Capítulo 55

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Nico e eu ficamos conversando e rindo até que as piadas foram cessando pouco a pouco. Sobrou apenas a mágoa e um desejo de falar o que estávamos sentindo.

— Tá doendo saber que o Isaac me traiu. Preciso confessar. — Mirei o rosto dele ao lado do meu — Não que eu esteja apaixonada por ele, mas Isaac foi meu amigo todo esse tempo no Rio, sempre me ajudou, sobretudo com a escola. A gente saía junto, ria junto e tava sempre na casa um do outro. Nunca iria imaginar que ele me traía.

Só naquele momento comecei realmente a entender o que Gabi havia tentado me dizer. Eu conhecia mesmo Isaac? Eu sabia quem ele era de verdade ou estava apenas selecionando o que queria ver nele? A verdade é que parecia que, por precisar tanto de alguém para colocar no vazio que havia em meu peito, acabei ignorando todos os defeitos de Isaac. Só vi nele o que eu queria ver.

— Se ele fosse uma pessoa que aparentasse ser ruim, cê num ia deixar ele entrar na sua vida, Catarina. — Nico falou com serenidade. — Às vezes não dá pra adivinhar. Já ouviu falar que nem tudo que reluz é ouro? Tem gente que vai ganhar nosso carinho, nossa confiança e nos apoiar em muita coisa, mas um dia vai vir e apunhalar pelas costas.

— Eu até pedi perdão, acredita? — Balancei a cabeça de um lado e outro, rindo de raiva de mim mesma — Me sinto idiota agora.

— Cê não é idiota. Cê tentou fazer dar certo. O idiota é ele que te perdeu.

Na pouca luz daquele lugar não consegui saber se havia algo mais em seu rosto ao me dizer aquilo.

— Isaac foi muito especial na minha vida, Nico. — Analisei como aquela traição doía em muitos níveis — Foi uma fonte de força enorme pra mim esses anos.

— A Vanessa também foi. — Confessou ele, colhendo um cravo-amarelo que havia ali perto e brincando com o talo entre os dedos — Conheço ela há quase dez anos. Ela me ajudou muito, me deu força, tava comigo nos piores momentos, então nunca desconfiei dela. Era sem sentido imaginar que a pessoa que me apoiava em tudo ia tá dormindo com meu irmão quando eu saía pra trabalhar.

— Deve ter sido muito difícil. — Me virei para olhar nos olhos dele, escuros e intensos. — Cês dois tavam praticamente casado, né?

— Há quase um ano morando junto, então sim. A gente ia casar no papel em janeiro. Eu já tava vendo tudo. Vi até o preço dos móveis pro quarto do neném. — Ele sorriu e balançou a cabeça com tristeza — Aí, de repente, aquela alegria toda evaporou. Não tinha criança, não tinha mulher, nem família pra mim... Era tudo do meu irmão.

Comecei a pensar se ele estava mesmo apaixonado por ela ou se aquela tristeza tinha mais a ver com a traição que havia sofrido.

— O Leo tomou sua vida, Nico.

Ele exalava calma naquela noite, mas era triste ver como falava. Parecia resignado, como quem desiste da felicidade.

— Posso dizer que sim. A casa ficou vazia de uma hora pra outra. Eu fiquei sozinho e me sentindo um lixo. Meu pai e minha mãe fingiram que nada aconteceu e tão super felizes com o primeiro neto. — Nico olhou bem para mim — Eu não fiquei nem um pouco surpreso com o Leo, mas a Vanessa me destruiu, Catarina. Ela era minha amiga acima de tudo, assim como o Isaac era seu amigo. Uma traição só dói assim quando vem de quem a gente não espera.

— Sinto muito. — Abracei meus joelhos, driblando a vontade de tocar nele —  Cê não merecia nada disso.

— Cê muito menos. — Ele sorriu de forma melancólica para mim e me entregou aquela flor de cravo-laranja, que peguei com receio. Houve, naqueles segundos em que nos encaramos, uma sensação muito terna e reconfortante.

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