Fiquei irado.
Com razão, claro. Se você tivesse que passar um dia inteiro olhando a cara sem graça daquele diretor, também se sentiria assim. Porém, ele parecia nem se importar com a minha presença. Aquele era, com certeza, o pior castigo pelo qual passara em toda a minha vida. Em minhas antigas escolas, as punições costumavam ser trabalho voluntário ou ficar depois da aula "fazendo" algum tipo de tarefa. De fato, eu não fazia nenhum desses, mas era impossível fugir da detenção deste colégio.
A tarde custou a passar. Contava os segundos passarem mentalmente, marcados pelo relógio à minha frente, tentando calcular quanto tempo ainda restava. Observei cada canto da sala, que parecia ficar menor a cada instante.
Atentei-me mais do que gostaria nele. Não era gordo, nem magro. Não era alto, nem baixo. Na verdade, nada nele era inusitado, tinha a aparência comum de um diretor de escola. Poucos cabelos grisalhos, olhos pretos penetrantes e uma postura rígida. E pelancas, claro, que se balançavam a cada movimento seu.
Minha bunda ficou dormente por ficar mais de duas horas sentado sem fazer absolutamente nada. Quando tentei cochilar na cadeira, chamou minha atenção, alegando que era proibido dormir durante a detenção e acrescentou-me mais meia hora.
Minha pouca paciência estava se esgotando. Batia o pé compulsivamente na madeira antiga do chão. Esperava que me repreende-se para quebrar o silêncio e me dar a satisfação de tirá-lo do sério, mas não funcionou. Apontou para o seu relógio de pulso e presenteou-me com mais trinta minutos.
Não tinha escapatória: se queria escapar, precisaria seguir seus métodos.
Era quase noite. Ao todo, foram três longas horas. Fiz contagem regressiva na minha cabeça no minuto final. Felizmente, continuo vivo. Comemoraria, mas a espera me deixara exausto. Ao término da punição, alertou-me:
– Deve estar cansado de ouvir isso, mas entre na linha. Não faça mais nada imprudente.
– Sabe que foi um acidente – murmurei com a voz mais rancorosa que pude.
Ele deu de ombros, em desdém.
– Vou perdoá-lo desta vez, mas não quero ficar olhando para a sua cara revoltada de novo.
Eu é que não quero ficar olhando para essa sua cara novamente – pensei.
Ele terminou de guardar seus relatórios e me liberou. Rastejei até o meu dormitório, resmungando coisas inaudíveis.
No dia seguinte, após a aula de Filosofia, encontrei MMS e sua gangue no corredor do terceiro andar. Confesso que minha intenção era ignorá-lo, mas me perturbar parecia ser o passatempo favorito dele. Passei pelo outro lado do corredor, mas de nada adiantou. Veio ao meu encontro e falou por trás:
– Está com uma carinha meio deprimida... Ficou de castigo a tarde toda, bebê-chorão?
– Cala a boca. Não tenho que ouvir isso de você – disse, ainda de costas.
Ele apressou o passo e pôs-se à minha frente, barrando a passagem com o braço.
– Está nervosinho, Wild?
– Me deixe em paz, seu idiota. – Deveria ter tomado mais cuidado com o vocabulário.
– Wild, acho que não devo permitir que fale assim comigo. – Sua voz engrossou de repente. – Galera, vamos ensinar bons modos para esse cara.
A ideia pareceu animá-los. Todos deram risadas e estalaram os dedos. Deveria dar uma de covarde e implorar pela minha vida, mas estava de saco cheio dele.
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Teenagers #1
Teen FictionPatrick Wild. 15 anos. Eleito o pior aluno da classe. Também conhecido como ovelha negra da família. Já mencionei que ele bombou em matemática e quase foi expulso da escola? Pois é, agora nem adianta apelar com sua cara de cãozinho abandonado para o...