Capítulo 7

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—  Que porra é essa, Uraraka? Você tá chorando?! —  o Bakugou se afasta, com olhos arregalados. E diante da expressão de choque dele, Ochako acaba por perceber que sua garganta dói um pouco, como sempre dói quando tenta segurar o choro.

O espanto do Bakugou só não é maior que o dela mesma ao perceber que sim, está chorando. Mas por quê? Ela estava se deixando envolver pelo flerte do loiro, tanto que topou ir com ele para o quarto do hotel em que eles estão hospedados, antes de pegarem o avião e poderem voltar para o Japão amanhã. 

A missão foi um sucesso, três longas e exaustivas semanas de trabalho pesado, o Hawks engana bem com seu jeito simpático, sendo alguém muito aplicado no trabalho, e Uravity se sentiu bastante desafiada em cada tarefa de reconhecimento e infiltração, coisas que ela tem preparo para fazer, só não tem muita experiência por focar tanto em resgate. Foi cansativo, estressante e muito… muito empolgante! Não que ela não se sinta orgulhosa quando realiza uma missão de salvamento, mas a satisfação de fazer algo fora de sua zona de conforto lhe trouxe uma alegria que não sentia desde… desde quando decidiu aprender artes marciais e foi fazer o estágio com o Gunhead.

Então Ochako está feliz, realizada, um pouco alegrinha devido aos goles de vinho que experimentou no restaurante do hotel —  o Hawks bancou um jantar para todos os envolvidos na missão, e ela não recusa nada grátis — e talvez esteja se achando um pouco por ter o Bakugou flertando com ela tão descaradamente. Tendo passado tanto tempo apaixonada pelo Deku, o Bakugou sempre foi, mesmo que inconscientemente, o extremo oposto do que a atrai em um homem, seja para compromisso, seja para algo casual —  e ele fez questão de ressaltar que é exatamente daquilo que se tratava — mas as coisas são muito diferentes do que eram, ela e o Deku aceitaram funcionam melhor como melhores amigos, e o Bakugou ainda pode ser o grande rival de seu ex, mas é uma pessoa mais agradável, charmosa… irresistível quando sussurrou em sua orelha um convite para subir ao quarto dele e deu um meio sorriso.

Ela o acompanhou, hesitando apenas por um segundo ao olhar o celular e ver que não havia mensagens do Todoroki. Ochako deveria saber que não teria nenhuma, ele mesmo disse que lhe deixaria em paz enquanto ela estivesse no trabalho, mas ainda assim… uma parte sua queria que ele burlasse essa regra boba que impôs por si mesmo e só… falasse com ela.

Conviver com uma pessoa faz com que se aprenda muito sobre ela, poucas coisas são mais óbvias que isso, mas “aprender” nem sempre explica esse processo de descoberta. Uma coisa é descobrir que alguém tem uma mania estranha, medo de algo bobo, ou gosto por filmes duvidosos. Outra bem diferente é perceber que esse alguém é bem diferente do que se esperava.

Ochako sempre viu o Todoroki como alguém direto e honesto. Ele diz o que quer sem cerimônia, sempre corre o risco de deixar os outros desconfortáveis, e não tem medo do quão desagradável possa ser, contanto que seja a verdade, isso sempre lhe apavorou e lhe encantou sobre ele. Claro que o híbrido ser assim se dá muito mais por falta de traquejo do que por uma escolha de viver a vida sendo sempre honesto com tudo e todos, mas Ochako sempre se impressionou como ele apontava coisas que ela no máximo pensava e preferia não falar pra não se indispor com ninguém, tudo com uma expressão impassível, como se ele estivesse dizendo a coisa mais óbvia possível. De certa forma, talvez a morena até tenha um pouco de inveja desse jeito dele.

Ou tinha, porque… não é bem assim, o Todoroki não é tão sincero quanto passa a impressão de ser. Ela sabe que ele ficou magoado por ter ouvido sobre a missão na Austrália daquele jeito tão repentino. A Tsu não disse nada demais, o problema estava inteiramente nela própria por ter ficado enrolando pra contar pra ele. 

A verdade é que ela não planejava aceitar a proposta do Hawks, o pagamento é bom, só um pouco abaixo da média para o de uma missão internacional que mobilizou tantos heróis de destaque, entre eles o Ground Zero e o próprio Hawks, mas ok. O herói alado a queria atuando na linha de frente, e isso lhe pegou de surpresa. Foram dias e mais dias abrindo e fechando o email e pensando no que responder, contratos assim são válidos, ela só teria que avisar na agência que ficaria um tempo fora… só umas semanas fora.

Pretensamente simplesOnde histórias criam vida. Descubra agora