Bochechas de carvão

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Em uma noite de violentas rajadas de vento no reino de Nagi, em que uma forte tempestade com trovoadas ocorria, nascia o tão aguardado segundo príncipe. Aquele foi um parto arriscado, já que a rainha mal havia se recuperado após dar à luz ao seu primogênito. No entanto, mesmo fragilizada, ela juntou forças para trazer outro príncipe ao mundo.

As parteiras estavam apreensivas e nervosas. Elas tentavam trocar os lençóis encharcados de fluidos de cor vermelho vivo, enquanto prestavam assistência para a mãe deitada na cama, que parecia cansada e ofegante. Fracamente, a mulher pediu para olhar o seu filho pela primeira vez e, prontamente, uma das senhoras trouxe o recém-nascido e o entregou nos braços da rainha.

Com emoção, a mãe observou o rosto adormecido e tranquilo do filho. Ficou feliz ao sentir o odor adocicado de floral cítrico como sândalo da criança em seus braços, pois se tratava de um ômega. Tsutako Tomioka sorriu. Ela desejava tanto ensinar e dar amor ao seu filho ômega, porém sentia seu corpo pesar e seus olhos se fecharem gradativamente. O último suspiro foi dado entre um sorriso genuíno.

Após o velório da rainha Tsutako, a mulher que o rei considerava o amor de sua vida, o pai do príncipe recém-nascido encontrou coragem para visitá-lo pela primeira vez, mesmo em meio a muito sofrimento e lágrimas. A majestade pegou o filho no colo e observou-o com melancolia na face, triste por ter perdido sua esposa, no entanto, feliz por seu filho estar bem e com tanta saúde. Ele lembrava muito sua rainha: fios de cabelo tão profundamente negros quanto o céu noturno sem estrelas e orbes de um azul escuro como um oceano tempestuoso.

A família real sempre foi bastante orgulhosa de ser de uma linhagem de poderosos homens alfas e delicadas mulheres ômegas. Era a primeira vez que um soberano de Nagi estava diante de um filho ômega. Ele não sabia o que pensar sobre isso, já que era algo incomum entre eles. Contudo,com pesar, ainda fez um carinho breve na cabeça pequena da criança.

— Giyuu Tomioka. O segundo príncipe do reino de Nagi.

Deu ao príncipe o nome que Tsutako escolheu com tanto carinho e retirou-se do cômodo para ver como estava seu primogênito, o príncipe alfa herdeiro do trono.

Após meses, a notícia de um filho ômega espalhou-se rapidamente entre os plebeus e chegou aos ouvidos da nobreza. Muitos ficaram muito interessados no único príncipe ômega na história de Nagi. Com a chegada do primeiro aniversário do caçula, nobres curiosos compareceram em uma quantidade até mais significativa do que na festa do príncipe herdeiro. O rei notou que aquela seria uma oportunidade para oferecer a mão de Giyuu ao reino vizinho. Talvez um casamento arranjado melhorasse as condições do povo, já que o reino de Nagi sofria uma crise hídrica, que prejudicava plebeus e nobres.

Com o seu destino traçado em prol de melhorar a vida de seus súditos, o jovem Giyuu Tomioka cresceu trancafiado dentro do palácio. Ele recebia boa educação e vivia com todos os privilégios que seu sangue azul da nobreza proporcionava. Mesmo ciente do casamento arranjado, ele não conhecia seu futuro marido, porém não fazia mesmo questão. Ele apenas sabia que seu futuro compromisso era um alfa, um pouco mais velho que ele, do reino próspero de Taiyo.

— Posso sair para brincar agora? — perguntou Giyuu, entediado com as aulas de todos os dias.

— Mas você precisa aprender sobre as ervas medicinais. — respondeu Tamayo, que apenas sorriu amavelmente. Ela era a governanta beta do castelo, incumbida de ser a professora do caçula da família real.

Tomioka apenas encarou a mulher com um olhar de tédio evidente, no entanto, não tentou argumentar. Ele já sabia que isso não o levaria a lugar nenhum. Da janela de seu quarto, ele observava seu irmão mais velho Sabito, que treinava técnicas de luta e esgrima no pátio, acompanhado pelo braço direito do rei, Sakonji Urokodaki. Ele conteve a vontade de bufar de frustração.

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