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Yan

A Lara relaxou em meus braços e pela minha surpresa, se encaixou ainda mais. Não foi preciso mais nenhuma palavra, eu sabia que ela estava com medo, medo de perder quem ela mais ama no mundo e medo de se envolver em algo comigo.

Eu realmente não a julgo, eu posso imaginar apenas pelo curto tempo que eu conheci e participei dos péssimos momentos o quão assustador era. E agora, mais do que nunca, eu não iria me afastar.

Depois de um tempo o silêncio foi interrompido por um baixinho enrolado na coberta, andando com o cabelo todo bagunçado e uma cara de manha imensa. Ele era pequeno mas entendia muita coisa, só pelo olhar já conseguia ver a confusão em seus olhos, eu estava abraçado com a mãe dele.

Fiquei observando os dois conversando e o cuidado que a Lara tinha com ele. A mesma levou ele para tomar banho enquanto eu decidi pedir algo leve pra comer, já que o meu dia foi resumido em comer e dormir.

Quando chegou a comida o Arthur insistiu em comer na varanda na casa, uma parte mais coberta e que dava visão para a rua ainda movimentada. Antes mesmo de sua mãe negar eu concordei rapidamente e o ajudei a pegar as coisas que ele queria levar.

Fizemos um piquenique ali e o pequeno não poupou energia para contar as histórias que Deus sabe da onde saíram, era impossível não gargalhar com aquele menino e cada vez que ele falava algo os olhos da Lara brilharam.

— A Luisa ligando pra me atentar — falou assim que o celular começou a tocar — Já volto — levantou e entrou pra casa.

— Tá com sono? — perguntei pro pequeno. Era comum o excesso de cansaço durante o tratamento e a doença, derrubava qualquer um.

— Eu tô — falou enquanto brigava com o guardanapo — Titio? — me olhou.

— Oi campeão.

— Você é o namolado da minha mamãe?

Não, ainda.

Espero.

— Você não tem idade pra saber desses assuntos não — baguncei o cabelo dele, fazendo o mesmo reclamar.

— Eu tenho uma namolada — respondeu — A mamãe falou que não pode.

— Tem? — ri surpreso — Quem?

— A Laurinha.

— Ela é da escolinha?

— Você não me respondeu — me olhou bravo —   Você é o namolado da minha mamãe?

— Não, você gostaria se eu fosse?

— Eu não gosto do Filipe — deu de ombros mas me olhou esperançoso.

— Felipe? — perguntei — Quem é?

— Tô cum sono — deitou no meu ombro e não respondeu a minha pergunta, muito menos deu bola.

Em menos de 10 minutos ele adormeceu totalmente, fiquei pensando no que ele tinha me questionado e ainda batucando a ideia de ter um Felipe. Não que eu seja ciumento, mas eu não sabia da existência de mais ninguém.

Ou será que era o cara do barzinho?

— Desculpa, a Luisa ficou me alugando — olhou para o Arthur — Ele não desgruda de você nem na hora de dormir.

— É um bom sinal — pisquei — Vou colocar ele no quarto.

Ela me ajudou a arrumar ele no meu colo, coloquei ele deitado e fechei a janela enquanto a Lara ajeitava ele na cama. Voltei pra fora para guardar e arrumar as coisas mas ela me impediu — Deixa ai, depois eu arrumo — sentou.

— Você já tem uma norinha — dei risada sentando ao lado dela.

— Vou nem te responder — revirou os olhos — O pau vai comer pro lado dele.

— Larga a mão de ser ciumenta.

— Não estou pronta pra dividir o meu homenzinho com ninguém, sou uma mãe urso — me surpreendeu se espremendo em meus braços, passei a mão em volta dela e puxei pra mais perto.

— Posso te fazer uma pergunta? — assentiu — Você nunca tentou ir atrás do pai do Arthur?

— Não, e nunca vou tentar — respondeu — Não quero ele perto do meu filho.

— Eu sinto muito — beijei a mão dela.

— Tudo bem — sorriu — Nos últimos anos eu descobri que eu não preciso de ninguém pra criar o meu bebê, e por isso eu fico muito melhor sem eles.

— Eles?

— O Gabriel e a minha família.

— Eu pensei que a sua família fosse a sua amiga e a avó — falei. Nunca tinha parado pra pensar nisso.

— Elas são. A Luisa e a vó foram as únicas pessoas me ajudaram quando eu engravidei, meus pais viraram a cara, meus parentes só sabiam falar de mim. — suspirou — O Gabriel não queria deixar que um filho atrapalhasse o futuro dele, falou que era melhor tirar e que se eu continuasse com a gravidez ele não iria me ajudar.

Meu sangue ferveu só por ter escutado, eu sempre me imaginei sendo pai e ver alguém negar um filho assim, não propondo fazer o mínimo que é ajudar me irrita profundamente.

— Quando o Tatu ficou doente eu não quis pedir ajuda a ninguém — continuou — Prometi que só pediria se tudo piorasse, até então eu estou conseguindo manter tudo, mesmo com tudo em excesso.

— Eles não merecem vocês, e nunca vão merecer. Eu sinto muito por você ter passado por tudo isso, você não está sozinha em tudo isso. — acariciei sua bochecha e a puxei para um beijo calmo que transmitia toda a paz que eu estava sentindo. Era ali que eu queria estar e eu quero ver alguém mandar eu me afastar.

Meu recomeçoOnde histórias criam vida. Descubra agora