Quando Victor estacionou o carro na frente da casa de sua tia Helena, o temporal estava em seu ápice. A rua de terra estava cheia de lama, e era impossível sair do carro sem molhar as botas. Ficou lá por alguns instantes; foi quando decidiu sair que percebeu que esquecera o guarda chuva em sua casa.
Maldição, pensou Victor.
Pegou somente as chaves do carro e saiu. Tentando evitar as poças, ele correu por todo o trajeto até a varanda da casa. Agora seus cabelos estavam molhados e sua roupa encharcada.
Não precisou bater na porta, assim que chegou na varanda alguém abriu.
Já fazia quase um ano que não via sua tia. Quando a viu parada na porta, ela veio em sua direção e o abraçou. Não havia mudado nada desde a última vez; continuava com a mesma expressão de cansaço e rugas perto dos olhos.
— Victor, meu sobrinho. — disse sua tia Helena.
— Faz um tempo que não a vejo, tia. Você está ótima.
Ela pareceu gostar do elogio, pois seu sorriso tímido a denunciou.
Ela o convidou a entrar, e ele hesitou devido as botas molhadas mas ela não pareceu ligar. Ele tirou seu casaco e colocou no cabide.
Helena era uma de suas únicas parentes. Com exceção de alguns primos distantes e de um certo alguém. Ela vivia sozinha com dois filhos naquela casa, mas ela quase não os via, já que um deles trabalhava fora a semana inteira. Ela também tinha uma filha mais nova, mas a mesma vivia saindo de casa. Helena sempre parecia estar cansada. Talvez fosse efeito da solidão de viver praticamente sozinha e sem parentes.
— Deveria ter ligado avisando que viria, eu teria preparado algo.
— Sim eu sei. Por isso não quis avisar.
Ela sorriu.
— Bom, a que devo a honra de sua visita, meu amado Victor?
Ele hesitou antes de dizer. Por fim falou:
— Eu vim vê-lo.
O sorriso desapareceu do rosto de sua tia e um piscar de olhos. Ela o olhou perplexa por alguns instantes sem palavras. Algo que ele já sabia que aconteceria, e qualquer um no lugar dela ficaria do mesmo jeito. Então ela disse:
— Porque você iria querer vê-lo?
— Não é que eu queira.
— Tem haver com aquele seu livro?
— Sim. Eu sou escritor, tia. As vezes temos que ir fundo para compreender as coisas. Minha história depende disso.
— Mas... Porque ele? Aquele maldito merece apodrecer sem ver mais ninguém de sua família.
Victor procurou não falar mais nada até ela se acalmar.
A pessoa na qual ele estavam falando se chamava Joseph Kurry. E ele não é ninguém além de seu avô. Sim, o avô, na qual todos odiavam. O motivo dos comentários da Helena? Bom, Joseph não é o tipo de pessoa que se admira. Morou com sua avó por muito tempo, teve dois filhos na qual o mais novo era seu pai. Tinha boas lembranças da infância envolvendo seu avô Joseph e sua avó. Eles eram um casal de velhos bem simpáticos. Bom, até aquela noite.
Ninguém sabe exatamente como aconteceu, e mil histórias diferentes foram contadas, mas a única certeza é que Joseph matou a esposa. Ele a empurrou da escada e ela morreu instantaneamente. Obviamente foi preso, mas foi considerado muito idoso para ir para uma cadeia, então ele vive em prisão domiciliar em uma casa distante em um sítio. E era para lá que Victor pretendia ir.
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Romances Indignos
Short StoryRomances Indignos é um livro composto por sete contos. Casa conto narra a história de um relacionamento amoroso que ocorre em diferentes períodos da história, onde cada relacionamento termina de forma trágica e misteriosa.