A prova em duplas

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Eu tinha prometido a mim mesmo que depois do que acontecera, faria de tudo para não chamar mais atenção, que tentaria ao máximo me esforçar para ser um bom aluno.

Promessas... Talvez se não fosse um pouquinho quem sou, conseguiria cumpri-las, mas novamente me esqueci de que meu nome é Patrick Wild, o famoso problemático e ovelha negra da família. Conhecido por não cumprir juramentos – principalmente aqueles que são... impossíveis! Para variar um pouco, faço as coisas da forma errada. Sim, caro leitor, mais uma vez.

Juro que tinha colocado o despertador para tocar no dia seguinte, como se isso adiantasse algo. De fato ele tocou, mas resolvi o problema tacando-o no chão. Por que as aulas precisam começar tão cedo? Quem aguenta acordar de madrugada todo santo dia? Meu costume é levantar às dez e não às seis... E, em um extinto incontrolável – de preguiçoso – voltei a dormir, mas me esqueci de que aqui não tenho nenhum papaizinho para me tirar da cama e me forçar a ir à aula.

Era uma bela manhã. Se não fosse pelos passarinhos cantando e os raios de sol entrando pela janela, talvez nem acordasse tão cedo. Ainda deitado, me espreguicei e bocejei como quem tivesse dormido muito bem. Sentei e olhei para o lado. A cama de Duane, embora desfeita, estava vazia. Por um momento nem me importei, mas olhei novamente e me lembrei de onde estou: em um colégio interno, ao qual preciso ir para a aula na hora certa. Caso contrário, nem quero pensar nas consequências. Olhei para o relógio e me surpreendi: faltavam dois minutos para tarde demais.

Levantei em um sobressalto. Escovei os dentes com certa agressividade que fez minha gengiva sangrar e depressa abri o guarda-roupa. Não conseguia encontrar a droga do uniforme. Joguei todas as roupas dobradas no chão como um louco. Só depois me lembrei de que o havia pendurado atrás da porta para não me atrasar de manhã procurando-o. Peguei todo aquele monte e soquei dentro do armário, mas com todas as roupas emboladas, as portas não fechavam.

Deixei para lá e comecei a me vestir. Acho que sou a única pessoa capaz de colocar uma camisa social ao contrário... Ao perceber que não era possível abotoá-la, a vesti corretamente.

Peguei minha mochila e saí correndo pelos intermináveis corredores, tentando encontrar a sala da minha primeira aula que, por uma ironia cruel, era de Matemática. A pior matéria do mundo. Com certeza, a que tiro mais zeros. Terminava de fechar os botões e de ajeitar o cabelo quando finalmente a encontrei.

Não precisei bater na porta. O professor parecia ter olhos de águia. Encarou-me com um olhar sério, me deixando constrangido. Todos se viraram para me fitar. Acho que devo começar a me acostumar com isso.

– Sr. Wild?

Olhei para trás para ver se ele se referia a outra pessoa. Levei alguns segundos para me lembrar de que este era o meu sobrenome. Mas que droga é essa de "Sr. Wild"?

– Sim – respondi baixinho.

– Sou seu novo professor de Matemática, Sr. Solemn. Enfim decidiu juntar-se a nós? – disse baixo e lentamente.

A minha cabeça ainda estava zonza pela intensa correria. Aquele professor parecia chato e monótono demais. Era um cara velho e gordo. Calvo e de óculos. Usava uma gravata borboleta e suspensórios para suas calças. Sua roupa social parecia estar muito apertada. O pouco cabelo que lhe restava estava muito bem penteado, com o intuito de tampar a careca.

Sabia que me defendia melhor calado, mas aquele professor insistia em fazer perguntas das quais não sei como responder.

– É... Fazer o quê, né? Já que não tenho alternativas...

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