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Eu dormi chorando e, para piorar, eu tive pesadelos onde era morta pelo ATEEZ ao colocar o primeiro pé no barco deles.

Poderia ser só um pesadelo assim, mas eu, cada vez que fechava os olhos depois de puxar desesperada o meu ar, vinha a mesma coisa. Parecia tão real ao ponto de me faltar o ar todas as vezes.

Eu odeio pesadelos.

Acabei me levantando, não por vontade própria, mas só porque eu tinha a garganta seca. Me dirigi até a pequena cozinha, que sinceramente nem parecia mais uma cozinha, mas que ainda tinha garrafas de água numa pequena arca frigorífica portátil.

Quando roubávamos, roubávamos bem.

Assim que a água chegou em minha boca, eu me aliviei. Tentei esquecer aqueles pensamentos enquanto bebia a garrafa inteira, seria uma de minhas refeições, então não poderia deixar a barriga vazia.

Depois, subi até o convés, vendo o sol ainda com poucos raios presentes. Estava amanhecendo.

Quando eu era mais nova, meu pai falava que se acordássemos antes do nascer do sol poderíamos pedir um desejo, mas até hoje eu não tive nenhum realizado.

E naquele tempo, durante alguns dias eu pedi para ver minha mãe, mas não tive nada.

Os desejos não se realizam, apenas são um mito, assim como pedir um desejo a estrelas cadentes... Nunca vai se realizar.

Talvez eu fosse um pouco cruel de pensar desta forma e também haverá alguém que pergunte: "Porque quer tanto ver a mãe? Ela nem pirata é". Provavelmente as pessoas que me falariam desse modo ou tem a mãe para tudo e mais algo, sendo uns completos mimados, ou então não dão valor à mulher que os colocou no mundo. Isso me dá raiva. E lembrar que meu pai é desse tipo, que não dá valor e ainda por cima era um total mimado, é ainda pior.

Realmente eu gostava de ter um sinal de vida dessa mulher, saber como ela é e onde ela está. Será que ela me reconhece como filha dela? Tantas perguntas, mas todas sem respostas e sem quem responda.

Me sentei no convés que estava limpo e senti a brisa marítima, estava suave então fechei meus olhos, aproveitando a mesma. Não era das minhas coisas favoritas, mas às vezes só precisamos de uma coisa simples para nos sentirmos melhor.

Me levantei quando ouvi uma risada estranha, sentia alguém próximo do barco e eu não iria perdoar se não fosse algum dos meus marujos ou tripulantes. Eu enfiaria minha espada na barriga ou pela garganta, só por ter interrompido meu momento de calmaria.

— Quem está aí? Saiba que se não for nenhum daqui você morre. — eu podia estar paranóica, mas eu tinha toda a certeza que tinha ouvido alguém rir.

Uma onda fraca conseguiu com que o barco tremesse e eu, sem nenhuma explicação, não consegui aguentar e caí até um dos barris arrumados desalmadamente. Não me machuquei, mas estava totalmente à toa com o que estava acontecendo do nada.

— Se acalma, vai que não é nada e sim paranóias por ter tido um pesadelo. — me levantei depois de falar para mim mesma e vi alguém subindo o convés. Era meu pai.

— Quero que me faça uma coisa, querida filha. — seu tom de voz era rouco, claramente havia acabado de acordar. — Se você pensou em fazer algo hoje, cancele tudo isso, sua missão poderá nos fazer entrar em crise. - eu tinha uma sincera impressão que ele estava se referindo ao que falou ontem enquanto eu fingia dormir.

Eu olhava ele tentando não explodir. Queria estar calma, pois se eu gritasse ele poderia ficar louco, pois acabou de acordar, conheço bem meu pai e já presenciei com outras pessoas, que infelizmente o mar que as contém algures.

— Porque não manda um dos marujos? Se algum deles morrer ninguém vai notar. — meu pai levantou de leve a mão, num sinal para eu me calar, e claro que eu tive que obedecer.

— Esta missão é especial e só você conseguirá cumprir, pois você é uma mulher. — eu queria não me sentir ofendida, mas me senti.

— Vai me fazer de oferenda para o ATEEZ? O quê? Quer que eu case com um deles para ficar com os tesouros partilhados? Nunca pensei isso de você. E ontem você tinha razão. Vai me colocar na boca do lobo, só porque quer os roubar! — eu não aguentei mais não poder falar nada. 

Ele me olhou sério e com sua feição eu pensei que ele poderia me dar algo assemelhado a um tapa, como qualquer coisa comum entre pai e filha, mesmo que não seja correto. Mas ele permaneceu quieto, me olhando daquela forma intensa.

— Ou vai, ou morre. — eu quis desabar naquele momento, eu nunca pensei que ele pudesse me fazer uma coisa dessa por vontade dele mesmo. — E não lhe admito mais nenhuma vez fingir que está dormindo só para escutar as conversas e depois me atirar à cara. Me dê sua mão. — estendi minha mão, já esperando a punição mais clássica que tinha neste barco. 

"Um pirata nunca mente" era nosso lema, e eu sem querer me intrometer em algo por causa do carinho que estava recebendo, fingi, o que equivale a uma mentira.

— Vou ser brando, pois nunca mentiu. -— eu senti dor quando ele pressionou a pequena navalha, até minha mão estar devidamente cortada. Ele poderia simplesmente passar a navalha e assim cortar, mas ele punia fazendo pressão sem mexer a mesma de um lado para o outro, o que era mais torturante. — Agora vai passar a água do mar nisso para sentir a mais pura ardência e assim aprenderá a nunca mentir para um pirata, sobretudo quando ele é seu pai. — segurei meu pulso, olhando minha mão agora com um corte e o sangue saindo. Estava doendo e eu sabia que iria doer mais.

Saí do barco e por obrigação e vigilância de meu pai passei a mão na água, logo tirando quando senti a ardência.

— Coloque aí até eu mandar tirar. Não tem tubarões nesses mares, se sinta com sorte. — voltei a colocar minha mão lá, tentando não tirar antes de ele mandar. Estava doendo, mas eu teria que aguentar.

Minutos para mim viraram séculos e, quando meu pai falou para eu tirar, eu senti um alívio enorme, pois realmente, mesmo aquilo "estando curado", estava ardendo demais.

— Agora suba e pegue as armas que te vou disponibilizar, quero que entre lá antes deles acordarem. Eles acordam no exato momento que o sol está bem em cima, indicando o meio dia. — aubi as escadas do barco com um pouco de dificuldade ao ponto de ele ter que me puxar. — Vou te disponibilizar também um pano e assim tapa sua mão. — saiu do meu ponto de vista, descendo do convés e voltou só um tempo depois com um pequeno baú onde tinha várias armas. Me deu um pano acinzentado, que eu o amarrei em minha mão, e olhei para as armas.

— Leve as que achar necessário. Você estará por sua conta até conseguir o que tanto quero, os tesouros, todos eles. — assenti, sem falar nada. Seu falar era autoritário, valia mais eu aceitar e estar calada.

Iria ser a pior missão de toda a minha vida. Roubar o ATEEZ.


━━━ BETAGEM POR: 

@peachluwoo no MarsGrapphics

Treasure | kim hongjoongOnde histórias criam vida. Descubra agora