Acordo com Gianna dormindo ao meu lado. Dou uma risadinha com sua aparência: maquiagem borrada e cabelo desgrenhado. Ela resmunga e suspira alto, virando-se para o outro lado.
Decido não acordar ela. Pela jeito, a noite anterior foi intensa. Levanto-me e vou até a cozinha, pensando no que comer.
Olho para o relógio parado, tentando imaginar que horas são. Uma, duas da tarde? Decido ser duas horas, porque gosto desse número. No Outro Lado, não há tempo. Há dia, há noite. Mas as horas não são marcadas. Nenhum relógio funciona.
Muita coisa não funciona. Não temos internet, apesar de ter energia elétrica. Celulares, telefones e coisas para se comunicar também não funcionam. A TV e o rádio funcionam, então podemos acompanhar as notícias ou simplesmente assistir programas de anos atrás. Os mercados são abastecidos com coisas novas todos os dias. As geladeiras e armários nunca ficam vazios. As lojas estão sempre com mercadorias. Se faz sentido? Claro que não. Mas ninguém reclama.
Não precisamos usar o banheiro, ou dormir, ou nos alimentar. Mas podemos. Ficamos machucados, mas logo nos curamos naturalmente. Podemos ficar "mortos" se alguém nos queimar, mas em questão de horas voltamos a vida. Com as bruxas, demora em média três dias, com os lobos dois dias e os vampiros um dia. Nunca morri aqui, então não sei a sensação, mas Gianna me contou que é como um vazio — você sente que não existe, não há nem mesmo a sensação do tempo passando. É só um grandíssimo nada.
Sentimos fisicamente e emocionalmente. Podemos ficar bêbados, mas não temos ressaca. Aqui não há doenças.
Vivemos em um espelho da vida real, uma imitação. Mas isso é bem melhor do que danação eterna para alguns. Prisão. Ou o vazio.
— Você acredita que ontem eu experimentei feijoada pela primeira vez? — pisco surpresa para Gianna. Eu nem percebi ela se aproximando.
— E o que achou? — questiono, pegando alguns ingredientes na geladeira.
— Delicioso — ela sorri — precisa comer um dia. É muito bom.
— Com certeza — sorrio para ela, que me ajuda no café. Apesar dela ser um completo desastre cozinhando, ela pelo menos tenta.
Comemos em silêncio, cada uma perdida em seus pensamentos.
— Sabe, eu ouvi uma coisa ontem — ela comenta ao deixar os utensílios sujos na lavadora.
— O quê?
— Que os Mikaelson morreram. Elijah e Klaus — conta — o quão legal isso é, certo?
— Ah, isso — falo. Ela me olha acusatoriamente.
— Você sabe sobre isso?
— Eu que encontrei eles ontem — e então explico tudo a ela.
— Nós vamos agora para o bayou! — ela me pega no colo e em segundos estamos no meu quarto. A loira abre meu closet, se enfiando lá dentro. Ela é um pouco mais alta que eu, mas mesmo assim minhas roupas servem — eu tenho que ver isso de perto. Eles são, tipo, famosos! — ela para por um momento — será que se eu pedir, Elijah arranca o coração de alguém?
— Eu acho que não — opino — ele pareceu bem sério. Mas talvez Niklaus faça. Você sabe, só pela diversão de matar.
— Amiga! — em um piscar de olhos ela está na minha frente — ele é tão gostoso quanto dizem?
— Niklaus? — ela assente — bom...
— Vamos lá, não seja tímida — ela se inclina, quase encostando seu nariz no meu de tão próxima – ele é quente?
— Como o inferno — sou honesta.
Ela se afasta e dá um gritinho animado.
— Esse Lado está precisando mesmo de uma agitada — ela comenta — com eles aqui, tudo vai mudar.
— É — concordo, desanimada. Tudo menos eu. Eles podem virar esse Lado do avesso, mas as pessoas ainda vão me odiar e rejeitar. Então, nada novo sob o sol. E se não me afeta, não me interessa.
— O quê? — ela se vira para mim, preocupada.
— Só... — nego com a cabeça — tudo pode mudar, menos minha situação, aparentemente.
Ela parece pensar um pouco.
— Sabe o que eu acho? Eu acho que você deveria tentar outros métodos — ela se senta ao meu lado — você é boazinha demais, El. Sério. Fazem um inferno na sua vida desde que você nasceu e mesmo estando morta te provocam. Se eu fosse você, faria um inferno de volta.
— O que eu ganharia com isso? Mais ódio? — retruco.
— Respeito — diz — os Mikaelson podem ser o que for, mas com certeza eles são respeitados. Há histórias sobre eles, como se fossem lendas. Eles são lendas. Você é tão poderosa quanto eles, Ellenora. Poderia fazer história também.
— E o que eu devo fazer? Me unir a eles? — considero a alternativa — todos as histórias apontam uma coisa: eles não são confiáveis.
— E daí? — ela dá de ombros — não seja também. Se é assim que eles jogam, é assim que você pode jogar também. Você é esperta, Elle. Pode fazer isso.
Parece idiotice, mas uma certa esperança brota em mim. E se isso realmente dar certo? Eu poderia ser aceita pelas bruxas. Os lobos poderiam gostar de mim. Os vampiros não me odiariam. Os outros seres não fugiriam com medo.
— Eu posso — me levanto, sendo seguida por ela — mesmo que eu não saiba exatamente o que fazer ainda.
— Esse é o espírito! — ela segura meus ombros, animada — só precisa pensar em como fazer a cidade mudar de opinião sobre você e como conseguir o auxílio dos Mikaelson nisso.
— Ou talvez eu nem precise envolver eles nisso — comento, um pouco temerosa — por que envolver eles?
— Não está na cara? — ela sorri — porque será caótico! E, o que é New Orleans sem o habitual caos sobrenatural?
o que acharam da gianna?
expliquei um pouquinho sobre como funciona minha versão do Outro Lado e durante a fic eu vou explicando mais
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beyond death ⚜️ the originals
Fanfiction>>> onde Ellenora Claire recepciona Niklaus e Elijah Mikaelson no Outro Lado, mudando drasticamente a New Orleans dos mortos. >>>> POSTADO TAMBÉM EM NYAH! FANFICTION >>> 16MAI2020 | >> CAPA POR @A_JUPITER 🖤 > +16. ATENÇÃO Se você estiver lendo ess...