Capítulo Final

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— Acho que esse negócio de amigo com benefícios não tá dando certo. — Ochako diz da maneira mais franca que consegue.

— Concordo. — e o Todoroki acena, como se já soubesse que ela iria dizer isso.

Provavelmente sabe.

Até porque não está dando certo mesmo. Nunca esteve, se for parar pra pensar bem. Ela só foi se dar conta quando começou a despejar todas suas desventuras com o Todoroki nos últimos meses para o Bakugou depois de uma sessão de amassos frustrada em um quarto de um hotel australiano.

E eis os fatos: Todoroki quis começar devagar por medo de parecer afobado, Ochako teve ciúmes, ele ficou magoado por algo que ela fez em meio a isso tudo e agiu como se não estivesse chateado, ela se sentiu culpada, e eles usaram desse período que ficaram afastados para não conversarem, como se... tivessem dado um tempo.

Como em um namoro. Todas as reações, as interações, talvez até os gestos, estavam parecendo mais coisa duas pessoas inexperientes ou que ficaram muito tempo sem sair com ninguém do que amigos com benefícios. Desde o começo, Ochako sabia que esse tipo de coisa não era para ela, resolveu arriscar, acabou transformando isso num namoro inconscientemente. E ele fez o mesmo.

Mas diferente dela, ele provavelmente nem tinha noção daquilo. Se não houver alguém que aponte o óbvio e jogue a verdade com a graça de quem atira um tijolo numa janela de vidro como o Bakugou fez, o Todoroki seguiria sem perceber no que eles se enfiaram.

Então coube a ela decidir como proceder. "O que você vai fazer agora, Cara de Lua?", o loiro explosivo indagou, e ela não deu uma resposta pois ainda não tinha uma.

Não até agradecer ao Hawks profusamente pela oportunidade e deixar no ar que estaria à disposição para mais daquelas se ele as tivesse. O herói apenas respondeu "Bom saber!" e sorriu de maneira serena.

A proposta oficial da agência dele veio no dia seguinte. Um salário menor, mas ela não teria que focar apenas em missões de resgate, podendo ser chamada para outros tipos de trabalho, o próprio anúncio de troca de agências foi um tanto pomposo, com direito à capa de revista e tudo, e a promessa de contratos de publicidade estelares com certeza fez seus olhos brilharem, mas Ochako não tinha um espelho para checar seu rosto, havia acabado de chegar para o trabalho, aquele que ela gosta muito, mas... não a deixa ansiosa da mesma maneira empolgante que sentiu antes de aceitar a missão na Austrália.

Uma mudança de ares talvez seria interessante. A credibilidade de estar na agência do Número 1 ou na do Número 2 é praticamente a mesma, e bom... ela teve pouquíssimas chances de interagir com o chefe, mas não tem dúvidas que acha o Hawks infinitamente mais simpático. Ele é debochado, há quem diga que não é a pessoa mais confiável por aí, mas Ochako não tem nenhuma reclamação, muito pelo contrário.

E talvez... só talvez... afastar-se do Todoroki nesse ambiente ajudaria ambos a colocarem a cabeça no lugar. Sim, quem sabe, com uma certa distância, eles poderiam virar amigos com benefícios de verdade e fazerem do jeito certo. O colega pode ser difícil de interpretar e lidar, mas... é tão divertido tentar entendê-lo, a companhia dele é sempre tão agradável e inesperadamente reconfortante... Todoroki é tão leal, tão genuinamente interessado em aprender o que não entende e... aquelas mãos fazem mágica! Ochako não gostaria de perder o toque, os beijos, a visão mesmerizante que é a expressão dele em prazer. Ela sabia que precisava se afastar, mas... não muito.

E sim, pensamentos assim são perigosos, porque no momento em que deu de cara com ele no elevador, no momento em que o beijou, ela soube que era tudo mentira, bom, não "tudo", apenas o fato de querer se afastar: não é pra tentar fazer a amizade com benefícios dar certo, é porque ela cometeu o único erro que não podia ter cometido nesse acordo e está se apaixonando.

Pretensamente simplesOnde histórias criam vida. Descubra agora