Monarca

Capítulo 3 - Haz la arte, no la guerra

Quando chegou em frente ao estúdio pela manhã, Reyna estranhou o silêncio. Em parte ela esperava encontrar o mesmo caos da noite anterior, com música alta e visitas presentes, mas Miguel a recebeu na porta de maneira muito profissional, oferecendo um café para Reyna tomar enquanto aguardavam a segurança dar o aval para que subissem.

Ela agradeceu e negou. Teria uma reunião assim que saísse do estúdio e tinha acordado cedo para se arrumar e tomar café da manhã. Também estava considerando se iria ou não almoçar com Luna, imaginando se o humor da irmã já teria melhorado.

- Conversei com René e expus minhas idéias, ele quer que eu comece algo do zero com você. Quando ele voltar vai reassumir o seu quadro, mas não precisa de preocupar. Vai ficar pronto logo, eu normalmente trabalho bem rápido.

- Tudo bem.

Talvez Miguel estivesse tentando compensar alguma coisa, ou talvez René tivesse lhe passado algum direcionamento sobre como ele deveria se comportar. Ele usava uma roupa limpa de tinta e o cabelo estava molhado, mas havia algo de ensaiado nos seus movimentos. Ou, talvez, ele estivesse simplesmente nervoso pela presença de Jasmine. A segurança o analisou dos pés a cabeça antes de subir, seus olhos de águia procurando por alguma ameaça nele ou no andar superior e acenando para Reyna ao descer, indicando que estava tudo certo e informando que a esperaria no corredor.

Ao subir, eles entraram em uma sala diferente da que René normalmente usava, muito mais bagunçada mas com a mesma estrutura. A única diferença notável além do material espalhado pelas mesas e no chão era o fato de ser muito mais iluminada. Talvez fosse impressão, mas Reyna podia jurar que ele tinha relaxado assim que fechou a porta da sala e deixou Jasmine para o lado de fora. Miguel até mesmo sorriu minimamente para ela pela primeira vez no dia, indicando que ela se sentasse no banco que tinha sido posicionado no centro nas luzes.

- Você tem alguma coisa contra Jasmine? - perguntou, e seu tom saiu mais defensivo do que pretendia.

Miguel franziu as sobrancelhas, confuso, parando de adicionar tintas em sua paleta. Estava de pé ao lado do enorme cavalete, e sua mente já parecia estar longe.

- Você quer adicionar jasmins na pintura? Posso colocar, se quiser. Mas Thomas tinha pedido flores-de-lis.

- O que?

- O que?

Eles se encararam por um momento, e Reyna imaginou se ele estava fazendo graça. Mas Miguel a encarava aparentemente confuso, segurando a paleta em uma mão e um tubo de tinta na outra, e ela resolveu dar um voto de confiança para ele.

- Jasmine - esclareceu, tirando o gorro e as luvas que usava - Minha segurança. Você parecia nervoso perto dela.

Miguel deu uma risada alta, parecendo ter entendido a confusão. Definitivamente, Reyna pensou, ele parecia muito menos nervoso. Mas logo parou de rir e largou o material, caminhando até ela. Reyna já tinha posado dezenas de vezes e conhecia o protocolo: passar horas na mesma posição enquanto um artista concentrado tentava deixar a imagem na tela impecável. Pelo menos era melhor que sessões de fotos, quando uma equipe inteira ficava lhe observando e ela precisava passar horas se arrumando.

- Com licença - ele ainda sorria, achando graça quando esticou as mãos para arrumar o seu cabelo, o colocando por cima do ombro depois de o pentear com os dedos. Estava tão próximo que Reyna podia sentir o cheiro do seu perfume, especialmente quando ele se inclinou para pegar algo no sofá ao seu lado. Então tocou o seu queixo, muito levemente, o posicionando ligeiramente para a esquerda para que olhasse na sua direção. As mãos dele estavam geladas, e fizeram Reyna se arrepiar. - Você pode ficar assim? Não vai demorar muito.