Capítulo 5

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- Lorenzo narrando:

Taormina - Sicília.

Giacomo Moretti.

O nome desse stronzo vive na minha mente há 12 anos.

E há 6 malditos anos que esse verme escorregadio escapa da polícia italiana como se fosse uma fumaça tóxica, paralisante.

Uma hora eu te encontro, Giacomo. Nem que seja no inferno.

Giacomo Moretti é o chefe da máfia siciliana. A Cosa Nostra, ou famiglia, o chama de il capo ou Don Giacomo.

Um bastardo cruel e sem escrúpulos, capaz das piores atrocidades que um ser humano pode cometer.

Não que Giacomo possa ser considerado humano de alguma forma. Não tem nada de humanidade no que ele faz ou prega, junto com seus soldados da máfia siciliana.

Pensar que eu quase participei disso me enoja. Faz com que eu me sinta
desprezível.

Algum dia, na minha vida miserável, eu pensei em participar da Cosa Nostra e agora eu os caço, como gato e ratos.

Meu pai, Vito Conti, foi durante muito tempo o conselheiro de Giacomo na famiglia ou o seu consigliere, como eles chamam.

Eu vivi na fortaleza da máfia em Palermo, convivia com todos da famiglia e com tudo o que faziam. Desde criança meu pai sempre me levava nos finais de semana para a vila. Meu melhor amigo, na época o Francesco, era sobrinho de Giacomo e hoje é seu sottocapo.

Depois de muito tempo descobri que Francesco nunca foi meu amigo de verdade. Na realidade ele sempre quis o posto que seria meu na famiglia, o posto que Giacomo, como Don, escolheu dar a mim e não a ele. As várias tentativas de assassinato que sofri eram consequência disso, da ambição de Francesco.

O sottocapo é o sucessor do capo na Cosa Nostra e se torna seu braço direito enquanto o capo estiver vivo. Por isso Francesco almejava tanto o cargo. Ele queria ser o sucessor de Giacomo na hierarquia da famiglia.

Na época, há 12 anos e no auge dos meus 20 anos de idade, Giacomo queria que eu fosse o próximo sottocapo. Ele confiava em mim para isso, mas eu era apenas um jovem deslumbrado com os prazeres e o dinheiro da máfia, então meu pai interveio e não deixou que eu participasse da famiglia.

Vito dizia que ele não teve escolha ao entrar para a Cosa Nostra, mas que eu teria. Me afastou da famiglia, da Sicília e, consequentemente, da minha mãe. Me mandou sozinho para a Áustria.

Morei 4 anos em Viena e me formei em ciências políticas na Universidade da capital austríaca.

Quando voltei para a Sicília estava com quase 25 anos. Giacomo matou meus pais como represália a minha recusa em ser o seu sottocapo.

Agiu com crueldade. Esperou que eu voltasse a Sicília para executar seu plano sórdido. Ele queria que eu os visse mortos, queria que eu sofresse ainda mais.

Queria perturbar minha mente para o resto da vida.

Nunca consegui esquecer o rosto da minha mãe.

A encontrei morta e com uma expressão de desespero, sua feição me mostravam o quanto ela tinha sofrido antes de morrer. Quando cheguei em casa naquele dia, depois de tantos anos, meus pais estavam enforcados, no meio da sala de estar, na casa onde eu vivi quase toda a minha vida.

Foi o pior dia da minha vida, sem dúvidas.

Quando completei 26 anos decidi entrar para a polícia italiana e me vingar de Giacomo da forma mais honesta possível.

Se é que existe honestidade em algum tipo de vingança.

Eu poderia me infiltrar na Cosa Nostra e matar Giacomo com as minhas próprias mãos, mas não era isso que meu pai queria.

Não era isso que eu queria.

Não era isso que eu queria me tornar.

Sei que ao prender Giacomo e fazer com que ele apodreça na prisão não vai acabar com a famiglia, eles são como ratos famintos que se multiplicam cada vez mais, a cada ninhada. Outros virão após ele... como Francesco ou qualquer outro bastardo deslumbrado com o luxo, mas isso não é o suficiente para me fazer parar.

Giacomo pagará pela morte dos meus pais. Pela morte de centenas - talvez milhares - de pessoas que ele já matou após anos como capo da máfia, direta ou indiretamente.

— Lorenzo? — a voz de Mattia me resgata dos meus pensamentos e das minhas memórias. Giro minha cadeira e o encontro parado no batente da porta. — O chefe quer te ver, tem informações sobre uma operação da Cosa Nostra.

Me levanto imediatamente, atravesso a sala e passo por Mattia.

Ele me segue assim que passo por ele e vamos juntos até a sala do nosso chefe, o delegado Vicenzo.

— Mandou me chamar, chefe? — pergunto a ele assim que entramos na sua sala e me sento na cadeira que ele aponta, a frente da sua mesa.

— Rapazes, temos a informação de um container da Cosa Nostra, recheado de cocaína, chegando ao porto de Messina essa noite. — tem um ar de satisfação na sua voz. Ele está animado. Recosta na sua cadeira e mostra as palmas, logo depois entrelaça seus dedos.

— Que horas devemos chegar lá? — pergunto.

A euforia fazendo a adrenalina correr como um cavalo nas minhas veias.

— A interceptação será às 23h. Vamos chegar lá antes. — Vicenzo diz.

— Perfeito. — Mattia se ajeita em sua cadeira. — Em quantos iremos? Eu, Lorenzo e mais quem?

— Não creio que seria uma boa ideia o Lorenzo ir ao porto. — ele diz e eu me levanto sobressaltado.

— Vicenzo, estou nesse caso há anos. Desde que entrei aqui. — tento soar o mais calmo possível, mas sei que não consigo. Estou com raiva, muita raiva. Se ele me tirar da cola da Cosa Nostra vou ter que agir sozinho para pegar o Giacomo e eu não quero isso.

— Lorenzo... — ele chama meu nome como um pai repreendendo o filho por comer doce antes do almoço. Ele está impaciente. — Todos nós sabemos da sua sede de vingança e isso não faz bem a você e muito menos a corporação.

Eu bato a mão na sua mesa. O choque da minha palma contra a madeira causa um barulho oco e Mattia se assusta.

— Sabe que eu vou de qualquer jeito, Vicenzo. — rosno entredentes. — Com ou sem a porra de um distintivo eu estarei lá. — ameaço.

Mattia deve ter se levantado, porque sinto sua mão segurar meu braço, me impedindo de avançar até o nosso chefe.

— Lorenzo. — ele me repreende com cautela.

Puxo meu braço do seu aperto com força e encaro Vicenzo.

— Não tire isso de mim, Vicenzo. — imploro. Um pouco mais calmo agora. Sei que enfrentá-lo não vai me ajudar em nada. — Sabe que eu vivo para isso. Vivo para ver o dia em que Giacomo pagará por tudo o que fez, não só a mim.

Ele expira numa lufada só e olha de mim para Mattia.

— Tudo bem. — ele gesticula com a mão. — Vou mandar mais duas viaturas com vocês. — ele me encara. — Lorenzo, vê se não estraga tudo dessa vez.

Saio da sala dele vitorioso. Ansioso para chegar às 22h e acabar com mais um plano da famiglia.

Podia não pegar Giacomo hoje, mas lhe daria um bom prejuízo.

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Nos teus olhos  - Livro 1.Onde histórias criam vida. Descubra agora