"O transtorno de apego reativo é caracterizado por um padrão de comportamentos de vínculo extremamente perturbados e inapropriados em termos do desenvolvimento infantil, nos quais a criança rara ou minimamente recorre de preferência a uma figura de apego para obter conforto, apoio, proteção e carinho. A característica essencial é a ausência ou um vínculo grosseiramente não desenvolvido entre a criança e os supostos cuidadores adultos."- (DSM-V)
No dia seguinte acordo cedo mas o Noah não está deitado ao meu lado. O único sinal que ele voltou a casa durante a noite foi o facto de ele ter deixado a roupa que usou ontem numa cadeira e o seu lado da cama estar desfeito. Pego no telemóvel e tento ligar-lhe mas a chamada vai diretamente para o voicemail. Deixo-lhe novamente uma mensagem, que se junta às milhentas que lhe mandei ontem à noite antes de adormecer, mas não posso esperar por ele porque tenho uma aula bastante importante esta manhã.
Quando regresso a casa eram cerca de 2.00pm e mal abro a porta sinto um aroma bastante específico, mas que nunca tinha sentido aqui no sótão. Isto cheira a.... Não pode ser....
Entro em casa e encontro o Noah deitado na cama mas com os pés na cabeceira e a cabeça nos pés da cama. Na sua mão vejo um charro e percebo que as minhas suspeitas estavam certas: cheirava a erva.
"Noah..."- chamo por ele.
Ele levanta a cabeça lentamente e olha para mim, abrindo um sorriso rasgado.
"Olá, amor!"- ele diz lentamente. Ao chegar à sua beira consigo perceber que os seus olhos estão bastante vermelhos.
"Não sabia que fumavas..."- deixo a frase em aberto porque também não o quero pressionar. Já vi que essa abordagem não resulta com ele tendo em conta o que se passou da última vez que ele saiu de casa sem dar justificações. Ao menos desta veio dormir a casa.
"Só quando a vida demonstra que é uma merda..."- ele diz simplesmente- "Porque é uma merda! A minha vida é uma merda!"
"O que se passou? Porque é que dizes isso?"- sento-me à sua beira e ele oferece-me o charro mas eu nego com a cabeça.
"Provavelmente não vais querer saber... É melhor nem saberes! Vais ver o falhado que eu sou e vais deixar-me e por muito que a minha vida seja uma merda, não posso perder a única coisa boa que tenho..."
Passam-me mil pensamentos pela cabeça. O que é que me pode fazer mudar de ideias acerca do seu carácter? O que é que me faria deixá-lo?
Resposta simples: traição, mentiras, homicídio... Não dizendo que também não lhe daria um chuto se ele me viesse com merdas de cultos e rituais satânicos. Não julgo, mas não são a minha cena...
"Noah, há muito pouca coisa que me faria mudar de ideias sobre ti..."- começo a fazer-lhe festas no cabelo.
"Só dizes isso porque não sabes... Não sabes o que eu fiz..."- ele acaba com o charro e começa a chorar, enterrando a sua cabeça nas minhas pernas.
"Noah..."- afago o seu cabelo na tentativa de o acalmar mas ele chora incontrolavelmente.
"E foi por isso que ela... Mas eu não tive escolha... Eu tinha que ir... Tinha que fugir."
Fugir? Fugir de onde? Fugir de quem? Estou tão confusa... Mas por um lado não o quero bombardear com as 500 mil perguntas que me estão a passar pela cabeça.
"Fugir do quê?"- digo no tom mais calmo que consigo formar.
"Dos meus pais... E agora o Jack vem falar como se nada tivesse acontecido... Como se ele não tivesse assistido a toda aquela tortura..."
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The Boy Upstairs
RomanceApós um problema na canalização do seu apartamento, uma estudande de psicologia vê-se obrigada a habitar no sótão do prédio... o que ela não sabia era quem se iria cruzar no seu caminho...