Capítulo 17

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Nico ficou momentaneamente estático. Mesmo no escuro, tive a sensação de que nem piscava.

— Cê tá pegando mentira. — Ele se enraiveceu — Disseram que cê até saiu mais cedo da escola.

Comecei a me irritar de novo.

— Eu menstruei na sala, seu bocó! Sangrei como se tivesse tomado um tiro!

— Ah. — Ele baixou a cabeça, completamente sem jeito — Eu não sabia.

Ambos ficamos sem graça, mas foi ele quem criou coragem para quebrar o silêncio.

— Meu primo ficou falando que cê tinha me feito de bobo. Ficou me chamando de boiola quando me viu triste. 

— Por isso ocê ficou com aquelas meninas? 

Nico fez uma expressão de estranhamento.

— Que meninas?

— Beca, Amanda e não sei mais quem.

Ele abriu um sorriso travesso.

— Ah, foi só uns beijinho.

— Cê é um fio das unha, sem vergonha! — Tentei dar uns tapas nele, mas Nico me segurou pelos braços, morrendo de rir.

— Ai, Catarina, num faz isso! — Ele tentava se defender — Eu num fiquei com elas.

— Ah, vai peidar na água e fazer bolhinha! — Cruzei os braços e fechei a cara outra vez — Não nasci ontem.

— Ô besta! Eu inventei que tinha ficado com elas pros meus primos parar de me chamar de boiola.

Não respondi. Continuei emburrada e Nico ficou tentando me fazer olhar para ele, mas eu desviava o rosto.

— Catarina, fala comigo, vai.

— Cadiquê ninguém achou a gente ainda? — Mudei de assunto. O sorriso largo dele me dava vontade de rir e eu precisava manter a pose.

— Deixa de ser boba. Não entendeu o jogo? Ninguém vai procurar ninguém.

— Ah. — Me senti muito ingênua quando ele me disse aquilo.

Nico ficou com um sorriso no rosto, brincando com uma folha de samambaia sobre o joelho, enquanto eu desejava não ter que sair daquele esconderijo tão cedo. Ficar junto dele, mesmo que não disséssemos nada um ao outro, era sempre bom.

— Catarina. 

— Quê?

— Fecha os olhos?

— Pra quê?

— Anda, não quero que cê veja.

— Cê vai fazer paiaçada, Nico?

— Num vou. — O rosto dele estava coberto por sombras das samambaias, mas dava para ver que sorria — Anda. É meu aniversário, eu to pedindo. 

— Ih, tá bão. — Obedeci e fechei os olhos — Mas se ocê fizer eu de besta, te cubro de cascudo.

— Cala a matraca, vai.

Esperei quieta até que senti a mão dele tocar minha bochecha. Foi de um modo tão gentil que amansou meu gênio bruto.

— Nico... Que... Que cê tá fazendo?

— Não abre ainda, ou vou ficar com vergonha. — Senti que ele estava respirando pertinho de mim ao dizer isso, mas não me afastei — Eu vou te beijar agora, tá bom?

— Tá. — Quase que a voz não saiu, de tão nervosa que fiquei.

Senti a boca dele tocar a minha e, de forma instantânea, uma sensação morna tomou meu corpo. Não consegui evitar abrir um olho para vê-lo e, se me lembro bem, um risinho me escapou no mesmo instante.

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