Vestindo o sangue

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Os gritos das mariposas
Parte 2: Vestindo o sangue.

Hoje eu acordei sangrando.
Vocês me visitaram nos meus sonhos.
Todos estavam lá,
me agredindo, como de costume.

O primeiro zombava:
você tem que ir no salão arrumar esse seu cabelo
O segundo aconselhava:
mulher não pode beber e ficar bêbada que nem homem
O terceiro alertava:
homem não gosta de mulher que não depila
O quarto me olhava:
você precisa emagrecer
O quinto susurrava:
a culpa é sua...

Eu saí na rua e o sol cegou meus olhos.
Parei por alguns minutos
até conseguir enxergar.
Abri meus olhos e andei.
Corri, Caminhei, Corri.

Encontrei outras mulheres
sangrando.
assim como eu.

Umas, sangravam na perna
Outras, na barriga.
Bocas, seios, braços, olhos.
Todas sangravam em locais diferentes.
Todas tinham marcas, traumas, feridas.

Angustiada com tanta dor
transmitida pelos olhares
e sorrisos que carregavam,
comecei a perguntar:

Qual é a história que você carrega nesse sangue que transborda em você?

Algumas,
não quiseram responder.
Não se sentiram confortáveis,
nem todos machucados são suportáveis de se lembrar.

Outras,
abriram sua caixinha sagrada de sentimentos
e compartilhou um pouco do que ali dentro tinha.
O que elas sentiram?
Eu não sei.
Mas eu senti meu peito expandindo
a cada palavra que era falada.
Minha pele arrepiando
a cada voz que eu escutava.

Meus olhos marejavam
e o sangue que mais cedo havia exalado, agora já explodia.
Não sei ao certo,
mas acho que todos os nossos corpos estavam vermelhos.
E não víamos problemas nisso.
Nós vestimos o sangue.

Nossos vermelhos tinham tons diferentes,
mas todos eram vermelhos.
Meu olhar brilhava de ver tanta beleza.
Eu conseguia enxergar formas.
Todas nós, tínhamos o corpo em formato de mariposas.
Nossas asas, antenas, caudas
eram diferentes.
Mas todas nós, éramos as mariposas.

Nos tons sangrentos que cada uma transbordava,
eu consegui sentir o amor:
O amor entre as mariposas.

- mariposa com as asas sincronizadas.

Obs: Abaixo está um vídeo recitando o poema. Ele foi inspirado em relatos de mulheres.

O grito da mariposaOnde histórias criam vida. Descubra agora