"A apresentação clínica do transtorno de estresse agudo pode variar de acordo com o indivíduo, mas em geral envolve uma resposta de ansiedade que inclui alguma forma de revivência ou reatividade ao evento traumático."- (DSM-V)
Ava POV
"Parabéns a você... Para o menino Tyler, uma salva de palmas."- acabamos de cantar os parabéns ao nosso primeiro filho, que faz apenas três anos.
"Assopra as velas, amor."- eu digo enquanto o Noah o ajuda a apagar as 3 velinhas pequeninhas que decoram o bolo da patrulha pata.
Damos um abraço coletivo, eu, o amor da minha vida e o ainda maior amor da minha vida, o nosso pequeno rebento.
"Tyler, anda aqui à madrinha Victoria, vamos tirar umas fotos..."- a Victoria chama por ele.
"Até já mamã e papá."- o pequeno diz e corre para os braços da madrinha.
Ainda é tão pequenino e já parece saber bem o que quer, já escolhe os brinquedos, já pede a comida que prefere, adora tudo o que implicar tirar fotos, adora a praia e o melhor de tudo: adora música. Desde que tem meses que a voz do Noah é o melhor remédio, seja para cólicas, para quando está aborrecido ou até para adormecer. Ainda me lembro do dia em que contei ao Noah que estava grávida, acabei na água gelada. Adoecemos os dois quase uma semana no entanto era uma felicidade imensa.
"Em que tanto pensas, minha miúda?"- o Noah diz-me ao ouvido após me abraçar por trás.
"No nosso pequeno! Ele é tão lindo, um autêntico homem de meio metro... Ele é tudo que sempre desejei."- digo ainda observando a sessão de fotos da Vic com ele.
"Sim ele é, mas é parecido comigo..."- ele diz e eu viro-me para ele.
"É nada, já viste bem aqueles olhos? São os meus, nem tentes..."- ele nega e resmunga de volta.
"Qual é a voz que ele mais gosta? A minha. Qual é a cor do cabelo dele? Castanho. Qual é lugar preferido dele na nossa cama? O meu. Estás em desvantagem, amor!"- reviro os olhos.
Somos interrompidos pela campainha. Temos alguns amigos nossos cá em casa, mas não falta ninguém que tenha sido convidado.
"Eu vou lá!"- digo.
"Okay! Eu vou à casa de banho entretanto!"
Sigo até à porta e abro-a dando de caras com um homem loiro, um pouco mais velho que eu, com um pormenor interessante na sua aparência: tinha um olho azul e outro castanho. Notava-se que esteve a chorar. Estava acompanhado de uma menina linda, de olhos azuis e loira que devia ter cerca de 5 anos.
"Boa tarde! Em que posso ajudar?"- digo após um silêncio demasiado constrangedor.
"Boa tarde, é aqui que vive o Noah Irwin?"- ele pergunta.
"Sim..."
"Ele está?"- assinto e ele continua, sem me dar tempo de questionar mais nada- "Posso entrar?"- quero mesmo dizer que não, afinal ele é um completo estranho à procura do meu marido, mas o estado dele é mau e eu como psicóloga não consigo evitar. Para além disso, também está cá imensa gente e ele não iria fazer nada de mal a tantos.
"Quem é o senhor?"- questiono.
"Jack, Jack Irwin."- ele diz estendo-me a mão e eu congelo.
O irmão do Noah? Ele vai se passar...
Avisto o Noah a vir da casa de banho e a pegar no nosso menino ao colo enquanto gargalham os dois e reparo que as lágrimas do Jack se intensificam. O Noah repara nele e congela no lugar.
"Papá? ... Papá?"- reparo que o meu filho começa a ficar assustado pela falta de reação do Noah. Pego nele.
"Noah..."- o Jack diz num sussurro.
"Jack, que raios fazes aqui? Como sabes onde eu vivo?"- ele aproxima-se mais do irmão, sempre com uma postura rígida.
"Uns amigos da infância disseram-me. Tens um filho lindo..."- ele diz.
"Que lata tens tu para falar do meu filho. Deves gostar de crianças de repente, queres ver..."- o Noah é ligeiramente sarcástico.
"Adoro, uma em particular..."- ele puxa a pequena que o acompanhava que se tinha escondido atrás das suas pernas- "Esta é a Clary, a tua sobrinha!"- o Noah relaxa, ligeiramente- "Vai cumprimentar o tio amor..."- ele diz carinhoso para a menina e ela obedece.
O Noah abraça a pequena dando-lhe um sorriso e falando para ela.
"És muito bonita! Queres brincar com o teu primo Tyler? Vai com ele até ao cantinho que tem balões."- a menina encara o pai que assente como que a dar autorização.
"Noah... Eu preciso de ti."- o Jack diz.
"Que lindo... Eu e a Clary também precisávamos de ti..."- é interrompido.
"Oh Noah, quem é que achas que chamou a polícia? Quem é que os denunciou? Sim foi anónimo, mas fui eu... Foi demasiado tarde sim eu sei e peço que algum dia me possas perdoar por isso, mas eu tive medo de ser acusado de ser cúmplice... Antes de ti era eu o bombo deles..."- o Noah não está capaz de dizer uma única palavra- "Sim, na altura achei justo... Tu devias sofrer como eu... Mas depois vi como as coisas pioraram, tentei denunciar, mas se eu o fizesse vocês morriam os dois... Eu não podia, simplesmente não podia..."- ele diz passando a mão pelo cabelo tal como faz o meu marido- "Perdoa-me."
"Noah?"- eu falo e ele olha para mim e agarra a mão que eu lhe tinha estendido de modo a dar-lhe força, já que ele também chora demasiado.
"A Josie... A minha mulher, ou melhor, ex-mulher, tentou bater na nossa filha, e foi aí que eu percebi o cobarde que fui. Deixei que a Clary e tu sofressem, perdi-a... Ambos a perdemos... E ainda nos perdemos como irmãos..."- ele pausa para limpar a cara e a sua camisola estava escura de tão molhada- "Noah... Se não for por mim, pela Clary ... Precisamos de ti, do teu apoio.... Eu não tenho ninguém."- o Noah fecha os olhos e respira fundo.
"Porquê? Ela não merecia Jack, independentemente de tudo, podias ter-me dito... Juntos iríamos... Sei lá... Fugir? Denunciá-los?"- o Noah não consegue acabar a frase, corre e abraça o irmão.
Agora sou eu que choro incessantemente, eu e algumas pessoas presentes que desconheciam a péssima infância do Noah. Os irmãos retiram-se para se recomporem e falarem mais em privado, já eu observo os pequenos: o meu menino e a minha sobrinha. Duas crianças inocentes, que conseguem transportar tanto amor com elas.
A noite é mais animada, o Jack vai ficar cá esta noite pelo menos, e os nossos amigos já foram embora. As crianças já dormem e nós vamos seguir os mesmos passos.
É meia noite, isso significa aniversário do Noah.
"Parabéns meu Amor!"- digo beijando-o.
"Obrigado, meu amor!"- ele agarra-me pela cintura.
"Tens aqui a tua prenda... A primeira, pelo menos..."- entrego-lhe uma caixa que contém um teste de gravidez positivo e uma ecografia de gémeos.
Sim, vamos ter mais dois rebentos.
Ele sorri e vejo lágrimas a formarem-se nos seus olhos ao perceber o que significava aquele presente. Ele abraça-me e beija-me apaixonadamente, deixando cair o cartão que vinha na caixa que tinha escrito The Love of My Life- The Boy Upstairs (O amor da minha vida- O rapaz lá de cima).
VOCÊ ESTÁ LENDO
The Boy Upstairs
RomanceApós um problema na canalização do seu apartamento, uma estudande de psicologia vê-se obrigada a habitar no sótão do prédio... o que ela não sabia era quem se iria cruzar no seu caminho...