Expondo o sangue

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Os gritos das mariposas
Parte 1: Expondo o sangue

1,23 milhões
Esse é o número aproximado de mulheres que reportaram violência nesses últimos anos.
Nem todas denunciam.
E os agressores, são vocês.
Sim, você aí mesmo.
Homem, que está do outro lado da tela.

Eu já perdi a conta de quantas vezes vocês nos chamaram de loucas.
Vocês não cansam de inventar adjetivos que nos diminui, que nos ofendem.

Só somos elogiadas,
Só somos bem-vistas,
Só somos as santas bem-vindas,
quando estamos caladas.
Obedecendo. Sorrindo.
Seguindo as regras que vocês criaram.

Andamos pelas ruas com o fardo de aguentar os seus olhares sobre nossos corpos.
Como se eu fosse uma comida
pra você saborear.
Como se eu fosse uma textura
pra você tocar.
Como se eu fosse uma argila
pra você moldar.

E ainda tem mais...

Aí de uma de nós ousar olhar para vocês.
Eu costumava sorrir.
Aprendi em casa a ser educada.
Mas o mundo me ensinou que gentileza com certos tipos de pessoas são confundidas com consentimento.

O mundo que eles criaram as regras,
confundem a roupa que nós usamos com consentimento.
confundem a maquiagem que nós usamos com consentimento.
confundem o local e a hora do dia com consentimento.

Eles não confundem nada. Eles inventam motivo. Eles mentem. Eles manipulam. Tudo pra continuar no poder. Tudo pra continuar usando a gente, sabe?

Eu nunca disse "sim".
Você nem sequer me perguntou.
Você me assediou porque quis.
Você me agrediu porque quis.
Você me abusou porque quis.

Assume logo a sua culpa.
E pare de transferí-la a mim.

Possuímos marcas diferentes
mas todas elas vêm da mesma origem.
Exponho minha história
para ecooar os meu gritos
enviando, comunicando,
sincronizando com todos os outros.

Eu não estou sozinha.
Você não está sozinha.
Nós não estamos sozinhas.

- mariposa com as asas sincronizadas.

Obs: Abaixo está um vídeo recitando o poema. Ele foi inspirado em relatos de mulheres.

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