Cartas na mesa

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POV Ana

Chegamos a praia por volta de 20 minutos depois. O caminho foi tranquilo, Júlia veio tagarelando como sempre e, animando ainda mais eu e Chiara.

-Filha, vem aqui passar mais um pouquinho. -Chiara chamou, enquanto balançava o pote. Ela encharcou Júlia de protetor solar mais uma vez. -Agora fica embaixo do guarda sol. -Chiara disse ao ver que Júlia estava se afastando da sombra.

-Como você é exagerada italiana! A menina já está toda branca, parece um pinguim! Sem contar que ela está de vestido e de chapéuzinho. -Digo, e logo em seguida sinto o olhar de Chiara queimar sobre mim.

-Depois que ela estiver chorando, toda queimada, você não ouse vir me reclamar! -Chiara diz um pouco brava. Santa chiara da braveza!

-Calma aí italiana, eu só estava brincando. -Digo com as mãos para cima tentando acalmar seus nervos. Chiara apenas dá de ombros. Vejo Chiara se movimentar para pegar o celular, mas Júlia foi mais rápida ao interromper ela.

-Não mamma, nada de celular! -Júlia diz com os bracinhos cruzados. Eu teria que ralar muito pelo visto, porque Júlia era a cópia perfeita de Chiara, só que ainda mais brava quando queria. Chiara olha para Júlia e levanta a sobrancelha, como se fosse um "sério?" e Júlia repete a mesma expressão da mãe. Bingo! Chiara suspira cansada e guarda o celular na bolsa.

Como era possível alguém ficar mais linda a cada dia? Chiara já não era mais uma menina, algumas marcas de expressões já eram notórias em seu rosto, mas isso estranhamente me deixava ainda mais atraída por ela. Seus olhos verdes tomavam uma tonalidade ainda mais bela no sol, o que era encantador para uma grande admiradora dos seus olhos como eu. Quando Chiara finalmente encontra seus olhos aos meus, sinto que minhas pernas já não teriam mais forças para nada. Me sentia fraca e desnorteada com o seu olhar sobre o meu, o que era contraditório, porque a coisa que eu mais amava no mundo era quando eu tinha atenção daqueles olhos só para mim.

-Eu preciso te contar algo. -De repente uma onda de coragem veio até mim. Eu precisava contar da minha situação com Letícia. Não esperava que ela aceitasse, mas não poderia ser covarde o suficiente para ficar com ela sabendo que daqui uns dias ou semanas uma notícia sobre o meu "relacionamento" com Letícia apareceria na mídia. Chiara põe seu olhar sobre o meu e franze o cenho, ela parecia preocupada.

-O que foi? Você parece aflita. -Ela coloca sua cadeira mais perto da minha.

-Eu tenho que te contar uma coisa... -Chiara nada disse, apenas acenou a cabeça para que eu continuasse. -E-eu terminei...terminei com a Letícia. -Chiara arregalou os olhos. -Masnão totalmente. -Vejo ela cerrar os olhos e prestar ainda mais atenção. -Eu terminei com Letícia. Não temos mais um relacionamento, mas ela me pediu para que não tornasse isso público ainda. Ela está bastante ativa na mídia, e sabe que se algo vazar agora poderia ser muito prejudicial a sua carreira. -Chiara escutava tudo com atenção. -Eu e ela não temos mais nenhum tipo de relacionamento, a não ser a amizade, mas eu não poderia negar ajuda ela. Entende? -Pergunto.

-Sim, claro! eu entendo. -Ela disse seca.

-Não é tão ruim assim, nós só vamos ter que pousar para algumas câmeras e aparecer em alguns eventos juntas. Talvez um selinho ou outro, mas nada demais.

-MACHE? -Ela disse quase gritando. -Você acha que beijar alguém é "nada demais" Ana Carolina? -Ela disse puxando o "r" por conta do nervosismo.

-Não! Digo, sim! Mas não! -Chiara me olha incrédula. -Não vai ser de verdade! Eu não amo Letícia, eu amo você! -Chiara parece ter sido pega de surpresa, pois demorou alguns segundos para formular uma nova frase e me responder.

-Questo è pazzesco... -Ela colocou as mãos dentre os fios do cabelo, enquanto apoiava os cotovelos no joelho. Ela ficou assim durante algum tempo, ela estava processando tudo aquilo ainda e, eu também. Aproveito o silêncio e passo meu olhar ao redor para reparar Júlia, vejo que ela ainda está brincando na areia com seus potinhos debaixo do guarda sol. A essa altura ela já tinha tirado o chapeuzinho da cabeça por causa do calor, estava distraída o suficiente para não conseguir prestar atenção no nosso assunto, e eu agradeceria por isso.

-Certo, mas o que pretende conseguir me contando isso? -Chiara disse baixo, quase inaudível.

-Eu só quero deixar claro que eu vou passar por essa situação chata durante um tempo, mas que isso não anula o fato de eu amar você com todo o meu ser. -Digo.

-Quanto tempo? -Ela pergunta.

-Oi?

-Quanto tempo? -Ela olha nos meus olhos. -Quanto tempo essa situação?

-3 meses. -Chiara ri desacreditada.

-Certo. -Ela diz simplesmente.

-Certo? certo o que Chiara? -pergunto.

-Eu vou ficar com você, Ana Carolina! Eu vou aturar essa situação patética por sua causa, então não ouse me fazer de boba. -Ela diz, e sinto que meu peito poderia rasgar naquele instante. Ela tinha me dito sim, eu finalmente ficaria com a mulher que amo! Não oficialmente, claro! Mas, já era o suficiente.

Pego na sua mão tentando acalmá-la. Vejo sua cabeça levantar aos pouquinhos, seus olhos verde esmeralda miram os meus, e ela solta um lindo sorriso. -Eu te amo! -Disse.

-Eu também te amo! -Ela sorriu de leve e se aproximou, deixando um beijo em meus lábios, mas rapidamente se afastou de forma brusca. Estranhei o jeito com que ela terminou aquele momento.

-Não podemos fazer isso, você agora namora a Letícia! Vai que tenha algum paparazzi. -Ela explicou.

-Droga, não sei se vou me controlar com você ao meu lado! -Brinco.

-Ah, vai sim! -Ela sorri largamente. -Agora vá ali naquele quiosque... -Ela se referiu ao estabelecimento que ficava atrás de onde estávamos. -E me traga uma caipirinha, porque depois disso tudo... -Ela suspira. -Eu preciso beber!

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