4. TEMOS UMA EQUIPE DE RESGATE

452 57 8
                                    


- Você acha que a Carolyn acreditou naquela história? – disse Eve.

- É óbvio que não, ela só está ganhando tempo para descobrir mais coisas – respondeu V. – Konstantin parece estar metido nisso até o pescoço, deve ser por isso que ele também quer sair.

- Também?

- Eu não quero mais fazer isso, Eve. – a voz de Villanelle soou um pouco trêmula.

- Eu matei tanta gente.

- Eu sei.

- Você me acha um monstro?

Ao dizer isso Villanelle se levantou do sofá e ficou de costas para Eve.

- Você é tantas coisas, Villanelle.

- Isso não responde a minha pergunta.

Eve se levanta posicionando-se em frente à russa, ao mesmo tempo em que toca uma de suas mãos, acariciando os dedos.

- Acho que todos temos monstros dentro de nós. – admite Eve – É que a maioria consegue escondê-los.

- Eu não consigo. – murmura Villanelle.

- Eu também não.

Dito isso, as duas permanecem ali, em pé, afastadas por alguns centímetros, até que Eve interrompeu:

- Eu não consigo parar de pensar em nós ontem.

- Você se arrependeu? – indagou a loira.

- Não. E você, se arrependeu? – retrucou Eve.

- Não mesmo.

Os poucos centímetros de distância entre elas foram desaparecendo gradualmente. Villanelle passou as mãos por trás da cintura de Eve e puxou-a para perto, roçando o corpo no corpo dela, e então as bocas se encontraram. A russa entreabriu os lábios dando passagem à língua de Eve e elas brincaram nessa dança por um tempo até chegarem ao quarto, tropeçando entre um móvel e outro. Porém, diferente do escritório, foram impedidas de continuar. Alguém batia à porta impacientemente.

Villanelle cogitou a possibilidade de esfaquear quem quer que tivesse atrapalhado aquele momento, mas cedeu indo até a entrada verificar quem era.

- Eu gosto de você, Carolyn. Mas não gosto tanto assim. – a loira falou apressadamente enquanto abria à porta.

- Pegaram Konstantin. – respondeu Carolyn.

Eve sai do quarto ao ouvir a conversa. Ela está terrivelmente descabelada e com alguns botões de sua camisa abertos. Villanelle ri com o canto dos lábios ao mesmo tempo que Carolyn revira os olhos e diz:

- Achou o que você estava procurando, Eve?

A agente fica um pouco sem graça, prende os cabelos num coque e abotoa a camisa.

Carolyn dá de ombros e continua a falar:

- Konstantin e eu fomos a um bar aqui perto, mas ele precisou sair às pressas após uma ligação. Cerca de 10 minutos depois um garçom me entregou um pedaço de papel - disse ela mostrando o que estava escrito:

Grampearam nossos telefones, diga a Villanelle que fomos descobertos.

- O que isso significa, Villanelle? – pergunta Carolyn.

A loira ficou em silêncio por um instante, parecia estar à procura das palavras certas.

- Konstantin e eu estamos abandonando a organização dos Doze, porém, nós sabemos que a única maneira de fazermos isso é desaparecendo do mapa. Vamos embora para Cuba no final do mês, ou melhor, íamos.

Villanelle era péssima em entender o que as pessoas estavam sentindo, aliás empatia era uma palavra que ela só conhecia o som, a grafia e a origem. Durante a faculdade a loira estudara o termo, originado do grego empatheia, que significa paixão, e que em russo era expresso por Cопереживание (leia-se /soperezhivaniye/), capacidade de um indivíduo se colocar no lugar do outro, habilidade de experimentar reações emocionais por meio da observação da experiência alheia. Traduzindo, tudo que Villanelle não tinha. Mas ela estava se esforçando de verdade para compreender a expressão de Eve depois do que a loira havia acabado de dizer, e decifrá-la não era nada fácil. Não tinha tempo para isso. Villanelle fez uma nota mental, junto às outras dezenas de coisas que tinha deixado para resolver depois, em outro momento conversaria com Eve.

- Para onde você acha que eles levaram Konstantin? prosseguiu Villanelle.

- Se ele estiver vivo, acredito que é possível rastreá-lo pelo celular. – respondeu Carolyn.

Eve aproveitou a oportunidade, pegou o próprio telefone e ligou para Bear:

- Em quanto tempo você consegue localizar o paradeiro de uma pessoa através do número de telefone? – disse ela na ligação – Ahn? 20 minutos? Ok. Te enviarei o número por mensagem.

- Ok. Enquanto Bear procura pela localização eu irei até o apartamento de Konstantin, quem sabe não descubro mais alguma informação a respeito disso. – Villanelle complementou.

- Vamos com você! – as outras duas disseram ao mesmo tempo.

***

O apartamento de Konstantin era organizado como um maisonette, dois andares, teto alto e boa iluminação, mas apesar da estrutura moderna, o que mais chamava à atenção era o rastro de sangue no chão da sala. O cômodo estava destruído, havia cacos de vidro por todos os lados, as cadeiras e mesas estavam reviradas, assim como as gavetas de uma escrivaninha. Era o caos.

Eve ficou assustada, Carolyn não esboçou nenhuma reação e Villanelle, como sempre, agiu como um gatinho curioso fuçando e derrubando tudo. O resultado final daria no mesmo, a constatação de que o velho teria sido raptado e provavelmente estava ferido. Konstantin não era estúpido, obviamente não existiriam documentos importantes na casa dele, e não era isso que elas estavam procurando.

Villanelle passou os olhos pelo apartamento mais uma vez e reconheceu algumas pessoas em uma fotografia. Pegou o retrato, retirou a foto e guardou-a no bolso. Ao mesmo tempo, o celular de Eve tocou, era Bear, ele tinha lozalizado Konstantin.

***

Cerca de 2 horas depois, no apartamento de Villanelle, os quatro estavam reunidos: Bear, Eve, Carolyn e Villanelle. Era engraçado como aquele lugar tinha se tornado um ponto de referência/ sala de reunião/ casa de acolhimento de visitas estranhas, isso era novidade para a loira, receber tantas pessoas em casa. Ela não tinha nenhum amigo e suas companhias se limitavam a três categorias: 1. Konstantin ou Dasha, que eram o elo entre ela e os Doze; 2. Mulheres e/ou homens que ela usava para sexo e 3. Eve.

Ter a "casa cheia" dava uma sensação de pertencimento, algo que Villanelle vivenciou pouquíssimas vezes durante a vida. Por esse motivo tinha sugerido que eles se reunissem lá.

- Ele está numa residência que fica na Floresta de Dean, localizada no condado de Gloucestershir, a mais ou menos 3 horas de distância de Londres – a voz de Bear interrompeu o pensamento de Villanelle e trouxe-a de volta para a conversa.

- Eu irei até lá e trarei Konstantin de volta – enfatizou a loira.

- Ir até lá sozinha é arriscado. Com certeza a casa está sendo monitorada pelos Doze. – disse Carolyn – Não é muito, mas eu consigo outra pessoa para ir com você, um atirador que trabalha comigo na organização.

- Eu também irei com vocês! – falou Eve. A coreana estava irritada, sentia-se excluída da conversa.

- Acho que essa não é uma boa ideia, Eve. – Villanelle falou em tom de zoação.

- Eu não estou pedindo sua autorização. – retrucou a morena.

- Certo. Temos uma equipe de resgate! – pronunciou Carolyn. – Há algumas horas atrás eu queria matá-lo, agora estou coordenando uma equipe para evitar que ele morra. Essa situação é uma piada pronta.

Bear riu.


Ocean EyesOnde histórias criam vida. Descubra agora