Confusões

15 1 0
                                    

— Cara, o filme foi fantástico! Eu simplesmente saí com mais energia daquele cinema. Acho que agora tenho mais uma desculpa para gastar minha mesada sem ser… Jisung? — o esverdeado tirou-me da pequena viagem que fazia em seu rosto, parando de contar sobre seu dia e chamando por um nome que eu sabia muito bem — Está olhando para o quê? — olhou para trás, procurando algo que talvez roubasse a minha atenção. “Ah, não está tão longe, Lele” pensei, porém apenas pensei.

— Não é nada. Eu estou escutando, pode continuar falando. — disfarcei, apenas movendo um pouco a cabeça enquanto ajeitava-me melhor em minha cama.

Na verdade eu não estava escutando nada. Era assim desde do sexto mês do ano passado, eu não conseguia focar muito em suas palavras, eu focava apenas em seus mínimos detalhes; aquela manchinha no rosto que não foi vista por ninguém, aquele traço ao lado dos olhos a um sorriso pequeno ou nos movimentos que seus olhos faziam ao contar sobre suas curtas aventuras.

— Eu queria, mas já são sete da noite e você sabe, — colocou seu dedo indicador à frente de seus lábios que desenhavam um sorrisinho — a minha mãe irá me fazer comer a porta do meu quarto caso eu chegue tarde demais.

Sorri junto a ele, levantando-me da cama lentamente e vendo um Chenle preguiçoso me seguir até a sala. — Mãe, eu vou levar o Chenle em casa! Já volto!  — gritei, mesmo que não fosse escutado em praticamente nada na minha própria casa. Segui para a porta, esperando a saída do outro, já fora da residência. — Quer apostar quanto que se eu voltasse uma hora da manhã eles não ligariam?

— Pensei que a família Park fosse melhor cuidando uns dos outros... — ele pareceu hesitante ao proferir aquilo, decerto que falar da família de outra pessoa é um pouco “delicado”, mas quando se tratava da minha não era necessário.

A família Park lidava entre si de forma indiferente, não havia amor, não havia harmonia. Em dias especiais do ano, como o Natal, eu apenas sonhava em ter uma família à mesa, rindo das piadas dos tios, beliscando os pratos antes da ceia, perguntando sobre a vida um do outro, porém meus sonhos são apenas sonhos, nada mais que isso.

— Eles apenas estão para reproduzir, parecem animais. — senti o olhar do Chenle sobre mim, possivelmente e levemente assustado com o que eu falei. Não é novidade para ele, como meu amigo, ter um eu sendo totalmente insensível para falar sobre família, entretanto era e é apenas a verdade. — Se quiser criticar minha família não tem problema, aproveita e entra mesmo barco que eu. 

— O quê? Não, só você pode, mas se eles fizerem algo contra ti, pode me chamar para entrar no mesmo barco. Espero que você saiba andar de barco. — sentia o som da sua risada chegando a meus ouvidos, para um tolo que provavelmente está apaixonado parecia uma melodia, na verdade tudo que vinha do Chenle parecia especial e único demais pra mim.

E era esse o principal problema: tudo era demais. Ele era bonito demais, ele era doce demais, ele era fofamente confuso demais; meu amor por ele era demais. Pergunto-me todo dia como foi que me apaixonei pelo meu próprio amigo, deixei tudo simplesmente ficar demasiado intenso, mas a realidade é que eu não poderia parar e droga! É tão bom, mas é tão ruim. É tão bom sentir-me leve perto dele, é tão ruim viver escondendo algo tão grande, estava tudo errado, mas é um erro que ninguém precisa saber, aliás, eu não queria perder meu amigo e meu lar.

— Você quer entrar, Jisung-ah? — talvez eu tenha pensado demais durante nossa caminhada até à morada de Chenle, se o esverdeado não tivesse chamado minha atenção eu teria batido literalmente com a cara na porta de sua casa  — Você parece tão inerte de um tempo para cá… É sua família? Nossa, eu nunca parei para pensar em como isso é complicado. — cruzou os braços, colocando um pequeno bico nos lábios e elaborando uma pequena cena em modo pensativo. Tão fofo, imaginei.

My Sweet Labyrinth - HiatusOnde histórias criam vida. Descubra agora