Miguel estava na sala de espera, aguardando ansioso que o médico chamasse. Não conseguia parar de balançar a perna, pensando em tudo que poderia dar errado e tudo que tinha dado errado. Lola tinha lhe mandado uma passagem, mas por sorte era apenas para o dia seguinte. Queria ligar para ela, mas pela maneira como Reyna tinha ficado incomodada com a última ligação ele decidiu que ligaria quando voltasse para casa. Só queria poder ver logo René e então se sentiria mais calmo.
Ele poderia ter ido no seu carro, mas Reyna insistiu que ele não deveria dirigir. E, se fosse sincero, gostava que ela estivesse ao seu lado mesmo que ainda não tivesse dito uma palavra para ele desde que tinham saído do estúdio. Tinha, sem dúvidas, sido a carona mais constrangedora de toda a sua vida.
- Para - ela pediu, colocando a mão no seu joelho. Sua voz estava surpreendentemente gentil - Tenho certeza que não é nada sério. Se fosse eles não te deixariam esperando tanto tempo.
Os corredores do hospital estavam pouco movimentados, e ainda que dois enfermeiros tivessem encarado Reyna e obviamente cochichado um ao outro sobre ela, ninguém os abordou diretamente. Provavelmente graças a Jasmine, que acionou os seguranças do hospital para alertar sobre a presença dela. Talvez por isso o movimento estava tão reduzido naquele setor.
- Desculpa. Por antes. Eu não gosto de discutir com você.
Ele arriscou olhá-la, mas Reyna continuava encarando o corredor à sua frente como se não tivesse ouvido. Miguel até pensou que ela realmente não tinha escutado, mas percebeu estar errado pela maneira como ela inclinou a cabeça na sua direção, mesmo que não o olhasse de frente.
- Tudo bem - respondeu, a voz baixa.
Miguel sabia que ela ainda estava chateada. Mas não podia deixar de considerar que, mesmo chateada, ela não tinha lhe deixado sozinho ali. Ele ainda estava olhando para ela, e não teria percebido o médico se aproximar se Reyna não tivesse se levantado.
- Como ele está?
- Melhor. - o médico tinha olheiras profundas, os cabelos grisalhos, e parecia mal humorado. - Sinto muito por termos ligado, mas você era o único contato de emergência dele. René tentou sair do hospital e então teve uma crise. Não reconheceu o lugar, brigou com os enfermeiros, mas tomou um calmante e voltou a dormir. Não acho que ele sequer se lembre de tudo... Mas está acordado agora e bem mais tranquilo, se você quiser falar com ele.
Reyna assistiu Miguel concordar, parecendo tão ansioso quanto estava antes. As palavras do médico não pareciam ter tido efeito algum sobre ele. Se estivessem a sós, ela teria segurado a mão dele.
- Preciso avisar que esse é apenas o começo - disse, com pesar. - Sinto muito por isso, mas vocês precisam se preparar. Ele não vai melhorar. Alguns dias serão melhores que outros, mas...
- Eu sei - Miguel interrompeu, em um tom derrotado - Posso ver ele agora?
Ela o acompanhou, incerta se devia ou não ir até o quarto. Conhecia René desde que tinha lembranças, é claro, mas seu relacionamento com ele era estritamente profissional, ao contrário do relacionamento que Miguel tinha com seu antigo mestre. Ainda assim, ela o acompanhou pelo corredor, já que ele não tinha lhe pedido que esperasse ali. Pelo contrário, parecia contar com a sua presença.
Miguel parou na porta do quarto com a mesma expressão ansiosa. Reyna o observou enquanto ele respirava fundo e mudava sua expressão para a bem-humorada que todos estavam acostumados a vê-lo. Ela não pôde deixar de sentir seu coração doer por ele porque sabia bem como era o sentimento.
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Monarca
רומנטיקהMiguel era apenas uma criança quando chegou no reino de Pretória para estudar arte, e logo se mostrou um prodígio. Ganhando a confiança e amizade da família real, se tornou amigo íntimo do príncipe herdeiro, noivo de Reyna. Aos dezoito anos, Reyna...