Capítulo 29

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Aquele menino estava com os dias contados. Nico também, se o que o irmão dele estivesse dizendo fosse verdade. Não iria chorar pelos cantos por culpa de dois meninos, mas iria fazê-los chorar. Não havia dúvidas quanto à isso.

— Conta. — Ameacei — Vai lá, Peteca. Conta sua mentira.

Leo foi desfazendo lentamente o sorriso quando me ouviu chamá-lo por aquele apelido. Ele se lembrava de quando era pequeno e apanhava de mim. Eu o chamava de peteca por adorar meter a mão nele toda vez que me irritava.

— Fala, fio. — Minha mãe o incentivou, sorrindo como se fosse sempre simpática daquele jeito — Esses dois andam aprontando muito?

Leo olhou para mim antes de responder.

Tô de brincadeira, dona Leda. — Ele sorriu, parecendo quase fofo — Tô só implicando com ela.

Minha mãe não acreditou. Se virou para o meu irmão.

Vêm cá, Jaime. Senta no colo da mãe.

Com o dedo indicador na boca, roendo a unha suja, meu irmãozinho obedeceu, se sentando no joelho roliço dela.

Deixa de bobeira, Leda. — Meu pai interferiu — A Catarina e o Nico são amigo e não é de hoje.

Ah, homem, nós tamo curiosa. — Ela se virou para minha madrinha Sônia e sorriu, como uma menina travessa. Entretanto, eu a conhecia bem e ela me arrancaria o couro assim que as visitas fossem embora.

O que eu fi-fiz, mãe? — Jaime já estava se tremendo todo.

Nada, fio. — Ela passava a mão na cabeça dele, como fazia toda vez que alguém estava olhando, para se passar por boa mãe — Só quero saber se ocê viu o Nico e a Catarina na escola.

— Vi, uai.

— E eles faz o quê junto?

Jaime olhou para mim, confuso, depois voltou a olhar pra nossa mãe.

— Nada. — Respondeu ele simplesmente — Eles iam fazer o quê?

Minha mãe parecia ansiosa por tirar mais informações do meu irmão, porém, não seria conveniente se mostrar tão incomodada com Nico. Meus padrinhos obviamente ficariam ofendidos.

— Bão que quando a Catarina for namorar, cê bota o Jaime junto pra vigiar. — Madrinha Sônia riu, aconselhando minha mãe — E bem que eu preferia ela namorando o meu Nico do que com outro menino.

Aquilo foi surpreendente de ouvir, mas não mais do que o que veio em seguida.

— Ah, mas ia ser bão demais. — Meu padrinho, que raramente se manifestava, pareceu quase emocionado ao dizer isso — Eu ia fazer muito gosto. O Nico ficou pra morrer quando nós mudamos. Ele gosta demais d'ocê, Catarina.

Acabei sorrindo para o meu padrinho. Não sabia que palavras dizer a ele, mas era bom ouvir aquilo.

— Mas a Tatá nu-num pode namorar. — Jaime reclamou com voz manhosa — Ela ainda é pequena.

Todos riram.

— Sua irmã tá maior que a mãe dela, menino. — Meu padrinho apontou para mim — Daqui a pouco ela já vai namorar e casar.

— Num vai nada! — Ele pulou do colo da mãe e saiu correndo, indo para o quarto.

Fiquei sem entender o que estava acontecendo, assim como o restante dos adultos. Eles rapidamente começaram outro assunto, ignorando Jaime, mas eu resolvi ir atrás dele.

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