulsionando.

Ficamos em silêncio por alguns minutos e eu lutava contra o frio e um sono pesado que teimava em tomar conta de mim. O ar parecia congelado, pois simplesmente não entrava nos pulmões em quantidade suficiente. Eu estava letárgica, porém não reclamaria. Bastava ele me considerar algo completamente inferior. Aos olhos de Loki eu era como uma barata, não precisava achar mais um motivo para ele se irritar. Me encolhi ainda mais e puxei a barra curta do vestido fininho tentando tapar um pouco mais por cima da calça. Em vão.

Loki me olhou pelo canto dos olhos por alguns segundos. Às vezes eu gostaria de saber o que ele pensava. Podia imaginar como a fila para algo assim devia ser extensa. Simplesmente não conseguia tirar os olhos dele. O príncipe asgardiano despiu a cota de couro sem falar nada, ficando apenas com a camiseta de linho, e a jogou para mim. Nem me ocorreu a possibilidade de recusar. Me enfiei dentro dela e lentamente me senti um pouco melhor, mas não o bastante.

O elmo desapareceu de sua cabeça alguns minutos mais tarde e ele a tornou a apoiá-la na parede olhando para o teto gelado da caverna.

— Você não sente frio? — Indaguei numa voz tão trêmula quanto meu corpo.

— Não — respondeu, fechando os olhos.

— Todos os deuses são assim?

— Não — repetiu monossilábico.

God of Mischief  | LokiOnde histórias criam vida. Descubra agora