- Luna, o que significa isso?
Reyna tentou controlar a irritação na própria voz, mas achava não ter sido tão bem sucedida. Sua irmã baixou a xícara de café, se inclinando para pegar a revista das mãos trêmulas de Reyna. Para sua decepção, a mais velha deu um sorriso ladino ao ler o título da reportagem principal.
"As coisas serão diferentes quando eu for coroada"
"... A jovem disse não ter elogios para o atual rei, Thomas II, e deixou claro suas opiniões conservadoras a respeito do grande fluxo de imigrantes que atravessam as fronteiras de Pretória devido ao frágil equilíbrio político de Métria. Como informamos na edição anterior, o Parlamento estabeleceu o prazo de sessenta dias para que seja definida a sucessão do trono de Pretória, questão particularmente delicada desde o abandono das funções do então príncipe herdeiro, após o escândalo de traição envolvendo o pai de Luna e Reyna Monpezat.
Cabe lembrar aos nossos leitores que a irmã mais nova da provável futura rainha, atual braço direito de Thomas II, foi abandonada no altar em uma cena humilhante, a qual o povo pretoriano nunca poderá esquecer e da qual nunca se recuperou..."
- Ficou boa, não? - ela olhou para Reyna, percebendo sua tensão - Olha, eu não falei nada sobre o casamento. Mas você sabe como são essas coisas, as pessoas nunca esqueceram.
- Eu sei bem o quanto as pessoas não esqueceram! - retrucou de forma brusca. Apoiou suas mãos na mesa, ainda incrédula - Por que você deu essa entrevista? É completamente desnecessária, só deixa o povo pensando que estamos com rixas internas.
Luna levantou-se, igualmente irritada, e Reyna suspirou ao ver os empregados se retirarem para lhes dar privacidade. Era cedo e a mesa de café estava arrumada para as duas, mesmo que Luna tivesse começado a comer antes da irmã chegar. Não morassem mais juntas, mas Reyna a visitava com frequência, ainda que nos últimos tempos estas visitas quase sempre terminassem com um gosto amargo.
A mais velha continuava morando na ala do palácio que tinha sido oferecida às duas quando ela deixou a escola. Na prática era um apartamento de tamanho mediano, com uma bela vista para o jardim sul do castelo e suas fontes. Reyna tinha se mudado para uma área mais central e discreta após o escândalo de seu quase casamento, uma casa pequena a qual quase ninguém tinha o endereço e cujo acesso era rigidamente controlado por sua equipe de segurança.
- Estamos com rixas internas - frisou. - Só porque você se recusa a ficar ao lado da sua família de verdade, não significa que eu vou fazer o mesmo.
- Eu nunca não estive ao seu lado - se indignou. - De você você tira essas coisas?
A morena riu, em tom de deboche, antes de se aproximar da irmã. Reyna não se moveu, ainda que tivesse vontade de gritar com ela. Tinha passado a vida inteira ouvindo como era parecida com a irmã, como as duas poderiam ser gêmeas, mas nunca tinha conseguido enxergar tanta semelhança assim. Mesmo que já fosse uma mulher adulta, muitas vezes se sentia inadequada ao lado de Luna: não era tão alta ou tão bonita, ou tinha tanta presença e carisma. Por muito pouco ela se sentia pequena ao seu lado.
- Você anda para cima e para baixo com o responsável pela morte dos nossos pais, não dá a mínima para a memória deles. Você acha que papai aprovaria as políticas de Thomas? Por que motivo você acha que ele estava tão empenhado em tirá-lo do poder?
Reyna levantou o olhar, enfrentando Luna. Não suportava quando ela usava um tom tão condescendente, como se ela ainda fosse uma garotinha.
- Eu tenho a droga de um diploma em História Política, Luna. Você não precisa me dar uma aula, eu conheço muito bem a história do nosso povo e é por isso que eu sei que a sua atitude não nos ajuda em nada.
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Monarca
RomanceMiguel era apenas uma criança quando chegou no reino de Pretória para estudar arte, e logo se mostrou um prodígio. Ganhando a confiança e amizade da família real, se tornou amigo íntimo do príncipe herdeiro, noivo de Reyna. Aos dezoito anos, Reyna...