Prólogo

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Reyna estava em seu quarto quando Thomas bateu na porta. Usava o vestido de noiva que tinha sido da sua mãe e mal se reconhecia ao encarar o enorme espelho que tinha sido colocado ali naquela manhã quando a equipe chegou para prepará-la. O vestido tinha uma cauda longa, era todo em cetim branco, brilhante e impecável, e apenas pequenos ajustes tinham sido feitos na peça para que ela usasse naquele dia, uma vez que sua mãe era menor que ela. Era de mangas compridas e sem decote, a gola alta finalizada com uma pequena tira de renda que arranhava seu pescoço, e Reyna estava grata pelo clima frio do outono. Seu longo cabelo negro tinha sido preso em um coque firme que já estava lhe dando dor de cabeça, e ela tinha sido presenteada por Thomas com uma pesada coroa de pérolas para usar especialmente naquele dia. A garota apertava o buquê de flores-de-lis com tanta força que provavelmente o teria destruído se a batida na porta não tivesse lhe trazido de volta para o presente. Reyna tinha apenas dezenove anos e, assim como sua mãe tinha feito na sua idade, teria um casamento arranjado com um dos herdeiros do rei.

Ela gostaria que Luna estivesse ali. Seu relacionamento com a irmã estava indo por água abaixo desde que o casamento tinha sido anunciado, e a mais velha sequer se incomodou em estar presente enquanto Reyna se arrumava. Tudo bem que ela estava se casando por dever e não por amor, mas ainda assim se sentia nervosa e gostaria de um colo amigo antes que toda a sua vida mudasse. Mudasse novamente, como tinha mudado quando seus pais morreram. Pelo menos ela tinha algum relacionamento com Jake, ainda que fosse apenas de amizade - e uma quedinha mal resolvida, e acreditava que poderia ser feliz ao seu lado.

- Pode entrar.

Tentou sorrir para Thomas, mas duvidou que estivesse conseguindo esconder muito bem o nervosismo. O rei de Pretória se aproximou dela com um sorriso, e tinha lágrimas felizes nos olhos. A bengala que usava naquele dia era preta com um punhal em ouro branco, e não pela primeira vez ao vê-lo mancar Reyna pensou em como tinha sido o pai dela quem o afligiu aquele dano permanente.

- Você está tão linda, Reyna. A noiva mais linda que eu já vi.

Ela sorriu mais verdadeiramente com o elogio. Apesar dos muitos percalços no caminho, Thomas nunca tinha sido nada além de gentil com ela e com Luna.

- Sei que Rael vai entrar com você na igreja, mas eu posso pelo menos te acompanhar no carro?

- Claro que sim, Thomas. Afinal, agora mais do que antes vamos ser da mesma família.

Ele se sentou ao seu lado e por um momento Reyna achou que ele falaria alguma coisa, mas o rei permaneceu calado. Então suspirou, ajudou que ela se levantasse, e disse que estava no horário. Reyna não falaria isso jamais, mas se pudesse escolher preferiria entrar na igreja com Thomas que com seu tio Rael. Ele e Ravi eram gêmeos, e mesmo anos após a morte do pai, Reyna ainda achava extremamente doloroso conviver com alguém tão parecido com ele, mas que tratava ela e Luna com tanta indiferença. Pelo menos agora que ela se casaria com Jake as coisas iriam melhorar, e Rael pelo menos fingiria interesse nela por ser a futura rainha.

Melhoraria em todos os sentidos. Ela não era tola: sabia que seria por interesse das pessoas, mas preferia ter as atenções voltadas para si por ser a esposa do herdeiro que por ser a filha de um traidor. E casar com Jake não seria nenhum sacrifício. Ele era bonito, inteligente, e sempre foi muito gentil com ela, mesmo quando o resto do mundo lhe virou as costas após o exílio de seu pai. Eles sempre foram tão amigos, e o que era o primeiro passo para o amor se não a amizade?

Foram em um carro fechado, mas mesmo com as películas escuras era possível saber que eram eles pelo emblema real no vidro. A população pretoriana, sempre tão reservada, ocupava as ruas e acenava para sua futura rainha, rindo e festejando. Balões e bandeirinhas brancas enfeitavam os prédios, e mesmo sabendo o quanto aquela união estava sendo esperada a jovem noiva ficou surpresa com o amor que estava recebendo.

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