3. SENTEM-SE AÍ E FIQUEM QUIETAS

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Villanelle sentia-se como um vagão numa montanha russa, estar com Eve era como conduzir a locomotiva até o topo, agarrar às mãos nas beiradas do carro e sentir a queda, o looping, com direito a frio na barriga, mãos suadas e coração disparado. A descarga de adrenalina era incrível, queria ir de novo e de novo, mas tinha que respeitar Eve, a coreana precisava de tempo para digerir as coisas, ambas sabiam disso.

Então, quando o celular de Eve começou a tocar, Villanelle já sabia como a morena iria escapulir daquela situação.

- Bear descobriu uma coisa importante. Desculpa, eu preciso ir.

- Você está bem, Eve?

A resposta veio diferente. Eve apoiou uma das mãos no rosto da loira, acariciando levemente a bochecha com o polegar, e então encostou os lábios outra vez nos lábios de Villanelle dando-lhe um selinho, depois recolheu a blusa de frio que estava no chão, vestiu rapidamente e saiu.

***

Era noite. Não fazia ideia de como tinha caminhado até seu apartamento, mas chegara lá. Estava um pouco anestesiada, haviam tantas sensações novas que os neurotransmissores ainda não conseguiam reconhecê-las. Seu corpo cheirava a Eve, seus dedos, sua boca, era tudo Eve. Queria se embriagar daquele perfume por horas, porém, precisava tomar banho, aquietar o corpo e os pensamentos.

Villanelle preparou a banheira com água morna e algumas gotas de lavanda, era o suficiente. Deitada na banheira ela repassou tantas vezes a imagem de Eve que, em determinado momento, acabou cochilando.

***

Em outro canto da cidade estava Eve. Ela e Bear assistiam a uma gravação pela terceira vez. Bear havia instalado uma câmera no escritório para descobrir quem estava roubando suas gomas de gelatina. Ok, a ideia era ridícula, mas a câmera conseguiu capturar imagens do dia em que Kenny morreu.

A morte de Kenny ainda mexia muito com Eve, eles eram amigos. Por isso, descobrir que Konstantin tinha se encontrado com o jovem poucos minutos antes dele morrer deixou a coreana assustada, principalmente porque o velho havia omitido aquela informação. Essa era uma notícia que ela deveria contar pessoalmente a Carolyn. Iriam até a casa dela pela manhã.

Eve estava exausta, tanta coisa aconteceu naquele dia. O escritório fora confiscado pela polícia, e além dos móveis, levaram também documentos importantes. No mesmo escritório, horas depois, ela tinha chutado o balde e transado com Villanelle, e por último, mas não menos complicado, ela acabara de descobrir o possível responsável pela morte de seu amigo. Que dia!

Depois de um banho demorado, acompanhado de uma taça de vinho, Eve vestiu o primeiro moletom limpo que enxergou pela frente e se deitou na cama vazia e espaçosa. Só agora ela tinha percebido o quanto lhe sobrava espaço na cama. Lembrou-se do sofá de tamanho reduzido em que estivera com Villanelle, aquele móvel, por menor que fosse, parecia mais confortável do que onde ela estava agora. Pegou um travesseiro, um cobertor e desceu às escadas rumo ao sofá da sala.

Acordou assustada com a campanhia. Era Bear e esta não era a primeira vez que ele encontrava Eve dormindo na sala, tampouco seria a última. Também não era a primeira vez que ele trouxera café e uma caixa de cereal matinal, sabia que Eve nunca tomava café porquê ela estava sempre atrasada. A agente usou o atraso como desculpa para se arrumar apressadamente e de qualquer jeito, mas pelo menos estava com os cabelos soltos.

- Tudo certo. Vamos! – disse Eve enquanto pegava o café e o pacote de cereal das mãos de Bear.

***

Carolyn continuou sustentando uma expressão fria e inabalável, mesmo depois de assistir ao vídeo. Eve e Bear aguardavam em silêncio, eles sabiam que Carolyn não deixaria transparecer qualquer raiva ou decepção.

- O que você pretende fazer? – perguntou Eve.

- Eu quero matá-lo – respondeu Carolyn enquanto bebia um gole de vodka – Mas antes preciso conversar com ele e descobrir o que existe por trás disso.

- Você sabe onde podemos encontrá-lo? – continuou Eve.

- Assim como eu, você sabe exatamente onde ele deve estar. – pronunciou Carolyn.

E Eve sabia, Konstantin estaria no apartamento de Villanelle.

Se despediram de Bear e foram ao encontro de Konstantin. Saber que elas estavam indo até lá deixou a coreana super nervosa. Após o ocorrido, Eve e V. não haviam se visto, nem se falado, o que justificava a expressão de surpresa com que Villanelle abrira a porta. Os olhos de Carolyn estavam furiosos e ela adentrou, sem convite, o apartamento à procura de Konstantin, enquanto Eve permaneceu na porta.

- Oi, Eve. – disse Villanelle com um leve sorriso.

- Oi, Villanelle. – respondeu a coreana sentindo as bochechas corarem.

- Será que não é melhor você entrar antes que os dois se matem lá dentro? – continuou V. enquanto apontava em direção à cozinha. – Eu queria assistir

Eve riu. Aquele era um tipo de piada que só as duas entenderiam. Villanelle tinha toda razão, quando elas chegaram à cozinha Carolyn estava visivelmente nervosa segurando uma arma na mão, enquanto Konstantin estava sentado a sua frente.

- Sentem-se aí e fiquem quietas – enfatizou Carolyn apontando para um sofá que ficava entre a cozinha e a sala.

As duas se sentaram sem pestanejar. A cena era séria e ao mesmo tempo engraçada, tinha fugido um dia inteiro da loira e agora estavam lá, como duas crianças de castigo, uma roçando no joelho da outra. Eve queria virar o olhar e encará-la, mas conteve-se quando viu que Carolyn tinha se alterado um pouco mais.

- Por que você matou o meu filho, Konstantin? – disse Carolyn.

- Isso é ridículo. Eu não matei o Kenny. – retrucou Konstantin.

- Eu vi as imagens, você estava lá no escritório com ele, no mesmo dia em que ele morreu.

- Eu posso explicar. Naquele dia eu tinha ido conversar com ele, pois ultimamente Kenny tinha se aproximado muito dos Doze. Então eu pedi que ele tomasse cuidado, já que estava sendo vigiado por eles. Mas foi apenas isso, eu terminei a conversa e fui embora.

- Como eu posso acreditar em você? –

- Você precisa acreditar. Eu não seria capaz de fazer isso com alguém que eu amo. –

Carolyn riu. Sabia que aquela frase não era de tudo verdade, mas também sabia que não era de tudo mentira. Ela e Konstantin tinham uma história juntos. A incerteza fez com que ela abaixasse a arma e a colocasse sobre a bancada.

- Estou indo tomar um drinque. Você me acompanha? – Carolyn perguntou a Konstantin.

- Com certeza. – respondeu Konstantin.

Os dois pegaram os casacos e saíram do apartamento como se nada tivesse acontecido.

Logo, as duas crianças sairiam do castigo mais cedo. 

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