Toc. toc.
A porta abre para mim
sem perguntar quem sou eu
Eu entro e não tem ninguém.
O lugar é gigante.
Nada está parado. Nada.
Tudo desloca sem parar.
Tem de tudo nesse lugar.
Uma mariposa aparece e diz:
seja bem-vinda.Uma luz forte começa a me rodear
e meus olhos demoram a se acostumar
com toda energia.Essa luz me leva para conhecer o lugar.
Durante dias, meses e anos
minha visita irá continuar.
Porque aqui é infinito,
as moradoras e os cômodos que cada uma delas criam,
estão em constante mudança.
E eles se expandem a todo momento.Na minha primeira semana,
fiquei deslumbrada.
Me senti acolhida,
livre, leve, contente.
Mas na medida em que eu ia conhecendo mais cômodos,
que eu ia conversando com mais mariposas
e observando cada detalhe daquela casa,
percebia que algo estava errado.
E a partir disso,
uma inconformidade e dor
foi se expandindo dentro de mim.Tum tum tum tum tum tum
Não está certo. Não está certo.
Por que eles fazem isso com a gente?
Não faz sentido. Não faz sentido.
O que vai ser de nós?
O que vai restar de nós?
Nosso mundo está perdido.
Tum. tum. tum. tum-tum-tum.Ah, mariposa...
A gente tem nossa casa
porque nela,
nos fortalecemos.
Nela, a gente aprende.
Nela, a gente descobre a verdade.
Mas não é nela que a gente quer viver pra sempre.
O mundo também é nosso.
E a gente quer ter o direito de viver nele.Viver?
Todas nós só sobrevivemos nele.
Nossas irmãs estão lá fora, sobrevivendo.
A gente tem que trazer elas pra cá.
Não tem como viver lá fora.Mariposa?
Antes de nós, o mundo era pior ainda.
As mariposas do passado
tentaram melhorar
e nós temos que continuar.
Por elas, pelas que estão lá fora e pelas que virão no futuro.Um feixe de luz
entrou dentro da mariposa
e expandiu.
Não sei ao certo em que momento
isso aconteceu.
Ela entendeu.
Ela entendeu o que ela precisava fazer.Um olhar
eufórico
amendrontoso
ansioso
eu.fórico
ocupou por completo o seu exterior.Em um suspiro pesado,
ela fechou as portas.
E voou.- mariposa com as asas se conectando.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O grito da mariposa
PoetryEm um mundo cheio de metáforas, ela é a mariposa incompreendida. Sem semblante, ela admira rostos padronizados mas não se identifica. Sem semblante, ela anda e se depara com inúmeras faces selvagens. Como a de bichos que desejam rastejar sobre cada...