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Yan

Aguardei a Lara entrar no shopping para partir em direção à escolinha do Arthur. Olhei pelo retrovisor e encontrei o pequeno bem entretido com o painel, o mesmo que estava configurado há três meses para passar séries de heróis. Posso dizer que a minha vida deu um giro de 360 graus em poucas semanas.

Estacionei na vaga de pais, desci e ajudei a tirar ele da cadeirinha. O acompanhei como todos os dias até o corredor principal, dando boa tarde para todas as professoras que deixavam a Lara enciumada. Elas me admiravam como se eu fosse carne nova no pedaço, e me chamavam de "Papai do ano".

— Tchau campeão — baguncei o cabelo do Arthur, recebendo uma careta em troca.

Olhei ele entrando todo confiante, segurando fortemente a sua mochila e a sua lancheira do Hulk. Ainda percebendo a minha presença ali, o pequeno virou e deu um aceno acompanhado com um sorrisinho. Esse garoto tem o meu coração.

Voltei para o hospital correndo antes de começar o meu turno pós almoço, bati meu
cartão e troquei de roupa rapidamente.

A minha rotina tinha se transformado em uma correria, pulando de um lugar ao outro. Agora eu tinha alguém para voltar depois de um dia cansativo, não existia mais bares e baladas sem fundamentos ou com o intuito de viver o vazio que eu evitava preencher. Eu estava feliz desse jeito. Estava costurando uma ferida que teimava em fechar.

— No próximo final de semana é o aniversário da minha pequena, sua família está convidada — Doutor André comentou.

A palavra família fez o meu batimento aumentar. Família.

— Já está sendo convidado para festas infantis — Patrick bateu no meu ombro — Que avanço!

Meu colega de trabalho ainda era relutante com toda a minha história com a Lara, insistia em dizer que em qualquer hora poderia dar uma merda grande, porém, me ajudava em tudo o que eu precisava. No entanto ele não era alguém com quem eu conseguia conversar sobre toda a nova parte infantil da minha vida e, definitivamente, a amorosa. Dessa forma, me aproximei do André, pai de gêmeos e que me aconselhava mesmo sem eu pedir.

— Vou conversar com a Lara e com Arthur — respondi ao André.

— Avise ao garoto que o meu filho também gosta de desenhar, talvez possa surgir uma amizade — complementou.

— Tô me sentindo um peixe fora da água — Patrick riu.

— Só arranjar uma mulher e filhos — ri.

— Igual você? — perguntou.

Sim. Indiretamente eu arranjei uma mulher e um filho, que não era meu embora a minha proteção e amor fale o contrário.

— Sem pressionar o doutor — André deu um tapa na cabeça do Patrick — Não faça perguntas que ele ainda está bem confuso para responder.

— Não acho que ele esteja confuso — Breno deu de ombros — Apenas com medo de admitir a verdade.

— Qual verdade? — perguntei.

— Que o garoto já é seu filho.

Balancei a cabeça e me afastei para voltar ao trabalho. Esse assunto me deixava atordoado, e me estava me mantendo assim com frequência. Não vou mentir dizendo que não passou pela minha cabeça ser o pai do Arthur. Passava todas as vezes que eu o acordava, levava e buscava para a escola, ajudava nas lições de casa e participava de algumas reuniões escolares. Porém não era algo que eu poderia decidir.

Quando se aproximou das seis horas encerrei os meus atendimentos, não gostava de me atrasar para buscar o pequeno Hulk na escola. Recolhi os meus pertences, entreguei alguns prontuários para a enfermeira e conversei com o próximo plantonista. Por fim, me despedi de todos com um breve aceno e antes mesmo de pegar a minha chave no bolso, uma atendente me chamou.

— Doutor, tem uma moça loira procurando o senhor. — Moça loira?

— Ela falou o nome?

Negou. — Apenas informou que é uma velha conhecida.

Meu recomeçoOnde histórias criam vida. Descubra agora