N I N E

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— Ninguém se importa se eu choro ou não. É só uma fraqueza humana. — O garoto se aproximou de mim e limpou minhas lágrimas com as costas da mão.

— Não chore. — Virei meu rosto tentando me afastar de mais algum toque dele.

— Pode sair daqui? — Pedi abaixando meu olhar. — Quero ficar sozinha com meus pensamentos.

— Realmente não compreendo porque ele te mantém viva. — Saiu de perto de mim bufando e eu percebi que não fui legal com ele sendo que ele foi razoável e limpou minhas lágrimas sem obrigação nenhuma, mas sim por livre vontade.

Mais ninguém apareceu no convés, o que me fez ficar presa somente em meus pensamentos que se baseavam em perguntas sem resposta.

Aquela pergunta que eu fiz a Hongjoong estava na minha cabeça também. Por que ele não poderia ter me dado uma resposta? Eu sei que a vida dele não me interessa, mas será que ele esconde algo relacionado com a sua família?

— Eu ainda vou dar em louca. — Comentei para mim mesma e respirei fundo pensando o porquê estar pensando em coisas que não me interessam e nem sei porque tenho interesse em saber isso. Eu às vezes não me entendo, imagino alguém tentando me entender.

Olhei para a parte de cima do convés focando num só ponto e aí meus pensamentos ficaram neutros, como se estivesse dormindo, só que acordada.

— Quer comer algo? O capitão mandou perguntar. — Automaticamente meu corpo reage num pequeno pulo e encaro rapidamente o dono da voz que estava se dirigindo, muito provavelmente, a mim.

— Melhor não, eu não gostei da tal salada de fruta.

— Não é salada de fruta. — Antes mesmo que ele falasse mais algo eu o cortei.

— Então o que é?

— Pão com marmelada. Ela está quase no prazo final, então ele deixa você comer também.

— Nunca comi. E acredito que não vou gostar. Vocês comem coisas esquisitas, eu só comia peixe ou mesmo pão.

— Então eu te dou só um pão. — Concordei com a cabeça, vi ele saindo e só voltando poucos minutos depois com um pão na outra mão e o pão com a tal marmelada já mordido, acho que por ele.

— Obrigada. — O mesmo apenas assentiu com a cabeça e eu não consegui soltar meu braço mesmo que conseguisse me levantar e sentar, Hongjoong realmente é esperto, que raiva.

— Relaxa, eu te dou. Só não cospe.

— Eu gosto de pão, então não vou cuspir. — Ele não falou nada, apenas aproximou o pão de minha boca e eu trinquei o mesmo logo mastigando, sentindo o famoso sabor do pão que já não sentia à um bom tempo na minha boca.

— Vou me sentar na sua frente, só porque quero ficar mais confortável. — Continuei comendo o pão olhando ele se sentando. Ele era totalmente diferente do outro garoto que tinha feito a sala de frutas. Este de agora não estava me tratando nenhum pouco mal. — Você é bonita. Não que eu esteja querendo ser interesseiro, apenas estou falando a verdade do que acho.

— Não acredito nisso pois eu penso que os homens só se interessam pela beleza. Por isso que ninguém daqui acredita que meu pai é o Zico.

— Conheço o Capitão Zico, mas nunca soube que ele tinha uma filha. Ou seja, eu nunca soube da sua existência antes.

— Ele escondeu minha existência durante a maior parte da minha vida. Nunca soube o porquê e já nem quero saber.

— Deve ser muito mal ser feita de isca...

— Onde quer chegar com essa frase? — Perguntei impulsiva sem mesmo deixar ele terminar.

— Calma, o que eu quero dizer é que não se deve ser nada legal. Ele supostamente é seu pai. Isso não se faz a uma filha.

— Parece que agora se faz. — Baixei minha cabeça depois de comer o pão todo.— Não quero falar mais sobre isso. Não se importa de parar este assunto?

— Você não precisa de formalidade comigo. Somos piratas. — Dei de ombros.

— Eu só não quero ser morta tão cedo. Eu gostava de encontrar uma pessoa antes disso.

— Posso saber quem é? Se não for muito intruso da minha parte.

— Como você disse, somos piratas e então nunca será preciso essa formalidade. — Dei um pequeno sorrisinho. — Eu gostava de poder encontrar minha mãe, mas meu pai pouco me falava dela. Ele disse muita vez também que eu era parecida com ela e eu não tenho os olhos iguais aos dele. Gostava de poder vê-la, sobretudo antes de morrer.

— Sua mãe também deve ser linda. Se eu pudesse, te levava a vê-la agora mesmo.

— Yeosang, você não pode cair nas falinhas mansas dela! Eu já avisei! — Do nada o capitão apareceu puxando o garotinho para longe de mim. — Ela acabaria por pedir para a soltares e depois quem pagaria era um Yeosang na prancha. — Olhei para o chão. Por que ele está pensando isso? Eu só estava libertando um pouco de minha vida com ele pois ele parece ser compreensível. Em algum momento eu tive intenções de fazer isso com o garoto. Apenas estávamos conversando, nem nada de mal.

— Capitão, só estávamos conversando. Eu claramente notaria se isso acontecesse. — O idiota do capitão estalou a língua várias vezes no céu da boca e eu suspirei soltando:

- Ele está falando a verdade. Depois de eu comer o pão ele conversou comigo sobre minha mãe. Ele é o único simpático que já presenciei aqui. Agora acredite se quiser, não culpe seu tripulante por uma coisa que é da sua cabeça.

— Respeito comigo. — Falou com um tom de voz mais alto e eu cuspi a uma distância curta dele. Estava ficando com raiva dele estar colocando a culpa em quem não fez absolutamente nada para isso.

— Já falei que só terei respeito por você quando tiver por mim.

— Nunca ouvi tal coisa. Agora respeite-me ou mando você limpar este convés só porque cuspiu nele.

— Você não manda em mim. — Notei que o outro garoto estava fazendo sinais e gestos para que eu parasse e me calasse, mas como o capitão entendeu meu olhar, rapidamente, o mandou embora dali.

Assim que ele saiu do meu campo de vista, Hongjoong se aproximou de mim de uma forma bruta apertando meu pescoço assim que chegou o mais perto possível de meu corpo, me levantando num pulo.

— Você anda me tirando a paciência. Na frente dos outros você pensa que tem algum poder, mas quando estamos sozinhos você treme de medo e é bem educada. — Ele não apertava meu pescoço ao ponto de faltar meu ar, mas mesmo assim eu não iria saber o que responder. — Está vendo!? Você nem consegue responder. Um ato vale mais que mil palavras, por isso que sempre consigo te calar.

— Eu apenas não sei o que responder.

— Isso porque você parece uma cadelinha quando é para obedecer ao dono. — Tentei me debater contra ele, mas ele me mobilizou ao apertar um pouquinho mais meu pescoço. O medo dele me asfixiar ali mesmo era grande. — Admita que quando eu estou por perto você obedece dessa maneira. Doi menos meu anjinho.

— Não vou admitir nada. Apenas peço uma coisa no meio disto tudo.

— Morrer?

— Não... Eu quero que você me deixe viver e eu prometo te obedecer dessa forma como diz que obedeço. Dessa vez, eu viro isso mesmo.

— Um motivo? — Já estava farta das perguntas dele, mas não me ousei em não responder.

— Quero ver uma pessoa que se eu morrer, nunca saberei como é o rosto dela. — Hongjoong me olhou confuso e depois tirou sua mão do meu pescoço.

— Vou pensar no seu caso.

━━━ BETAGEM POR:

__Lanna_ 


Treasure | kim hongjoongOnde histórias criam vida. Descubra agora