4. O que eu quero e o que eu nunca vou ter

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_ Posso levar isso?_ Jack perguntou a Castiel, enquanto o anjo empurrava o carrinho de compras pelo corredor de cereais e biscoitos num dos supermercados que costumavam frequentar em Lebanon. O garoto segurava uma caixa de Krunch Cookie Crunch.

_ Sam já não disse que isso estraga seus dentes?_ Cas questionou, mas estava prestando atenção no que estava escrito na parte de trás de uma embalagem de um biscoito integral, que Sam havia pedido pra comprar.

_ Eu sei, mas o que tem no Bunker já tá acabando.

_ Se você continuar comendo escondido de madrugada, vai acabar logo mesmo_ Cas disse, mas deu um pequeno sorriso_ Pode levar, mas provavelmente Sam vai te fazer comer mais vegetais pra compensar.

Jack fez uma careta. Ele odiava vegetais. Não se importava de comer alface se estivesse dentro de um hambúrguer, mas tirando isso, ele odiava. Mas sabia que não tinha como escapar daquilo.

Era a primeira vez que ele ia ao supermercado desde que voltara dos mortos. Geralmente eles se revesavam, e essa era a vez dele e de Cas. Era bom sair um pouco do Bunker, ver gente. Mas a verdade é que Jack estava tenso. O supermercado era a apenas alguns metros de distância da mercearia onde Stacy trabalhava. E ele não queria encontrar com ela, não depois de a ter esfaqueado acidentalmente quase um ano atrás. Nem com ela, nem com Elliot, nem com Max. Os três provavelmente o achavam uma aberração, um monstro. E Jack não podia culpá-los. Lhe ocorreu momentaneamente que nunca havia contado nada disso aos pais. Se eles soubessem, talvez voltassem a vê-lo de maneira diferente. Mas se ele não contasse, aquilo diria muito sobre ele. Decidiu que contaria, só precisava estar pronto.

_ Acha que Sam aprovaria isso?_ Cas perguntou, mostrando para ele o pacote de biscoito que segurava_ Diz que é integral, mas pela ilustração na embalagem, não parece bom.

_ Se é ruim, então o Sam vai gostar_ Jack falou, pegando o pacote da mão de Castiel e o jogando no carrinho. Ele nunca entenderia o gosto de Sam por coisas integrais. Era tudo tão sem graça_ Já podemos ir?

_ Não, ainda não pegamos a cerveja.

Jack se lembrou que quando eles fizeram a lista de compras, Dean sublinhou cerveja três vezes. Ele achava engraçado que Dean sempre quisesse enfatizar o quanto achava aquilo necessário.

Para Jack, era bom pensar em Dean sem medo de que ele o odiasse. Alguns dias se passaram desde que Dean foi ao seu quarto conversar e os dois conseguiram se entender. Eles eram pai e filho novamente. Jack se sentia aliviado de perceber que ele ainda era amado por aqueles três homens que se esforçavam tanto para criá-lo. Seria difícil ter que dar adeus. Se sentiu repentinamente triste com o pensamento.

_ Você está bem?_ Castiel perguntou.

_ Sim. Só estou com fome_ mentiu.

_ Dean deve estar preparando o almoço agora. Vamos pegar a cerveja_ eles empurraram o carrinho na direção do corredor de cerveja e escolheram a preferida de Dean. Depois de colocar duas caixas no carrinho, Cas olhou para Jack_ Eu sempre estou aqui se você precisar conversar.

_ Obrigado, Cas. Mas eu estou bem.

_ Às vezes acho que você está escondendo alguma coisa_ Cas o encarou desconfiado e Jack engoliu em seco_ Tem mais alguma coisa do plano de Billie contra Chuck, que você deva nos contar?

"Só que eu vou morrer", Jack pensou.

_ Não. Vocês já sabem tudo... Esquecemos de comprar berinjela_ ele disse repentinamente, então empurrou o carrinho de volta pro "inferno verde", como dizia Dean, se referindo a sessão de vegetais.

Cas o seguiu sem dizer nada, mas estava alerta. Alguma coisa estava errada com Jack, ele sabia. Ele conhecia o filho muito bem, para simplesmente não perceber que alguma coisa o estava deixando agoniado. Talvez Sam e Dean, tenham achado que o fato do garoto estar focado em fazer tantas coisas ao mesmo tempo, fosse um sinal de querer estar sempre ativo ou de querer conhecimento. Mas Cas vinha observando Jack muito atentamente nas últimas semanas e o comportamento ansioso do garoto não lhe passou despercebido. Também não lhe passou despercebido que o menino ia dormir muitas vezes com o dia quase amanhecendo. Às vezes nas suas andanças de madrugada pelo Bunker, ele via uma pequena luz saindo pelas frestas do quarto de Jack, assim como teve a impressão de já o ouvir chorando algumas vezes.

Bem-Vindos ao FimOnde histórias criam vida. Descubra agora