Condenado como réu

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Sei muito bem que, por mais que tente fazer tudo certo, como qualquer outra pessoa, não irá funcionar – ou talvez dê até pior do que realmente deveria. O universo deve gostar de conspirar contra mim... Neste dia, parecia que tudo correria bem. Pelo menos, foi isso que pensei.

Como sempre, estava errado.

Acordei cedo naquela segunda-feira. Jill me dissera que acordar cedo era um bom começo para ter um bom dia de aula e, quem sabe, o início para ser um bom aluno. Despertei-me com os sons de suas batidas na porta do dormitório 19. Levantei resmungando alguma coisa incompreensível e coçando os cabelos bagunçados, enquanto Duane roncava baixo. Abri a porta.

– Patrick? – sorriu carinhosamente. Já estava vestida com o seu uniforme.

– Jill?! O que você está fazendo aqui? – Enrubesci imediatamente por me lembrar de que estava de pijama.

– Hãm... Íamos tomar café da manhã juntos, lembra?

Não, ainda não. Minha mente estava devagar e sonolenta, mas não queria que ela soubesse disso.

– É claro! Acho que dormi demais, só isso.

– Se quiser, podemos marcar outro dia. Você parece meio atrasado...

– Não, não, não! Posso me arrumar em dez minutos, não se preocupe.

Fechei a porta. Depois, voltei a abri-la.

– Volto em um instante.

Ela balançou a cabeça e deu um meio sorriso. Refiz as mesmas ações.

– Não saia daí! – insisti.

– Não se preocupe Patrick. Não vou a lugar algum. – Ela dizia enquanto tornava a encostar a porta.

Passado o tempo, fomos tomar café. Jill percebera que havia penteado o meu cabelo daquela forma "lambida" e tradicional de alguns alunos daqui. Tinha adorado e dito que parecia um cara mais maduro e responsável. (O que um pouco de gel não pode fazer?) Mas, ainda assim, não me sentia confortável. Deu-me mais algumas dicas para não fazer besteira e fomos para a aula. Teria aula de Literatura e ela de Física, então só poderíamos nos ver novamente mais tarde. Ainda não havia tido essa matéria, mas não estava ansioso para conhecer mais algum professor chato e ter outra aula entediante. Mas fazer o que, né?

Cheguei ridiculamente cedo à aula. Só havia mais alguns poucos estudantes. Sentei nas primeiras carteiras – o que era péssimo –, deitei sobre o meu caderno enquanto esperava o professor.

Entrou na sala de aula. Ela era linda. Meus olhos brilharam ao vê-la. Tinha cabelos negros e curtos lisos, que faziam contraste com sua pele tão branca. Seu corte era moderno e tinha franja, que esvoaçava ao vento. Os olhos eram verde-esmeralda. Tinha um sorriso simpático estampado no rosto. Usava um vestidinho florido branco e sapatos baixos. Não parecia ser muito mais velha do que eu. Demonstrava ter dificuldades para segurar sua pilha de materiais e sua enorme bolsa. Não pensei duas vezes em ajudá-la. Era a professora mais bela que tivera em toda a minha vida.

Levantei e fui ao seu encontro. Perguntei, sem graça:

– Posso ajudar a carregar seus pertences?

– Já que você se dispôs... Sim, pode. – Deu um leve riso para mim.

Os materiais eram bem pesados e tive certa dificuldade em carregá-los por conta dos meus braços magrelos. Me senti um perdedor quando ela insistiu em dividir o peso.

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