37- Coincidências ou destino?

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Franchesca na capa. ❤️

"Nada é permanente, exceto a mudança."

Heráclito.


Logo após o desabafo de Samantha, a expressão dela se suavizou, como se um peso tivesse sido tirado de seus ombros. Caminhamos pelo Hyde Park, sem pressa, aproveitando a calma do momento. Após nossa conversa, a troca de palavras foi se tornando cada vez mais aleatória e descontraída, mas minha mente ainda estava distante, presa àquilo que Sam havia revelado.
Ainda processava o fato de ela ter ficado grávida de Nicholas e sofrido um aborto, algo que nem ele sabia. A dúvida me consumia... Se ele soubesse de tudo o que aconteceu, será que o relacionamento de Amélia e Nicholas mudaria?
— Em que você está pensando? — Sam me perguntou, interrompendo os meus pensamentos.
Fiquei em silêncio por alguns segundos, tentando organizar as ideias. — Eu não entendo... Por que você não contou a verdade pra ele? Talvez as coisas entre vocês pudessem ser diferentes.
Sam deu de ombros, seu olhar vazio e pensativo. — Não achei que fosse necessário. E, sinceramente, nada mudaria, Priscila. Veja o que ele fez com você. Você acha que comigo seria diferente?
Eu não sabia o que responder de imediato. As palavras dela faziam sentido, mas algo ainda me incomodava. — Você tem razão... — murmurei, enquanto caminhávamos.
De repente, uma imagem me invadiu, como um déjà-vu. Estávamos exatamente no mesmo local onde, tempos atrás, eu havia sonhado com minha mãe. E, como um reflexo inesperado, a figura de Lucien apareceu na minha mente, roubando minha atenção mais uma vez.

— Samantha? — chamei, quebrando o silêncio que se formara entre nós.
Ela me olhou curiosa, como se estivesse esperando o que eu tivesse a dizer.
— Não sei se é possível, mas acho que conheci Lucien quando eu era criança. Mas, ao mesmo tempo, talvez seja só um delírio meu... — minha voz vacilou um pouco no final, como se eu mesma não acreditasse no que estava dizendo.
Samantha franziu a testa, visivelmente intrigada. — Como assim? Me explica.
Então, com detalhes, contei tudo o que lembrava: o sonho, a sensação de familiaridade, a conexão inexplicável. Ela me escutava com atenção, os olhos arregalados, como se estivesse ouvindo uma história incrível. Eu ri internamente com a surpresa estampada em seu rosto. Era engraçado vê-la assim, parecia tão diferente da garota que havia chorado há pouco. Eu queria ser assim — conseguir separar as emoções, seguir em frente.
Ela levou as mãos ao rosto, exclamando: — Você já parou pra pensar que, se esse sonho for mesmo uma lembrança, é como se vocês estivessem destinados um ao outro? Ahhh, que lindo!
Eu gargalhei com o entusiasmo dela. — Sam, se controla, não existe destino quando se trata de coincidências. — respondi, tentando manter o tom mais cético, mesmo que, no fundo, uma parte de mim quisesse acreditar.
Ela me olhou com um sorriso travesso, ainda empolgada com a ideia. — Por que você é tão pessimista quando se trata de Lucien?
Tentei encontrar as palavras certas, mas o peso da dúvida me impediu de falar mais. — Somos incompatíveis... — eu disse, mas logo percebi que a palavra não bastava. Tentei continuar, mas nada mais veio à mente. — É isso, somos incompatíveis. — repeti, mais para mim mesma do que para ela.
Aquela palavra parecia ecoar na minha cabeça, mas, ao mesmo tempo, o pensamento de Lucien surgiu de novo, vívido e intenso. Me lembrei daquele momento, na cama, e um calor de vergonha tomou conta de mim. Eu me encolhi ligeiramente, tentando afastar a lembrança.
Samantha, como se não percebesse minha reação, seguiu com um tom confiante: — Vocês dois têm mais coisas em comum do que você imagina. Só você que não percebe. Talvez o seu verdadeiro amor esteja bem debaixo do seu nariz, e você nem se toca.
Ah, Samantha... Se você soubesse. Se você imaginasse o que me espera, jamais tentaria me empurrar para alguém. Eu sei que uma hora ou outra vou ter que partir, e não posso me dar ao luxo de tentar conhecer outra pessoa. Não seria justo com ela... nem comigo.
Eu nem sei se conseguiria me relacionar com alguém que não fosse o Nicholas. Parte de mim sabia que deveria tentar esquecer, seguir em frente, mas a ideia de me envolver com outra pessoa me parecia um erro. Se eu tentasse, com certeza as coisas só piorariam, e não era isso que eu queria. Mas, se eu fosse sincera, ninguém se interessava por mim de verdade.
A única pessoa que demonstrou interesse, naquela única noite, jamais me procurou depois. E, sinceramente, eu também não faria isso. Eu sabia que não havia motivo para correr atrás de algo que não tinha futuro.
Quanto ao Nicholas, era mais fácil aceitar que aquele homem não era o mesmo que conheci em uma sinaleira. Eu preferia acreditar que ele era apenas alguém com a mesma aparência, mas sem a mesma essência. Era mais seguro assim, mais suportável.
— Como você é chata — eu reclamei, sem conseguir esconder o sorriso que escapava.
Samantha soltou uma risada leve e brincalhona. — Sou chata, mas você me ama — disse ela, com um sorriso que iluminava o rosto dela. Eu sorri de volta, acompanhando o riso.

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