Hope |c.t.h|

Capítulo 8

I don't know why I keep letting you lie to me
Hard as I try it seems I can't break away
I thought that you would be the hero
Come and save the day
But you're a villain
Your sins un-forgiven

- Alessia Cara
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Sinto suas mãos passarem por cada centímetro do meu corpo. Seu toque é tão familiar, como se eu soubesse exatamente cada passo que ele tomaria antes mesmo dr tomar.

Vejo seu rosto, as linhas bem marcantes em perfeita harmonia enquanto ele não tira os olhos dos meus.

Seus dedos compridos vão se arrastando pela parte interna das minhas pernas, se aproximando cada vez mais da minha intimidade, enquanto Calum beija meu pescoço.

Sinto seu toque gelado e estou pronta para me render totalmente a ele, deixar que ele faça o que quiser.

Mas de repente Calum não é mais Calum. Seus cabelos estão um loiro queimado, sua pele mais branca e os braços mais finos.

Calum não é mais ele mesmo mas sei exatamente quem está entre as minhas pernas.

Aiden.

Me levanto correndo da cama, sentindo o suor escorrer pela minha pele enquanto meu coração bate mais rápido que nunca.

Era só um sonho.

Não importa o quanto eu fuja, o quanto eu tente esquece-lo. Aiden sempre volta.

Ele sempre volta para me assombrar. Eu sou prisioneira da lembrança que ele deixou, ainda tão vívida que consigo sentir seus dedos passando pelo meu corpo.

Me sinto suja, imunda e repulsiva. Igual a última vez.

Ainda lembro perfeitamente cada segundo daquela noite, não importa o quanto eu tente esquecer. Ainda sinto suas mãos me apertando enquanto ele estocava violentamente e eu gritava por ajuda.

Consigo sentir seus tapas e as palavras que ele dizia enquanto me estuprava mais uma vez.

Eu podia gritar, eu podia lutar mas nunca conseguia fugir. Ele sempre me encontrava.

Sempre.

Deixo a água escorrer pelo meu corpo enquanto me acalmo, deixando as lágrimas saírem.

Estou cansada de ser prisioneira de alguém que já nem é presente na minha vida.

Cansei de ser prisioneira da lembrança de Aiden.

Uma batida na porta me acorda do transe, fazendo com que eu coloque rapidamente o roupão, indo em direção a porta.

- Bom dia. - Seu sorriso imenso aparece, me fazendo esquecer de tudo que estava pensando nos segundos antes de vê-lo.

- Bom dia Calum. - Digo, sorrindo. - Pode entrar, já estou quase pronta.

Vou em direção a mala enquanto ele vai até a cama. Me permito admira-lo por alguns segundos, vendo seus braços tatuados descobertos enquanto os músculos das suas costas se sobressaem na camiseta preta.

- Ah... Cassandra? - Ele diz, fazendo com que eu vire para ele. - O que aconteceu?

Olho confusa para o garoto moreno a minha frente, sem entender a sua cara de assustado. Ele aponta para minha cama e eu logo me aproximo para entender.

É sangue.

Os lençóis estão cheios de sangue. Meu sangue.

Uma lembrança enche meus pensamentos.

Eu deitada no chão sentindo o sangue sair pelos meus braços enquanto eu olhava para as estrelas acima de mim. Sentindo a vida deixar meu corpo, depois de estar tão cansada de lutar, depois de mais uma noite em que Aiden me segurou embaixo do seu corpo.

Eu sentia a vida sair pelos cortes verticais nos meus braços mas a verdade é que eu não me sentia viva, era como se tudo dentro de mim estivesse morto. Como se eu fosse só um corpo vivendo automaticamente, sem sentir nada.

Nunca pensei que o nada doesse tanto, que o vazio que preenchia o meu peito fosse tão doloroso.

Lembro de ter a vista embaçada, não sabia se pelas lágrimas ou se porque estava mais perto da morte, antes de lembrar do meu pai.

"Procure a luz dentro de você, patinha."

Era uma lembrança tão longe da minha realidade atual mas talvez ela estivesse mais perto do que eu imaginava.

Talvez eu ainda não fosse uma nova Cassandra e sim a mesma que tentou tirar sua vida, mas que agora gostava de fingir ser outra pessoa.

Talvez eu ainda fosse a garota que não fugiu do garoto que a estuprava e batia rotineiramente, que preferiu morrer a fugir.

Talvez eu ainda fosse cercada da mesma escuridão e nunca tenha encontrado a luz, e sim ligado a lanterna.

Calum logo levanta as mangas do meu roupão enquanto estou paralisada, rolando seus dedos pelos meus braços enquanto divide o seu olhar entre os meus olhos e os machucados.

- Cass, o que aconteceu? - Ele diz nervoso, enquanto olha meus braços e mãos, cheios de marcas de unhas, tão fundas que se enfiasse-as um pouco mais eu pudesse encontrar os meus músculos.

Eu tenho um problema em que eu cravo as unhas na minha pele quando estou nervosa demais mas normalmente nunca me machuco assim, eu sei me controlar. Ou talvez eu ache que eu sei.

- Eu... Eu não sei. - Digo, sentindo as lágrimas já escorrendo pelo meu rosto mais uma vez. - Eu tive um pesadelo... Eu não sei... Calum, eu juro que não queria me machucar. Eu juro, Calum. Eu juro.

Ele me abraça apertado enquanto eu choro mais uma vez. Eu estava tão em transe no banho que nem notei os machucados.

Deixo meu corpo relaxar entre seus braços, sentindo o mundo a minha volta cair.

Eu não podia ser aquela Cassandra, não mais. Eu não podia mais acordar deitada no meu sangue. Eu não queria mais ser assim.

Eu não queria mais desistir de lutar. Eu não queria ligar a lanterna para afastar a escuridão, eu queria ser a luz. Eu queria iluminar tudo a minha volta para nunca mais me ver cega, completamente mergulhada no vazio que tanto me assustava.

Eu queria brilhar tanto a ponto de nunca mais ver a escuridão.

Sinto meu peito afundar, duvidando de que algum dia eu tenha a força suficiente para tudo isso.

- Shhhh. - Calum diz com a boca na minha cabeça. - Tá tudo bem, Cass. Tá tudo bem, você não tá mais sozinha. Eu estou aqui. Vai ficar tudo bem. Você não está mais sozinha.

E foi assim que eu soube.

Vai ficar tudo bem.