Capítulo 4

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O dia amanhece com os berros e socos do nosso pai na porta do quarto, a dizer para levantarmos, pois há muitas coisas a serem feitas. É inacreditável como este homem consegue ser bruto e insensível, eu estou a cada dia com mais medo dele, a sua presença incomoda-me e parece que também me limita, ou restringe o meu comportamento, minha forma de ser e de estar.

Não chegamos nem em fazer a nossa higiene matinal e vamos diretamente cumprir as ordens do "papai".

Retiramos todas as mesas e cadeiras do outro quarto, para arrumá-las no grande corredor coberto por uma chapa, na verdade são os meus irmãos mais velhos é que fizeram aquilo. O Peter e o Toy junto do Lyon é que são os responsáveis por essa arrumação.

(O Peter é bem clarinho, o mais claro de todos nós, tem olhos negros de espessura delgada, cabelos lisos que nem do nosso pai, mas o dele cai num topete que o deixa bem fofo, tem 11 anos e sua estrutura já está bem desenvolvida. O Toy é o meu gémeo prévio, pois a nossa fisionomia é praticamente idêntica, a diferença é que ele está maior, mas somos mesmo bem parecidos).

Enquanto eles tratam das mesas e cadeiras, eu e o Alexander estamos a cuidar das louças, eu lavo e ele enxagua.

(O Alexander é mulato que nem o Lyon, são os únicos mulatos dos irmãos, tem cabelo liso com alguns cachos na ponta, olhos negros e bem arregalados parecem que estão sempre assustados com algo, é um pouco mais baixo do que mim, os seus olhos arregalados são o seu charme de fofura).

O Jeff está a esquentar comida de ontem para tomarmos o pequeno almoço. (O Jeff não é claro mas também não é mulato, tem lindos olhos negros puxados, possui algumas manchas no rosto, seu cabelo é todo cacheado, ele é o caracol do grupo, a característica que mais gosto nele é a sua bunda bem desenvolvida, é o mais fofo de todos nós).

O George encontra-se por algures aqui, deve estar junto com o nosso pai. A posteriori dessas primeiras tarefas, finalmente tomamos o nosso pequeno almoço. Passados algumas horas, começam a aparecer pessoas para comprar algo ou só para ficar aqui e tagarelar mesmo. Meu pai e os 3 irmãos mais velhos estão a preparar o almoço, pois nosso pai vende almoços, petiscos, carne de porco, torresmos, bebidas alcoólicas, sumos, etc.

A hora do almoço chega, não imaginam quantas pessoas preenchem este lugar, é pessoa por todo canto, eu ainda limito-me em apenas lavar as louças, já os meus irmãos que já habitavam cá, fazem tudo como se fosse uma coisa tão fácil de se fazer e como que se aquilo fosse normal para crianças que nem eles.

De vez em quando ouço aquela voz áspera ecoando pela casa, ele está sempre de cara fechada, parece que o mau humor é o seu estado dominante, ou está a gritar pelos meus irmãos a mandar boca, pelo que já sei também palavrões é normalidade por aqui, acham até graça.

Quando ele está a contar uma história/piada, a metade desta tem a ver com palavrões, ou está cheia deles, e o pior as pessoas riem com tanto vigor que chego a ficar estupefato com a reação deles.

De tarde já o movimento encontra-se mais descontraído, e assim aproveitamos para tomar banho, brincar e conhecer os nossos novos vizinhos.

Assim que desces a escada que nos leva à entrada principal, a frente desta deparas com uma casa separada por um corredor médio.

A casa é ocupada por 7 pessoas: os donos da casa que são bem simpáticos, a Mrs. Laura e o Mr. John, eles devem estar na casa dos cinquenta pela aparência, os seus filhos, Helber e Yara aparentam ter 30 e tal anos e Alyce que parece ser a menor com uns 13 anos por aí, e seus netos, Gaby e Yanick, o Yanick é mulato e bem fofinho, é filho da Yara, e a Gaby seus pais encontram-se viajados, ela é filha duma outra filha da Mrs. e Mr. Laura e John. A casa deles também é linda e bem equipada, parece aquelas casas de telenovelas.

São as primeiras pessoas que eu tenho contacto e não me sinto desconfortável. São bem simpáticos todos eles, gostei mesmo deles. Esta tarde passamos a conhecermos uns aos outros e é a melhor coisa que aconteceu até agora.

Após esta breve paz, o inferno marca presença novamente, ele já está a gritar-nos para subirmos. Com a aproximação da noite novamente temos de arrumar as mesas e cadeiras, jantar, ficar um pouco na ponta e depois ir dormir.

Já estamos no meio do ano, o mês de junho aproxima-se, e daqui a dois meses o Alexander faz anos, vamos lá ver o quê que vai acontecer.

E assim foram passando os dias: trabalhando, conhecendo mais os nossos vizinhos, brincando mas com mais raridade e tentando ser feliz, no meio deste lugar deprimente.

A família que eu sempre quis!Onde histórias criam vida. Descubra agora