Capítulo 11

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O dia até que parece estar agradável, verei se assim consigo esquecer do que aconteceu ontem, sem contar da vergonha que estou a sentir.

Não irei brincar com eles por uns bons tempos, pelo visto, não até a vergonha dessipar-se. Como estou de férias o meu dia não terá grandes acontecimentos, então nada de interessante irá acontecer também, provavelmente.

Esta porra de rotina cansa, todos os dias fazer a mesma coisa enjoa mesmo. Pelo menos eu tento fazer tudo certo para não sobrar nada para mim, já faz um bom tempo que não sofro nenhuma agressão física, não é pior do que as psicológicas mas não gosto que meu corpo fique marcado.

Por conseguinte, eu faço tudo ao meu alcance para não as ter, mas as palavras de bom dia, isso já escapo não, parece que é um dos propósitos da vida dele, ele ofende todos nós, mas comigo ele diz com repulsa, mostra ódio, desprezo, sendo assim não tem como não levar em conta porraaa, ele é meu pai e diz-me coisas muito piores que qualquer estranho alguma vez me dissera, dói muito, dói porque o que eu queria era somente que ele me amasse, ou tratasse-me duma maneira melhor, nem que fosse como os meus irmãos.

Mas por ter esse jeito afeminado, parece que é uma culpa que ele sente e então desconta em mim, mas eu não tenho culpa, eu sou assim, o meu jeito afeminado é algo que sai duma forma inata, às vezes eu tento controlá-lo mas não é fácil, porque parece que já é programado, então eu não tenho nada a fazer.

A única coisa que tento pelo menos é inibir o meu jeito afeminado quando estou perto dele, outra coisa também é a minha voz aguda, ele faz chacota dos meus agudos, meu deus! Eu tenho o pai mesmo, com um pai desses quem precisa de amigos! (Ironia).

Mas pelo menos é ele quem me dá 3 refeições por dia e um lugar para ficar, conscientizo que ao menos isso eu tenho, sei que existem pessoas que nem isso tem. Agora vou contar umas outras coisas também, o meu pai nunca nos manda estudar, não nos manda tomar banho, lavar a boca, comer.

Somos nós é que lavamos a nossa roupa, bom o mérito mesmo é do Jeff, e nem é na máquina não é à mão mesmo.

Também é o Jeff quem nos diz para ir tomar banho e essas coisas, ou seja ele não se importa nem um pouco com a nossa higiene, com as nossas notas, (mentiraaa porque se tirarmos notas baixas ou reprovarmos, vai ter sova e das boas, graças à deus ou à quem seja, nós todos somos bons alunos e nunca nenhum de nós reprovou, então esse não é um dos problemas), apesar de trabalharmos que nem burros não recebemos nada em troca, e ai de quem ousar revoltar-se ou dar uma de espertinho, vai é sofrer consequências gravíssimas.

Também vale à pena realçar que o Peter, o Toy e o Jeff são os que mais trabalham por serem os maiores, o Lyon já não está mais aqui, agora vive com a mãe, vem visitar-nos algumas vezes, mas volta no mesmo dia (sorte dele de ter uma mãe que o recebe, eu tenho a certeza de que ele não estava a aguentar mais por isso falou com a mãe e foi ficar com ela, para mim foi a melhor coisa que poderia ter feito mesmo).

Outro aspeto também é que o meu pai escolhe filhos, ele mostra diferença de tratamento, por exemplo, o Peter e Toy, principalmente o Toy são mais paparicados, porque até os clientes que vem cá dizem que o Toy é o mais parecido com o pai, e o Peter por ser o mais velho da casa no momento, também não sofre muito pesar.

O Jeff, o George e o Ale também não são muito ofendidos, mas são. O Alexander está agora com um vocabulário bem desprezível, pois ouve as barbaridades do nosso pai e fica a repití-las, e o pior é que eles acham engraçado uma criança estar a dizer estes palavrões.

Lembro-me duma briga que acontecera entre o Peter e o Toy, e o palerma do nosso pai achou graça, porque o Toy é mais novo que o Peter, é claro que o Peter deu-lhe uma boa sova, só que o Toy por ter um temperamento mais agressivo e arrogante, não queria aceitar a derrota e ficou a fazer escândalo, ou seja, assim ele estaria a ser igual ao nosso pai dando uma de valentão, e o pior ou, o melhor é que ele ganhou pontos no velho, ele não os socou por terem brigado, mas como ficou até contente pela forma que o Toy reagira por causa da derrota e do Peter também ter marcado o território (mostrando que é ele quem manda).

É inacreditável a maneira que este homem pensa, eu não sei que consequências isso teve neles, mas no futuro há de se saber, também não tem nada a ver comigo, eles que façam o que quiserem, cada um com a sua consciência.

A minha mãe agora já vem visitar-nos mais vezes, ela traz coisas doces, e ficámos lá em baixo, pois não pode pisar na casa dele, conversamos e depois ela vai embora. Quando subimos encontramos o nosso pai a dar seu showzinho:

-Vocês são uns ingratos, seus filhos da puta, ela não é mãe! Uma mãe que abandona os filhos e depois vem enganá-los com coisas doces e porcarias, que espécie de mãe é esta, eu não a considerava como mãe, teria ódio mesmo dela.- fica a dizer tudo isto.

-E principalmente você- ele aponta para mim.- Seu sem vergonha, ela abandonou-te aqui, ias atrás dela ela batia-te e mandava-te para subires, mas ficavas a gritar que nem uma putinha, mãe, mãe! Mãe do caralho porraaa, isso é mãe? Isso não é mãe isso é nada é o que é.- como fico a encará-lo ele diz- Saia da minha frente com esta cara de franguinha, antes que te dê uma boa lição agora mesmo, sem vergonha, maricas do caraças, panduleiro, e ainda ficava a gritar com aquela vozinha insuportável: mãe, mãe, fracote mesmo, saiaaa- diz ele.

E eu o quê que eu tenho a fazer? Sair de perto dele para não levar, vou procurar alguma coisa para fazer ou, vou para o meu quarto chorar.

É mesmo triste quando ele reage assim, eu fico a perguntar-me como são os pensamentos do meu pai, será que ele tem empatia? Ou amor ao próximo?

E vejo que é inútil pois nunca hei de saber o quê que se passa na mente deste homem, é mesmo assustador as suas atitudes, não tenho receio nenhum de dizer que eu tenho medo do meu pai, o único sentimento que tenho a clareza que eu sinto por ele é este, o medo!

A minha mãe de facto quando vem somente traz doces, e ficamos a falar, e ela ficou a tratar-nos bem, com isso eu estou a gostar muito mais dela do que do meu pai.

Eu nunca tinha convivido com o meu pai e quando finalmente o faço é a pior coisa que acontece na minha vida, digam lá se não é desgastante e pouco motivador?

É sim, eu sei que é. Mas fazer o quê, a minha mãe diz que não tem condições para ficar com a gente e que devemos obedecer o nosso pai e aceitá-lo da maneira que ele é, irónico não é, ela não conseguiu aceitar, agora quer que a gente (crianças) aceitemos, hipocrisia mesmo, seria a palavra mais exata.

Eu pergunto-me como é que ela consegue dormir mesmo, como uma mãe sabendo de tudo o que o seu filho está a passar, mantém-se pacífica perante tudo, eu não entendo mesmo, se ela não soubesse tudo bem eu procuraria perceber, agora ela sabe, ela sabe porque eu conto-lhe tudo o que o meu pai faz, mas vem só com conversas sem argumentos válidos, pouco convincentes e refutáveis, irrita-me muito isto!

Ainda eu estou a tentar ser forte e ignorar as atitudes reprováveis do meu pai, mas um dia hei de cansar-me, só quero ver quando este dia chegar, só quero mesmo!

A família que eu sempre quis!Onde histórias criam vida. Descubra agora