Capítulo 5

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"o transtorno obsessivo-compulsivo é um transtorno crónico caracterizado pela presença de obsessões e/ou compulsões, que consomem ao menos uma hora por dia, e causam sofrimento ao paciente e/ou seus familiares." - (DSM-IV)

"Mas que merda, Ava?"- pergunta surpreendido. 

"Tu só tens de me dizer o que precisas que eu trato de tudo..."- choro agarrada a ele.

"Vá tem lá calma, pára de chorar..."- ele faz-me festinhas nas costas para me acalmar e ficamos ali abraçados tempo infinito até que eu consigo controlar o choro.

"Ai desculpa, molhei a tua camisola toda..."- digo quando me afasto e percebo a nódoa que se formou na sua t-shirt devido às minha lágrimas.

"Não há problema nenhum... Mas vá! Vais explicar-me o que provocou esta crise de choro?"- pergunta, olhando-me com curiosidade.

"Eu percebo que nós não nos conhecemos há assim tanto tempo mas eu preocupo-me e fico triste como fico por um estranho, sabes? Essa doença é uma merda..."

"Do que é que estás a falar? Que doença?"- pergunta confuso.

"Custa-te dizer a palavra de C?"

"Palavra de C?"

"Tu sabes... Cancro..."- digo envergonhada.

"Cancro?"- ele dá um berro- "Onde é que foste buscar isso?"

"Não te zangues, não foi propositado... Eu vi-te no serviço de Oncologia hoje quando tive de ir ao hospital. "

"Não acredito..."- ele parte-se a rir.

Será que está a ter uma crise psicótica? Ele está a rir-se desalmadamente, já com lágrimas nos olhos de tanto rir, e até está a segurar a barriga. 

Eu fico apenas a olhar para ele sem perceber a reação.

"Tu ficaste a pensar que eu tenho cancro? Porque me viste ali?"

"A verdade é que me disseram que o grupo em que tu estavas ia começar a quimioterapia... Tu já fizeste quantas sessões?"

"Eu não tenho cancro, Ava! Pelo menos não fui diagnosticado com nada... Mas que merda?"- ele ri-se novamente.

"Não estou a perceber..."

"Lá andas tu a saltar para conclusões... Eu estava lá porque faço voluntário naquele serviço..."

"Ah?"

"Eu vou lá algumas vezes por mês para estar com as pessoas enquanto elas fazem quimio. Muitos deles não têm ninguém que possa estar com eles naquele momento e eu vou lá, jogo às cartas, leio com eles, coisas do género..."

"Ai não acredito! Porra, Noah!"- grito e começo a bater-lhe no peito.

"Calma, calma! Tu é que tiraste conclusões precipitadas e agora vens bater-me?"

"Estou furiosa! Eu já estava a pensar que tu ias morrer e ia ajudar-te a cumprir os teus últimos desejos...."

"A sério? Isso é de génio!"- ele ri-se e eu continuo a bater-lhe enquanto ele se tenta desviar entre gargalhadas.

"Estou tão zangada que nem sei o que fazer!"- digo quando me canso de lhe bater.

"Sabes o que eu faço quando estou demasiado possuído por alguma emoção?"

"O que?"

"Escrevo! Ponho em papel o que estou a sentir. Algumas das minhas melhores letras surgiram em momentos assim..."

The Boy UpstairsOnde histórias criam vida. Descubra agora