Encontrada

Capítulo 2

  Cassie e Ágata foram embora,  fiquei sozinha para que pudesse me lavar e vestir para o jantar.

  O ritual de vestir e ser maquiada para ver apenas algumas pessoas me parece desnecessário, mas ter uma pessoa passando pincéis de forma metódica no meu rosto me acalma, então resolvi simplesmente não reclamar.

 Quase sempre é a mesma garota, em momentos assim costumo ficar mais calada do que já sou naturalmente, o que faz de mim praticamente parte da mobília de tão quieta, por isso a menina entra calada e sai mais muda ainda.

  O vestido de hoje é de um tom de rosa queimado, tem algumas rendas aqui e ali, nada muito chamativo, mas ainda sim pomposo, é cumprido, quase todos os vestidos para este momento do dia são, acho que as pessoas daqui sentem indigestão com pernas expostas na hora do jantar.

  Eles devem ter algum problema com calças compridas também, já que não vi nem sinal delas por aqui até agora.

 Sento na mesinha e espero pelo horário de descer, houve uma época em que me preocupava de me atrasar. Essa época era mais ou menos há uma semana atrás, antes de notar um padrão: sempre ficava pronta uma hora antes da hora do jantar, me traziam um chá, para abrir o apetite e ajudar na digestão (segundo Ágata) e vinte minutos antes de a refeição ser servida ela aparecia para me buscar.

 Sempre Cassie aparecia quase que por mágica em algum ponto do caminho para se juntar a nós.

  Olho para fora, o sol está alto no horizonte, por aqui os dias duram mais, quando escurece de fato já passa das 21:30. Isso dificultou meu sono durante algum tempo, não tenho uma explicação plausível pra isso, nos Estados Unidos só dormia de fato lá para as 22:30, enquanto isso enrolava com os livros acabando com a minha visão tentando ler à luz do luar, ter a cama do lado da janela as vezes era uma vantagem. Meu livros favoritos estão por aqui, obviamente não os mesmo do orfanato, mas versões caras em capa dura e novas em folha, todos no meu idioma. Por mais incrível que pareça não me surpreendi, todos que tem contato comigo por aqui falam inglês, não é algo que realmente surpreendente, pessoas que ocupam um lugar desses deve estar preparado para se comunicar com pessoas de outros países.

  Não que tenha restado muito do mundo para ter diversidade de famílias reais de diferentes povos para se comunicar.

  Fora a isso não tem muito o que fazer para acabar com o tédio e eu já cansei de ler, então apenas encaro o tampo de mármore da mesa à minha frente fico buscando por algum tipo de padrão, depois por rostos e por fim imaginando quanto mármore é possível se colocar dentro de uma habitação apenas, depois de algum tempo de reflexão chego à conclusão de que superaram a meta aqui.

  E então uma batida à porta, leva um minuto para que eu me lembre da minha parte nisto.

  - Entre- digo em um tom comedido, o que seria aceitável para uma dama.

  - Vossa alteza- Ágata faz uma reverência e depois de me ver assentir fecha a porta.

  Eu me levanto, pronta para ir quando vejo que ela tem uma pasta de couro nas mãos.

  - Com sua permissão?- Eu assinto para que ela continue- Como ordenado por Vossa Majestade, sua mãe, está aqui o cronograma da senhorita para o dia de amanhã- ela caminhou até mim para entregar.

  - Deixe sobre a mesa, por favor, vou ler quando voltar, estou faminta Ágata e acredito que celulose não é de fácil digestão, então vamos por favor?- disse indo em direção a porta.

  O bom humor quando se está com fome é uma virtude e infelizmente não está no meu hall de qualidades.

  - Como quiser alteza- ela colocou a pasta sobre a mesa-Mas como sua tutora de etiqueta devo lembrá-la que a procrastinação não se constituí como uma das virtudes necessárias a um bom monarca- fazia apenas duas semanas que eu a conhecia e já tinha aprendido uma de suas maiores características: Ágata sempre consegue dar lições de moral como se estivesse falando do clima apenas, muita classe da parte dela e saco cheio da minha, posso jurar que já recebi umas duzentas dessas desde que cheguei aqui.